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sábado, 30 de janeiro de 2016

Homilia: IV Domingo do Tempo Comum - Ano C

Santo Ambrósio
Do Tratado sobre o Evangelho de Lucas
“Nenhum profeta é aceito em sua pátria”

Em verdade vos digo que nenhum profeta é aceito em sua pátria. A inveja nunca se manifesta moderadamente: esquecendo o amor, converte em ódios cruéis as causas do amor. Tu esperas em vão o bem da misericórdia celestial, se não queres os frutos da virtude nos outros; pois Deus despreza aos invejosos e retira as maravilhas de seu poder aos que maltratam noutros os benefícios divinos. Os atos do Senhor em sua carne são a expressão de sua divindade, e o que nele é invisível se revela a nós pelas coisas visíveis.
O Senhor se desculpa de não ter realizado milagres em sua pátria, para que ninguém pense que o amor á pátria deva ser pouco estimado por nós. Ele, amando a todos os homens, não podia deixar de amar aos seus compatriotas. Porém, foram eles os que, por inveja, renunciaram ao amor de sua pátria. Realmente, o amor não é invejoso, nem orgulhoso. Contudo, este país não é privado dos benefícios de Deus. De fato, qual milagre maior ocorreu nela além do nascimento de Cristo? Veja, então, quais os danos que o ódio causa: por causa dele a pátria é julgada indigna, na qual ele poderia agir como cidadão, depois de ter sido achada digna de vê-lo nascer no seu seio como Filho de Deus...
Ao ouvir estas palavras, todos os que estavam na sinagoga se enfureceram e, levantando-se, o levaram para fora da cidade... Quando Jesus distribuía seus benefícios entre os homens, eles o enchiam de injúrias. Não é surpreendente que, tendo eles perdido a salvação, quisessem desterrar de seu território o Salvador. O Senhor modera-se em sua conduta: com seu exemplo ensinou aos apóstolos ser tudo para todos: não despreza aos de boa vontade nem constrange os recalcitrantes; quando é expulso não resiste, nem está ausente de quem o invoca. Da mesma forma, em outra ocasião, aos gerasenos, não podendo suportar os seus milagres, os deixa como enfermos e ingratos.
Entende ao mesmo tempo em que sua paixão em seu corpo não foi imposta, mas voluntária; não foi aprisionado pelos judeus, mas livremente se ofereceu. Quando quer é preso; quando quer, cai; quando quer, é crucificado; quando quer, ninguém o retém. Nesta ocasião subiu ao alto da montanha para ser precipitado; porém desceu no meio deles, e aqueles espíritos furiosos mudaram repentinamente, ficando estupefatos, porque ainda não tinha chegado a hora de sua paixão.
Ele queria mais salvar aos judeus do que perdê-los, a fim de que o resultado ineficaz de seu furor os fizesse renunciar a querer o que não podiam realizar. Observa, portanto, que aqui ele opera por sua divindade e ali se entrega voluntariamente. De fato, como pode ser preso por um punhado de homens se antes uma multidão não pode fazê-lo? Porém, ele não quis que o sacrilégio fosse obra de muitos, para que o ódio da cruz recaísse sobre alguns: foi crucificado por alguns, mas morreu por todo o mundo.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, p. 627-629. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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