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sábado, 26 de maio de 2012

Os símbolos do Espírito Santo

O Catecismo da Igreja Católica, promulgado por São João Paulo II (†2005) em outubro de 1992, após um breve prólogo (nn. 1-25), está dividido em quatro partes: a profissão da fé (nn. 26-1065), a celebração do mistério cristão (nn. 1066-1690), a vida em Cristo (nn. 1691-2557) e a oração cristã (nn. 2558-2865).

Na primeira parte, a seção dedicada à profissão de fé propriamente dita, isto é, ao Creio, está estruturada em três capítulos, conforme as três Pessoas da Santíssima Trindade: o Pai (nn. 199-421), o Filho (nn. 422-682) e o Espírito Santo (nn. 683-1065).

No início desse terceiro capítulo há uma série de parágrafos (nn. 694-701) que apresentam oito símbolos do Espírito Santo, alguns dos quais, com efeito, estão diretamente ligados aos sinais sacramentais (como a água ou o óleo) e estão presentes nos textos litúrgicos (leituras, orações, hinos...) e na arte sacra:

Catecismo da Igreja Católica
Os símbolos do Espírito Santo

694. A água

O simbolismo da água é significativo da ação do Espírito Santo no Batismo, pois após a invocação do Espírito Santo ela se torna o sinal sacramental eficaz do novo nascimento: assim como a gestação de nosso primeiro nascimento se operou na água, da mesma forma também a água batismal significa realmente que nosso nascimento para a vida divina nos é dado no Espírito Santo. Mas, “batizados em um só Espírito”, também “bebemos de um só Espírito” (1Cor 12,13): o Espírito é, pois, também pessoalmente a água viva que jorra de Cristo Crucificado (cf. Jo 19,34; 1Jo 5,8) como de sua fonte e que em nós jorra em vida eterna (cf. Jo 4,10-14; 7,38: Ex 17,1-6; Is 55,1; Zc 14,8; 1Cor 10,4; Ap 21,6; 22,17).

O Espírito como "água viva"
(Batistério do Santuário Nacional de Aparecida)

695. A unção

O simbolismo da unção com óleo também é significativo do Espírito Santo, a ponto de tornar-se sinônimo dele (cf. 1Jo 2,20.27; 2Cor 1,21). Na Iniciação Cristã, ela é o sinal sacramental da Confirmação, chamada com acerto nas Igrejas do Oriente de “crismação”. Mas, para perceber toda a força deste simbolismo, há que retornar à unção primeira realizada pelo Espírito Santo: a de Jesus. Cristo (“Messias” a partir do hebraico) significa “Ungido” pelo Espírito de Deus. Houve “ungidos” do Senhor na Antiga Aliança (cf. Ex 30,22-32), de modo eminente o rei Davi (cf. 1Sm 16,13). Mas Jesus é o Ungido de Deus de uma forma única: a humanidade que o Filho assume é totalmente “ungida pelo Espírito Santo”. Jesus é constituído “Cristo” pelo Espírito Santo (cf. Lc 4,18-19; Is 61,1). A Virgem Maria concebe Cristo do Espírito Santo, que pelo anjo O anuncia como Cristo por ocasião do seu nascimento (cf. Lc 2,11) e leva Simeão a vir ao Templo ver o Cristo do Senhor (Lc 2,26-27); é Ele que plenifica o Cristo (cf. Lc 4,1), é o poder d’Ele que sai de Cristo em seus atos de cura e de salvação (cf. Lc 6,19; 8,46). É finalmente Ele que ressuscita Jesus dentre os mortos (cf. Rm 1,4; 8,11). Então, constituído plenamente “Cristo” em sua Humanidade vencedora da morte (cf. At 2,36), Jesus difunde em profusão o Espírito Santo até “os santos” constituírem, em sua união com a Humanidade do Filho de Deus, esse “homem perfeito... que realiza a plenitude de Cristo” (Ef 4,13): “o Cristo total”, segundo a expressão de Santo Agostinho [1].

696. O fogo

Enquanto a água significa o nascimento e a fecundidade da vida dada no Espírito Santo, o fogo simboliza a energia transformadora dos atos do Espírito Santo. O profeta Elias, que “surgiu como um fogo cuja palavra queimava como uma tocha” (Eclo 48,1), por sua oração atrai o fogo do céu sobre o sacrifício do monte Carmelo (cf. 1Rs 18,38-39), figura do fogo do Espírito Santo que transforma o que toca. João Batista, “que caminha diante do Senhor com o espírito e o poder de Elias” (Lc 1,17), anuncia o Cristo como Aquele que “batizará com o Espírito Santo e com o fogo” (Lc 3,16), esse Espírito do qual Jesus dirá: “Vim trazer fogo à terra, e quanto desejaria que já estivesse acesso!” (Lc 12,49). É sob a forma de línguas “que se diriam de fogo” que o Espírito Santo pousa sobre os discípulos na manhã de Pentecostes e os enche de Si (cf. At 2,3-4). A tradição espiritual manterá este simbolismo do fogo como um dos mais expressivos da ação do Espírito Santo [2]. “Não extingais o Espírito!” (1Ts 5,19).

