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sexta-feira, 8 de julho de 2016

Homilia: XV Domingo do Tempo Comum - Ano C

 Santo Ambrósio
Tratado do Evangelho de São Lucas
Este médico tem uma infinidade de remédios

Eis aqui, portanto, a concisa verdade histórica, que, considerada mais profundamente, nos revela admiráveis mistérios. Realmente, Jericó é figura deste mundo, para a qual desceu Adão, precipitado do paraíso, ou seja, daquela Jerusalém celeste, por sua queda prevaricadora, passando da vida para a morte; desterro este de sua natureza que lhe ocasionou uma mudança, certamente não de lugar, mas sim de costumes. E assim permaneceu um Adão bem diferente daquele que gozava de uma felicidade sem ocaso, mas que assim que se lançou aos pecados deste mundo, caiu nas mãos dos ladrões, aos quais não teria vindo parar se não tivesse se afastado do mandamento divino.
Quem são estes ladrões senão os anjos da noite e das trevas, que se transformam às vezes em anjos de luz, ainda que seja um fato que não possam permanecer muito tempo nesse estado? Estes primeiros nos despojam da veste da graça espiritual que recebemos, e esta é a forma que ordinariamente alcançam seus primeiros impactos; porém, se guardamos intactas as vestes recebidas, não sentiremos os golpes dos ladrões. Tem, pois, cuidado, para não ser despojado como o foi Adão, da proteção do preceito celestial e privado da veste da fé, já que a isso se deveu que ele fosse ferido mortalmente, ferida mortal que haveria contagiado a todo o gênero humano se aquele Bom Samaritano, descendo do céu, não houvesse curado essas perigosas chagas.
E não é um samaritano qualquer este que não desprezou àquele que tinha sido desprezado pelo sacerdote e o levita. Não desprezes àquele que leva o nome de uma seita cuja interpretação te vai encher de admiração. De fato, o vocábulo “samaritano” significa “guardião”. Demos agora uma interpretação a tudo isto.
Na verdade, quem é um verdadeiro custódio senão aquele de quem foi escrito: O Senhor guarda os pequenos? Pois da mesma maneira que existe um judeu que é tal conforme a letra e outro que o é pelo espírito, assim também se realiza uma maneira de ser samaritano que se vê e outra que está oculta. Enquanto descia, pois, este samaritano - quem é este que desceu do céu, senão o que sobe ao céu, o Filho de Deus que está no céu? -, tendo visto a um homem semimorto, ao qual ninguém quis curar - o mesmo caso que aquela que padecia do fluxo de sangue e que tinha gastado em médicos toda a sua renda -, aproximou-se dele, ou seja, compadecido de nossa miséria, tornou-se nosso íntimo e nosso próximo para exercitar sua misericórdia conosco.
E enfaixou suas feridas ungindo-as com óleo e vinho. Este médico tem uma infinidade de remédios, mediante os quais alcança, ordinariamente, suas curas. Medicamento é a sua palavra; esta, algumas vezes, enfaixa as feridas; outras serve de óleo, e outras atua com o vinho; enfaixa as feridas quando expressa uma ordem de dificuldade mais exigente; suaviza perdoando os pecados, e atua com o vinho anunciando o juízo.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 675-676. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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