Visita ao Sepulcro de São Paulo
Homilia do Papa Leão XIV
Basílica de São Paulo fora dos muros
Terça-feira, 20 de maio de 2025
A passagem bíblica que ouvimos (Rm
1,1-6.8-9.11-12.14-15) é o início de uma linda Carta dirigida por São
Paulo aos cristãos de Roma, cuja mensagem gira em torno de três grandes
temas: a graça, a fé e a justiça. Ao
confiarmos o início deste novo Pontificado à intercessão do Apóstolo dos
Gentios, meditemos juntos sobre a sua mensagem.
São Paulo diz, primeiramente, que recebeu de
Deus a graça da vocação (v. 5). Ou seja, reconhece que o seu
encontro com Cristo e o seu ministério estão ligados ao amor com que Deus o
amou primeiro, chamando-o a uma nova existência, quando ele ainda estava longe
do Evangelho e perseguia a Igreja. Santo Agostinho - também ele convertido -
fala da mesma experiência, dizendo: «Mas o que podemos escolher, se antes não
formos escolhidos? Porque não conseguiremos amar, se antes não formos amados» (Sermão
34, 2). Na raiz de toda a vocação está Deus: a sua misericórdia, a sua
bondade, generosa como a de uma mãe (cf. Is 66,12-14), que
naturalmente, através do seu próprio corpo, alimenta o seu filho quando este
ainda não é capaz de se alimentar por conta própria (cf. Santo Agostinho, Comentário aos Salmos, 130, 9).
Mas Paulo, na mesma passagem, fala também da
«obediência da fé» (Rm 1,5), e também aqui partilha a sua
experiência. Com efeito, o Senhor, ao aparecer-lhe no caminho de Damasco (cf. At 9,1-30), não o privou da liberdade, mas deixou-lhe
a possibilidade de uma escolha, de uma obediência que era fruto do esforço, de
lutas interiores e exteriores, que ele aceitou enfrentar. A salvação não
acontece por magia, mas por um mistério de graça e de fé,
do amor prévio de Deus e da adesão confiante e livre do homem (cf. 2Tm 1,12).
Ao mesmo tempo que agradecemos ao Senhor a
vocação com que transformou a vida de Saulo, pedimos-lhe que saibamos responder
do mesmo modo aos seus convites, tornando-nos testemunhas do amor «derramado
nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5,5).
Pedimos-lhe que saibamos cultivar e difundir a sua caridade, tornando-nos
próximos uns dos outros (cf. Francisco, Homilia nas II Vésperas
da Solenidade da Conversão de São Paulo, 25 de janeiro de 2024), no mesmo
combate de sentimentos que, a partir do encontro com Cristo, levou o antigo
perseguidor a fazer-se «tudo para todos» (1Cor 9,22), até o
martírio. Assim, na fraqueza da carne, para nós assim como para ele, se revelará
o poder da fé no Deus que justifica (cf. Rm 5,1-5).
Esta Basílica está confiada, há séculos, aos
cuidados de uma comunidade beneditina. Falando, portanto, do amor como fonte e
motor do anúncio do Evangelho, como não recordar os insistentes apelos de São
Bento, na sua Regra, à caridade fraterna no mosteiro e à
hospitalidade para com todos (Regra, capítulos LIII; LXIII)?
Mas gostaria de concluir recordando as
palavras que, mais de mil anos depois, outro Bento, o Papa Bento XVI, dirigiu
aos jovens: «Queridos amigos, Deus ama-nos. Esta é a grande verdade da nossa
vida e que dá sentido a tudo o mais... na origem da nossa existência há um
projeto de amor de Deus» e a fé «nos leva a abrir o nosso coração a este
mistério de amor e a viver como pessoas que se sabem amadas por Deus» (Homilia na Vigília de Oração com os jovens, Madrid, 20 de agosto de 2011).
Esta é a raiz, simples e única, de toda a
missão, incluindo a minha, como sucessor de Pedro e herdeiro do zelo apostólico
de Paulo. Que o Senhor me dê a graça de corresponder fielmente ao seu chamado.
Fonte: Santa Sé.
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