O Espírito como "fogo"
(As chamas remetem também aqui ao símbolo da pomba)

697. A nuvem e a luz

Estes dois símbolos são inseparáveis nas manifestações do Espírito Santo. Desde as teofanias do Antigo Testamento, a Nuvem, ora escura, ora luminosa, revela o Deus vivo e salvador, escondendo a transcendência de sua Glória: com Moisés sobre a montanha do Sinai (cf. Ex 24,15-18), na Tenda da Reunião (cf. Ex 33,9-10) e durante a caminhada no deserto (cf. Ex 40,36-38; 1Cor 10,1-2); com Salomão por ocasião da dedicação do Templo (cf. 1Rs 8,10-12). Ora, estas figuras são cumpridas por Cristo no Espírito Santo. É este que paira sobre a Virgem Maria e a cobre “com sua sombra”, para que ela conceba e dê à luz Jesus (cf. Lc 1,35). No monte da Transfiguração, é Ele que “sobrevém na nuvem que toma” Jesus, Moisés e Elias, Pedro, Tiago e João debaixo de sua sombra”; da Nuvem sai uma voz que diz: “Este é meu Filho, o Eleito, ouvi-O sempre” (Lc 9,34-35). É finalmente essa Nuvem que “subtrai Jesus aos olhos” dos discípulos no dia da Ascensão (cf. At 1,9) e que O revelará como Filho do Homem em sua glória no Dia de sua Vinda (cf. Lc 21,27).

698. O selo

O selo é um símbolo próximo ao da unção. Com efeito, é Cristo que “Deus marcou com seu selo” (Jo 6,27) e é n’Ele que também o Pai nos marca com seu selo» (cf. 2Cor 1,22; Ef 1,13; 4,30.). Por indicar o efeito indelével da unção do Espírito Santo nos sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Ordem, a imagem do selo (sphragis) tem sido utilizada em certas tradições teológicas para exprimir o “caráter” indelével impresso por estes três sacramentos que não podem ser reiterados.

699. A mão

É impondo as mãos que Jesus cura os doentes (cf. Mc 6,5; 8,23) e abençoa as criancinhas (cf. Mc 10,16). Em nome d’Ele, os Apóstolos farão o mesmo (cf. Mc 16,18; At 5,12; 14,3). Melhor ainda: é pela imposição das mãos dos Apóstolos que o Espírito Santo é dado (cf. At 8,17-19; 13,3; 19,6). A Epístola aos Hebreus inclui a imposição das mãos entre os “artigos fundamentais” de seu ensinamento (cf. Hb 6,2). A Igreja conservou este sinal da efusão onipotente do Espírito Santo em suas epicleses sacramentais.

O Espírito como "mão criadora e vivificadora"

700. O dedo

“É pelo dedo de Deus que [Jesus] expulsa os demônios” (cf. Lc 11,20.). Se a Lei de Deus foi escrita em tábuas de pedra “pelo dedo de Deus” (Ex 31,18), a “letra de Cristo”, entregue aos cuidados dos Apóstolos, “é escrita com o Espírito de Deus vivo não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, nos corações” (2Cor 3,3). O hino Veni, Creator Spíritus (Vinde, Espírito Criador) invoca o Espírito Santo como “dedo da direita paterna” (digitus paternae dexterae) [3].

701. A pomba

No fim do dilúvio (cujo simbolismo está ligado ao Batismo), a pomba solta por Noé volta com um ramo novo de oliveira no bico, sinal de que a terra é de novo habitável (cf. Gn 8,8-12) Quando Cristo volta a subir da água de seu batismo, o Espírito Santo, em forma de uma pomba, desce sobre Ele e sobre Ele permanece (cf. Mt 3,16 e paralelos). O Espírito desce e repousa no coração purificado dos batizados. Em certas igrejas, a santa Reserva eucarística é conservada em um recipiente metálico em forma de pomba (o columbarium) suspenso acima do altar. O símbolo da pomba para sugerir o Espírito Santo é tradicional na iconografia cristã.

O célebre vitral do Espírito Santo representado como "pomba"
(Basílica de São Pedro no Vaticano)

Notas:
[1] Santo Agostinho, Sermão 341, 1, 1: PL 39, 1493; ibid., 9, 11: PL 39. 1499.
[2] cf. São João da Cruz, A chama viva do amor.
[3] Dominica Pentecostes, Hymnus ad I et II Vesperas: Liturgia Horarum, v. 2, Tipografia Poliglota Vaticana, 1974, pp. 795.812.

Fonte:
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição revisada de acordo com o texto oficial em latim. São Paulo: Loyola, 1999, pp. 200-203.

Postagem publicada originalmente em 26 de maio de 2012. Revista e ampliada em 10 de maio de 2022.

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