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sábado, 16 de janeiro de 2016

Homilia: II Domingo do Tempo Comum - Ano C

São Romanos, o Melode
Hino sobre as Bodas de Caná

Queremos narrar agora o primeiro milagre realizado em Caná por aquele que outrora tinha demonstrado o poder de seus prodígios aos egípcios e aos hebreus. Naquela ocasião, a natureza das águas foi mudada milagrosamente em sangue. Ele tinha castigado os egípcios com a maldição das dez pragas e tinha tornado o mar inofensivo aos hebreus, a tal ponto que o atravessaram como em terra firme. No deserto, lhes proveu da água que prodigiosamente manou da rocha. Hoje, durante a festa das bodas, realiza uma nova transformação da natureza, aquele que tudo cumpriu com sabedoria.
Enquanto Cristo participa das bodas e a multidão dos convidados banqueteava, faltou o vinho e a alegria pareceu mudar-se em melancolia. E o esposo estava envergonhado, os servidores murmuravam e aflorava em todas as partes o descontentamento por tal escassez, erguendo-se o tumulto na sala. Frente a tal espetáculo, Maria, a plenamente pura, mandou advertir apressadamente ao seu Filho: “Não têm mais vinho. Filhinho, eu te peço, demonstra o teu poder absoluto, tu, que tudo cumpriste com sabedoria...” Cristo, respondendo à mãe que lhe dizia “concede-me esta graça”, contestou prontamente: “Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou”.
Alguns procuraram entrever nestas palavras um significado qu justifique sua impiedade. São aqueles que sustentam a submissão de Cristo às leis naturais, ou o consideram, até mesmo a ele, vinculado às horas. Mas isto é porque não compreendem o significado da palavra. A boca dos ímpios, que meditam o mal, é obrigada a silenciar pelo milagre imediatamente realizado por aquele que tudo cumpriu com sabedoria.
“Meu filho, responde agora”, disse a Mãe a Jesus, a plenamente pura, “Tu que impões às horas o freio da medida, como podes esperar a hora, meu Filho e meu Senhor? Como podes esperar o tempo, se tu mesmo estabeleceste a carreira dos anos em seus ciclos perfeitamente regulados: como podes esperar o tempo propício para o prodígio que te peço, tu que cumpriste tudo com sabedoria?”
“Antes que tu notasses, Virgem venerada, eu já sabia que faltava o vinho”, respondeu, então, o Inefável, o Misericordioso, à Mãe veneradíssima. “Conheço todos os pensamentos que habitam em teu coração. Refletis-te no teu interior: ‘A necessidade incitará, agora, o meu Filho ao milagre, porém, com a desculpa de que as horas o esão atrasando’. Ó Mãe pura, aprende agora o motivo do atraso, e quando o tenhas compreendido, certamente te concederei esta graça, eu que tudo cumpri com sabedoria”.
“Eleva teu espírito à altura de minhas palavras e compreende, ó incorrupta, o que estou para pronunciar. No mesmo instante em que do nada criava o céu, a terra e a totalidade do universo, podia instantaneamente a ordem em tudo o que eu estava formando. Contudo, estabeleci certa ordem bem subdividida; a criação feita em seis dias. E certamente não porque me faltasse o poder de realizar, mas para que o coro dos anjos, ao comprovar que fazia cada coisa ao seu tempo, pudesse reconhecer em mim a divindade, celebrando-a com o seguinte canto: ‘Glória a ti, Rei poderoso, que cumpriste tudo com sabedoria’”.
“Escuta bem isso, ó santa: Eu poderia resgatar de outra maneira aos caídos, sem assumir a condição de pobre e de escravo. Aceitei, contudo, minha concepção, meu nascimento como homem, o leite de seu seio, ó Virgem, e assim tudo cresceu em mim segundo a ordem, porque em mim nada existe que não seja deste modo. Com a mesma ordem quero agora realizar o milagre, ao qual consinto pela salvação do homem, eu que tudo cumpri com sabedoria”.
“Entende o que estou dizendo, ó santa; quis começar pelo anúncio aos israelitas, por ensinar-lhes a esperança da fé, para que, antes dos milagres, saibam quem ordenou e conheçam com certeza a glória de meu Pai e sua vontade, já que ele quer firmemente que eu seja glorificado por todos. Realmente, quanto realiza aquele que me gerou, eu também posso realizá-lo, por ser consubstancial a Ele e ao Espírito, eu que tudo cumpri com sabedoria”.
“Se somente houvesse manifestado isso nos prodígios admiráveis, eles teriam compreendido que sou Deus desde antes de todos os séculos, mesmo que me tenha feito homem. Mas agora, contrariamente à ordem e até mesmo antes da pregação, tu me pedes prodígios. Eis aqui o porquê de meu delongo. Pedia-te que esperasse a hora de realizar milagres, por este único motivo. Mas como os pais devem ser honrados pelos filhos, terei consideração para contigo, ó Mãe, visto que tudo posso fazê-lo, eu que tudo cumpri com sabedoria”.
“Diz, pois, aos habitantes da casa que se coloquem a meu serviço seguindo as ordens: que eles em breve serão, para si mesmos e para os demais, as testemunhas do prodígio. Não quero que seja Pedro o que me sirva, nem tampouco João, nem André, nem nenhum dos apóstolos, por temor que depois, por sua causa, surja entre os homens a suspeita de fraude. Quero que sejam os próprios criados que me sirvam, porque eles mesmos se converterão em testemunhas daquilo que me é possível, a mim que tudo cumpri com sabedoria”.
Dócil a estas palavras, a Mãe de Cristo se apressou a dizer aos servidores das bodas: “Fazei o que ele vos disser”. Havia na casa seis talhas, como nos ensina a Escritura. Cristo ordena aos servidores: “Enchei-as de água”. E prontamente foi feito. Encheram de água fresca as talhas e ali permaneceram, esperando o que tentava fazer aquele que tudo cumpriu com sabedoria.
Agora, quero referir-me às talhas e descrever como foram enchidas por aquele vinho, que procedia da água. Como está escrito, o Mestre tinha dito em alta voz aos servidores: “Tirai este vinho que não provém da vindima, o ofereça aos convidados, enchei as taças vazias, para que todo mundo o desfrute e também o próprio esposo; porque a todos dei a alegria de forma imprevista, eu que tudo cumpri com sabedoria”.
Sendo que Cristo mudou publicamente a água em vinho graças ao seu próprio poder, todo mundo se encheu de alegria considerando muito agradável o sabor daquele vinho. Hoje podemos sentar-nos ao banquete da Igreja, porque o vinho se transformou no sangue de Cristo, e nós o assumimos em santa alegria, glorificando ao grande Esposo. Porque o autêntico Esposo é o Filho de Maria, o Verbo que existe desde a eternidade, que assumiu a condição de escravo e que tudo cumpriu com sabedoria.
Altíssimo, Santo, Salvador de todos, mantém inalterado o vinho que existe em nós, tu que presides todas as coisas. Precipita daqui aos que pensam mal e, em sua perversidade, adulteram com a água teu vinho santíssimo: porque diluindo sempre teu dogma em água, condenam-se a si mesmos ao fogo do inferno. Porém, preserva-nos, ó Imaculado, dos lamentos que seguirão ao teu juízo, tu que és misericordioso, pelas orações da Santa Virgem Mãe de Deus, tu que tudo cumpriste com sabedoria.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 619-622. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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