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sábado, 19 de março de 2016

Homilia: Domingo de Ramos - Ano C

 Santo Atanásio
Sobre a Encarnação do Verbo
Suas chagas nos curaram

Nos conta São João que Jesus tinha dito: Destruí este templo e em três dias o erguerei. Mas ele - observa o evangelista - falava do templo do seu corpo. E se é verdade que o Pai fez tudo por sua Palavra, por seu Filho, não é menos evidente que a ressurreição de sua carne a consumou por seu próprio Filho. Portanto, por meio dele o ressuscita e por meio dele lhe dá a vida. Enquanto homem é ressuscitado segundo a carne, e enquanto homem recebe a vida, quem agiu como um homem qualquer.
Mas ele é ainda quem, em sua qualidade de Deus, levanta o próprio templo e comunica a vida à sua própria carne. Enquanto por um lado nos diz: Por eles me consagro para que também eles se consagrem na verdade. E quando nos diz: Deus meu, Deus meu, por que me abandonastes?, fala como nosso representante, já que assumiu a condição de escravo, fazendo-se semelhante aos homens. E assim, encontrado com aspecto humano, se humilhou fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. E como disse Isaías: Ele suportou nossos sofrimentos e padeceu nossas dores.
Sendo assim, não foi vexado de dores por sua causa, mas pela nossa; nem foi abandonado por Deus, mas nós; e por nós, os abandonados, ele veio ao mundo. E quando diz: Por isso Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o nome que está acima de todo nome, fala do templo do seu corpo.
Realmente, não é o Altíssimo quem é exaltado, mas a carne do Altíssimo; e é para a carne do Altíssimo que se concedeu o nome que está acima de todo nome. E quando disse: o Espírito ainda não tinha sido dado, porque Jesus não havia sido glorificado, fala da carne de Cristo que ainda não estava glorificada. Pois não é o Senhor da glória que é glorificado, mas carne do Senhor da glória; esta recebeu a glória junto com ele quando subiu ao céu. Por isso, o espírito de adoção ainda não fora dado aos homens, porque as primícias que o Verbo tinha assumido da natureza humana ainda não haviam subido ao céu.
Portanto, quando a Escritura utiliza expressões tais como: o Filho recebeu, ou o Filho foi glorificado, referem-se à sua humanidade, não à sua divindade. Assim, enquanto alguns textos dizem: Aquele que não poupou ao seu próprio Filho, mas que o entregou à morte por nós, outros afirmam: Como Cristo amou a sua igreja e se entregou por ela.
Deus, que é imortal, não veio para salvar-se a si mesmo, mas para libertar-nos a nós que estávamos mortos; nem padeceu por si mesmo, mas por nós, e de tal forma ele assumiu nossa miséria e nossa pobreza, que foi com a finalidade de enriquecer-nos com a sua riqueza. Pois sua paixão é nossa alegria; sua sepultura, nossa ressurreição; e seu batismo, nossa santificação. De fato, ele afirma: Por eles me consagro, para que também eles se consagrem na verdade.  E seus sofrimentos são nossa salvação, porque suas chagas nos curaram. O castigo suportado por ele é a nossa paz, já que nosso salutar castigo recaiu sobre ele, isto é, foi castigado para merecermos a paz.
E quando na cruz exclama: Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito, encomenda ao Pai, nele mesmo, todos os homens que nele são vivificados. Somos realmente seus membros, e ainda que sejam muitos os membros, formamos um só corpo, que é a Igreja. É o que diz São Paulo escrevendo aos gálatas: Porque todos vós sois um só em Cristo Jesus. Desta forma, nele, nos encomenda a todos.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 578-579. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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