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sábado, 5 de março de 2016

Homilia: IV Domingo da Quaresma - Ano C

Santo Agostinho
Comentário ao Salmo 138
“Afastei-me muito e tu estavas aqui”

De longe penetras meus pensamentos; conheces meu caminho e meu descanso, todos os meus caminhos te são familiares. O que significa “de longe”? Enquanto ainda estou no caminho, antes de chegar à pátria, tu penetras meus pensamentos. Acolhe aquele filho mais novo, pois também ele se tornou corpo de Cristo, Igreja procedente da gentilidade. E o filho mais novo tinha emigrado para um país distante. Porque havia um homem que tinha dois filhos: o mais velho não tinha se distanciado, pois trabalhava no campo, e simbolizava os santos que, no tempo da Lei, cumpriam suas obras e seus preceitos.
Por outro lado, o gênero humano, que havia se rebaixado ao culto dos ídolos, tinha emigrado para um país distante. O que mais longínquo daquele que te fez, do que a forma que tu mesmo te fizeste? Assim, o filho mais novo emigrou a um país distante, levando consigo toda a sua fortuna e - conforme nos informa o Evangelho - a desperdiçou vivendo dissolutamente. E começando a passar necessidade, foi e arranjou-se com um homem importante daquela região, e que o mandou cuidar dos porcos. Tinha desejo de saciar sua fome com a comida dos porcos, e ninguém lhe dava de comer.
Depois de tanto trabalho, penúria, tribulação e necessidade, lembrou-se de seu pai e decidiu voltar para casa. Pensou: voltarei para meu pai. Agora, reconhece a sua voz que disse: sabes quando me sento ou me levanto. Sentei-me na indigência, levantei-me pelo desejo de teu pão. De longe penetras meus pensamentos: por isso o Senhor disse no Evangelho que o pai pôs-se a correr ao encontro do filho que regressava. Realmente, como de longe tinha penetrado em seus pensamentos, conheces meu caminho e meu descanso. Meu caminho, diz. Qual caminho, a não ser o mau, o qual tinha percorrido afastando-se do pai, como se pudesse ocultar-se aos olhos do vingador, ou como se pudesse ser humilhado por aquela extrema necessidade ou ser combinado que cuidaria dos porcos, sem a vontade do pai que queria castigá-lo ao longe, para recebê-lo em seguida?
Desta forma, como um fugitivo capturado, perseguido pela legítima vingança de Deus que nos castiga em nossos afetos, em qualquer lugar que formos e em qualquer lugar que tivéssemos chegado; como um fugitivo capturado, - novamente repito - diz: Conheces meu caminho e meu descanso. Aquela minha meta distante não era longínqua aos teus olhos: Afastei-me muito, e tu estavas aqui. Conheces meu caminho e meu descanso.
Todos os meus caminhos te são familiares. Conhecia-os antes que por eles eu andasse, antes que caminhasse por eles. Permitiste que eu os percorresse na fadiga, os meus próprios caminhos, para que, se em algum momento decidisse abandonar este caminho árduo, regressasse aos teus. Porque não há fraude em minha língua. Por que disse isto? Porque, confesso-te, andei por meus caminhos e me afastei de ti; separei-me de ti, como se estivesse indo bem, e o meu próprio bem foi um mal para mim sem ti. Pois se fosse bem sem ti, talvez não quisesse voltar a ti. Por isso, confessando estes seus pecados, declarando que o corpo de Cristo está justificado não por si mesmo, mas pela graça de Cristo, disse: Não há fraude em minha língua.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 569-571. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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