Páginas

sábado, 9 de agosto de 2025

Homilia do Papa: Jubileu dos Jovens (2025)

Jubileu dos Jovens
Homilia do Papa Leão XIV
Universidade Tor Vergata, Roma
Domingo, 03 de agosto de 2025

Foi celebrada a Missa do XVIII Domingo do Tempo Comum (Ano C).

Queridos jovens,
Depois da Vigília que vivemos juntos ontem à noite, reunimo-nos hoje para celebrar a Eucaristia, Sacramento do dom total de si mesmo que o Senhor fez por nós. Nesta experiência, podemos imaginar que estamos percorrendo o caminho feito pelos discípulos de Emaús na tarde da Páscoa (cf. Lc 24,13-35): antes, eles se afastavam de Jerusalém assustados e desiludidos; partiam convencidos de que, após a morte de Jesus, não havia mais nada a aguardar, nada em que esperar. Em vez disso, encontraram precisamente Ele, acolheram-no como companheiro de viagem, ouviram-no explicar-lhes as Escrituras e, finalmente, reconheceram-no ao partir o pão. Os seus olhos abriram-se e o anúncio alegre da Páscoa encontrou lugar nos seus corações.

A Liturgia de hoje não nos fala diretamente sobre este episódio, mas ajuda-nos a refletir sobre o que nele se narra: o encontro com Cristo Ressuscitado que muda a nossa existência e que ilumina os nossos afetos, desejos e pensamentos.


A 1ª leitura, tirada do Livro do Eclesiastes, convida-nos a entrar em contato, como os dois discípulos de que falamos, com a experiência dos nossos limites, da finitude das coisas que passam (cf. Ecl 1,2; 2,21-23); e o Salmo responsorial, que ecoa a mesma mensagem, propõe-nos a imagem da erva que «de manhã floresce vicejante, mas à tarde é cortada e logo seca» (Sl 89,6). São duas advertências fortes, talvez um pouco chocantes, mas que não devem nos assustar, como se fossem temas “tabu” a evitar. Na verdade, a fragilidade de que nos falam faz parte da maravilha que somos. Pensemos no símbolo da erva: não é lindo um campo florido? Claro, é delicado, feito de caules finos, vulneráveis, sujeitos a secar, dobrar-se, partir-se, mas, ao mesmo tempo, imediatamente substituídos por outros que brotam depois deles e dos quais os primeiros se tornam generosamente alimento e adubo, ao se desfazerem no solo. É assim que vive o campo, renovando-se continuamente e, mesmo durante os meses gelados do inverno, quando tudo parece silencioso, a sua energia vibra sob a terra e prepara-se para, na primavera, explodir em milhares de cores.

Queridos amigos, nós também somos assim: fomos feitos para isso. Não para uma vida onde tudo é óbvio e parado, mas para uma existência que se renova constantemente no dom, no amor. E assim aspiramos continuamente a um “algo mais” que nenhuma realidade criada pode nos dar. Sentimos uma sede tão grande e ardente que nenhuma bebida deste mundo pode saciar. Diante dela, não enganemos o nosso coração, tentando extingui-la com subterfúgios ineficazes! Antes, ouçamo-la! Façamos dela um estrado para subir e espreitar na ponta dos pés, como crianças, pela janela do encontro com Deus: nos encontraremos diante d’Ele, que nos espera, ou melhor, que bate gentilmente ao vidro da nossa alma (cf. Ap 3,20). E, mesmo aos vinte anos, é bom abrir-lhe o coração, deixá-lo entrar, para depois nos aventurarmos com Ele rumo aos espaços eternos do infinito.

