A história da Matki Bożej Częstochowskiej (Mãe de Deus
de Częstochowa) está intimamente ligada à própria história da Polônia. A
devoção mariana é um elemento constitutivo da identidade do povo polonês desde
sua conversão ao cristianismo em 966.
A origem do
santuário mariano na cidade de Częstochowa, sobre a colina denominada Monte
Claro (em polonês, Jasna Góra),
remonta ao século XIV. Em 1382 o príncipe Władysław Opolczyk mandou construir
ali um mosteiro, confiado aos cuidados dos monges paulinos (Eremitas de São
Paulo) vindos da Hungria. Dois anos após sua chegada, o mosteiro recebeu um
ícone de Nossa Senhora, cuja autoria a tradição atribui a São Lucas. Em pouco
tempo este mosteiro se converteria em um santuário nacional e principal centro
de peregrinações da Polônia.
Em 1430 o
mosteiro é atacado pelos hussitas tchecos, que golpeiam à espada o ícone,
gerando dois cortes na face direita da imagem de Maria, que permanecem até
hoje. Este ato iconoclasta só reforçou a devoção dos poloneses à Virgem de Częstochowa.
À sua intercessão atribuem-se as sucessivas vitórias contra as invasões
estrangeiras nos séculos seguintes: os tártaros em 1487 e 1527, os russos em
1514, os turcos em 1621 e 1675, entre outras.
As duas maiores
vitórias atribuídas à intercessão da Virgem foram contra os suecos em 1660, o
chamado “Dilúvio”, quando o rei Jan II Kazimierz fez um voto de reconhecer a
Virgem Maria como Regina Poloniae
(Rainha da Polônia ou, em polonês, Królowa
Polski), e contra os turcos em 1683, sob o reinado de Jan III Sobieski.
Em 08 de
setembro de 1717, o ícone é solenemente coroado e a Virgem Maria é oficialmente
reconhecida como Rainha da Polônia, sob o pontificado de Clemente XI. Nos anos
seguintes, a devoção mariana será, com efeito, o grande baluarte da unidade do
povo polonês durante as sucessivas invasões das potências estrangeiras. Częstochowa
se transforma então na “capital espiritual” da Polônia.
O ápice do
“martírio do povo polonês” deu-se no século XX, sob os regimes nazista alemão
(1939-1945) e comunista russo (1945-1989). Primeiramente os nazistas, que proíbem
as peregrinações a Częstochowa e chegam a ocupar o santuário. O ícone é então
escondido pelos monges paulinos. A padroeira como que partilha da sorte de seu
povo, que vive um catolicismo clandestino.
Com a queda do
nazismo em 1945, quando tudo parecia melhorar, a situação só piora. O regime
comunista, ateu e anti-religioso, proíbe a construção de novas igrejas, prende
e executa inúmeros bispos e sacerdotes e persegue incansavelmente a devoção à
Virgem de Częstochowa. Entre 1957 e 1966, para comemorar o milênio do Batismo
da Polônia, se organiza uma peregrinação nacional de uma réplica do ícone. O
governo, porém o confisca, o que não desanima a fé do povo, como recorda São
João Paulo II:
Quando por iniciativa do episcopado, e em particular do
cardeal Stefan Wyszynski, partiu de Częstochowa a peregrinação com a “Nossa
Senhora Negra”, que deveria visitar cada paróquia e cada comunidade da Polônia,
as autoridades comunistas fizeram de tudo para o impedir. E quando o Ícone foi
“sequestrado” pela polícia, a peregrinação continuou com a moldura vazia, e sua mensagem se tornou ainda mais eloquente.
Naquela moldura privada de imagem podia-se ler o sinal mudo da falta de
liberdade religiosa. O povo sabia que era direito seu reavê-la e rezou com
ainda mais fervor para que isso acontecesse. Aquela peregrinação durou quase 25
anos e contribuiu para reforçar no país, de modo extraordinário, a fé, a
esperança e a caridade
(JOÃO
PAULO II. Levantai-vos! Vamos! São
Paulo: Planeta do Brasil, 2004, p. 62).
Com a eleição de
Karol Wojtyła ao Papado em 1978, cresce a devoção à Virgem de Częstochowa. Com
suas visitas ao país, e de maneira especial ao Santuário de Jasna Góra, São
João Paulo II encorajou o povo polonês a trabalhar pela unidade e manter-se
fiel à sua identidade católica.
Podemos concluir com as palavras de Pio
XII, citadas por João Paulo II: “A Polônia não desapareceu e não desaparecerá,
uma vez que a Polônia crê, a Polônia ora, a Polônia tem Jasna Góra” (JOÃO PAULO
II, op. cit., p. 62).
REFERÊNCIAS
BOFF, Clodovis. Mariologia social: O significado da
Virgem para a sociedade. São Paulo: Paulus, 2006.
DE FIORES, Stefano; MEO, Salvatore
(Org.). Dicionário de Mariologia. São
Paulo; Paulus, 1995.
JOÃO PAULO II. Levantai-vos! Vamos! São Paulo: Planeta
do Brasil, 2004.
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