Santo Agostinho, falando da sua intensa busca por Deus, perguntava-se: «Qual é, então, o objeto da nossa esperança (...)? É a terra? Não. Algo que deriva da terra, como o ouro, a prata, as árvores, a messe, a água (...)? Estas coisas agradam, são belas, são boas» (Sermão 313/F, 3). E concluía: «Procura quem as fez. Ele é a tua esperança» (ibid.). Em seguida, pensando no caminho que tinha percorrido, rezava dizendo: «Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora! (...) Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti. Eu te saboreei (cf. Sl 33,9; 1Pd 2,3), e agora tenho fome e sede de ti (cf. Mt 5,6; 1Cor 4,11). Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz» (Confissões 10, 27).

Irmãs e irmãos, essas são lindas palavras que lembram o que o Papa Francisco disse a outros jovens como vós em Lisboa, durante a Jornada Mundial da Juventude: «Todos somos chamados a confrontar-nos com grandes interrogações que... não têm uma resposta simplista ou imediata, mas convidam a realizar uma viagem, superando-se a si mesmo, indo mais além... uma decolagem sem a qual não há voo. Portanto, não nos alarmemos se nos encontramos intimamente sedentos, inquietos, incompletos, desejosos de sentido e de futuro... Não estamos doentes, estamos vivos!» (Discurso no Encontro com os Jovens Universitários, 03 de agosto de 2023).

Há uma solicitação importante no nosso coração, uma necessidade de verdade que não podemos ignorar, que nos leva a perguntar: o que é realmente a felicidade? Qual é o verdadeiro sabor da vida? O que nos liberta dos pântanos do absurdo, do tédio, da mediocridade?

Nos últimos dias vivestes muitas experiências bonitas. Encontrastes jovens da vossa idade, vindos de várias partes do mundo, pertencentes a diferentes culturas. Trocastes conhecimentos, partilhastes expectativas, dialogastes com a cidade através da arte, da música, da informática, do esporte. No Circo Máximo, aproximando-vos do Sacramento da Penitência, recebestes o perdão de Deus e pedistes a sua ajuda para uma vida boa.

Em tudo isso podeis encontrar uma resposta importante: a plenitude da nossa existência não depende do que acumulamos nem do que possuímos, como ouvimos no Evangelho (cf. Lc 12,13-21); em vez disso, está ligada ao que sabemos acolher e partilhar com alegria (cf. Mt 10,8-10; Jo 6,1-13). Comprar, acumular, consumir não basta. Precisamos levantar os olhos, olhar para cima, para as «coisas do alto» (Cl 3,2), para perceber que, entre as realidades do mundo, tudo tem sentido apenas na medida em que serve para nos unir a Deus e aos irmãos na caridade, fazendo crescer em nós «sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência» (Cl 3,12), de perdão (v. 13), de paz (cf. Jo 14,27), como os de Cristo (cf. Fl 2,5). E, nesse horizonte, compreenderemos cada vez melhor o que significa «a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5,5).

Queridos jovens, a nossa esperança é Jesus. É Ele, como dizia São João Paulo II, «quem suscita em vós o desejo de fazer da vossa vida algo de grande... no aperfeiçoamento de vós mesmos e da sociedade, tornando-a mais humana e fraterna» (XV Jornada Mundial da Juventude, Vigília de Oração, 19 de agosto de 2000). Mantenhamo-nos unidos a Ele, permaneçamos sempre na sua amizade, cultivando-a com a oração, a adoração, a Comunhão eucarística, a Confissão frequente, a caridade generosa, como nos ensinaram os Beatos Piergiorgio Frassati e Carlo Acutis, que em breve serão proclamados Santos. Onde quer que estejais, aspirai a coisas grandes, à santidade. Não vos contenteis com menos. Então vereis crescer todos os dias, em vós e à vossa volta, a luz do Evangelho.

Confio-vos a Maria, Virgem da Esperança. Com a sua ajuda, ao regressarem nos próximos dias aos vossos países, em todas as partes do mundo, continuai a caminhar com alegria seguindo as pegadas do Salvador e contagiai com o vosso entusiasmo e o testemunho da vossa fé todos aqueles que encontrardes! Bom caminho!


Fonte: Santa Sé.

Nenhum comentário:

Postar um comentário