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quinta-feira, 29 de maio de 2025

Homilia do Papa Leão XIV: Pose da Cátedra de Roma

Celebração Eucarística e Tomada de Posse da Cátedra Romana
Homilia do Papa Leão XIV
Basílica de São João do Latrão
Domingo, 25 de maio de 2025

Foi celebrada a Missa do VI Domingo da Páscoa (Ano C) com suas leituras.

Dirijo uma cordial saudação aos senhores Cardeais presentes, em particular ao Cardeal Vigário, aos Bispos Auxiliares e a todos os Bispos, aos queridos Sacerdotes - Párocos, Vigários paroquiais e todos aqueles que, de diferentes modos, cooperam no cuidado pastoral das nossas comunidades -; saúdo também os diáconos, os religiosos e religiosas, as autoridades e todos vós, queridos fiéis.

A Igreja de Roma é herdeira de uma grande história, enraizada no testemunho de Pedro, de Paulo e de inúmeros mártires, e tem uma única missão, muito bem expressa pelo que está escrito na fachada desta Catedral: ser Mater omnium Ecclesiarum, Mãe de todas as Igrejas.


O Papa Francisco frequentemente convidou-nos a meditar sobre a dimensão materna da Igreja (cf. Exortação Apostólica Evangelii gaudium, nn. 46-49.139-141; Catequese, 13 de janeiro de 2016) e sobre as características que lhe são próprias: a ternura, a disponibilidade ao sacrifício e aquela capacidade de escuta que permite não só socorrer, mas muitas vezes prover às necessidades e às expectativas, antes mesmo que sejam manifestadas. Estes são traços que desejamos que cresçam em todo o povo de Deus, e também aqui, na nossa grande família diocesana: nos fiéis e nos pastores, a começar por mim. As leituras que ouvimos podem ajudar-nos a refletir sobre estes traços.

Nos Atos dos Apóstolos narra-se, em particular, como a comunidade primitiva enfrentou o desafio da abertura ao mundo pagão no anúncio do Evangelho (cf. At 15,1-2.22-29). Não foi uma tarefa fácil: exigiu muita paciência e escuta recíproca; isto aconteceu, primeiramente, dentro da comunidade de Antioquia, onde os irmãos, dialogando - e também discutindo -, chegaram juntos a uma definição sobre a questão. Depois, porém, Paulo e Barnabé subiram a Jerusalém. Não decidiram por conta própria: procuraram a comunhão com a Igreja mãe e foram até lá com humildade.

Ali encontraram Pedro e os Apóstolos, que os ouviram. Assim se iniciou o diálogo que finalmente levou à decisão correta: reconhecendo e considerando as dificuldades dos neófitos, concordou-se em não lhes impor encargos excessivos, mas limitar-se a pedir o essencial (vv. 28-29). Assim, o que poderia parecer um problema, tornou-se para todos uma ocasião de reflexão e crescimento.

O texto bíblico, no entanto, nos diz mais, indo além da já rica e interessante dinâmica humana do evento.

Isso é revelado pelas palavras que os irmãos de Jerusalém dirigem, por carta, aos de Antioquia, comunicando-lhes as decisões tomadas. Eles escrevem: «Decidimos, o Espírito Santo e nós» (v. 28). Enfatizam, portanto, que a atitude mais importante em toda a questão - aquela que tornou possível todo o resto - foi a escuta da voz de Deus. Assim eles nos lembram que a comunhão se constrói primeiramente “de joelhos”, na oração e em um compromisso contínuo de conversão. Na realidade, somente com esta atitude cada um pode ouvir dentro de si a voz do Espírito que clama: «Abbá! Pai!» (Gl 4,6) e, consequentemente, ouvir e compreender os outros como irmãos.

Também o Evangelho reafirma esta mensagem (cf. Jo 14,23-29), dizendo-nos que não estamos sozinhos nas escolhas da vida. O Espírito nos sustenta e nos indica o caminho a seguir, “ensinando-nos” e “lembrando-nos” tudo o que disse Jesus (v. 26).

Em primeiro lugar, o Espírito nos ensina as palavras do Senhor, gravando-as profundamente em nós, segundo a imagem bíblica da lei escrita não mais em tábuas de pedra, mas nos nossos corações (cf. Jr 31,33); um dom que nos ajuda a crescer até nos tornarmos “carta de Cristo” (2Cor 3,3) uns para os outros. E é exatamente assim: somos tanto mais capazes de anunciar o Evangelho quanto mais nos deixamos conquistar e transformar por ele, permitindo que a força do Espírito nos purifique no íntimo, torne simples as nossas palavras, honestos e transparentes os nossos desejos, generosas as nossas ações.

E aqui entra em cena o outro verbo: “recordar”, ou seja, voltar a dirigir a atenção do coração para o que vivemos e aprendemos, para penetrar mais profundamente no seu significado e saborear a sua beleza.

Penso, a este respeito, no exigente caminho que a Diocese de Roma está percorrendo nestes anos, articulado em vários níveis de escuta: em direção do mundo que a rodeia, para acolher os seus desafios, e dentro das comunidades, para compreender as necessidades e promover sábias e proféticas iniciativas de evangelização e caridade. É um caminho difícil, ainda em curso, que procura abranger uma realidade muito rica, mas também muito complexa. É, entretanto, digno da história desta Igreja, que tantas vezes demonstrou saber pensar de modo magnânimo, dedicando-se sem reservas a projetos corajosos e assumindo riscos, mesmo perante cenários novos e desafiadores.

Um sinal disto é o grande empenho com que toda a Diocese, justamente nestes dias, tem se dedicado ao Jubileu, na acolhida e cuidado dos peregrinos e em inúmeras outras iniciativas. Graças a tantos esforços, a cidade se apresenta àqueles que nela chegam - às vezes de muito longe - como uma grande casa aberta e acolhedora e, sobretudo, como um lar de fé.

Quanto a mim, expresso o desejo e o compromisso de entrar neste vasto canteiro, colocando-me, na medida do possível, à escuta de todos, para aprender, compreender e decidir juntos: «para vós sou Bispo, convosco sou cristão», como dizia Santo Agostinho (cf. Sermão 340, 1). Peço-vos que me ajudem a fazê-lo em um esforço comum de oração e caridade, recordando as palavras de São Leão Magno: «Todo o bem realizado por nós no exercício do nosso ministério é obra de Cristo, e não nossa; pois nada podemos sem Ele, mas é n’Ele que nos gloriamos, d’Ele que provém toda a eficácia da nossa ação» (Sermão 5, De natali ipsius, 4).

Para concluir, gostaria de acrescentar a essas palavras aquilo que disse o Beato João Paulo I, que em 23 de setembro de 1978, com o rosto radiante e sereno que já lhe valera o apelido de “Papa do sorriso”, assim saudou a sua nova família diocesana: «São Pio X - dizia ele -, entrando como Patriarca em Veneza, exclamou na Basílica de São Marcos: “Que seria de mim, venezianos, se não vos amasse?”. Eu digo aos romanos coisa semelhante: posso assegurar-vos que vos amo, que só desejo começar a servir-vos e pôr à disposição de todos as minhas pobres forças, aquele pouco que tenho e sou» (Homilia na Tomada de Posse da Cátedra do Bispo de Roma, 23 de setembro de 1978).

Também eu vos expresso todo o meu carinho, com o desejo de partilhar convosco, no caminho comum, alegrias e dores, cansaços e esperanças. Também eu vos ofereço “o pouco que tenho e que sou”, e confio-o à intercessão dos Santos Pedro e Paulo e de tantos outros irmãos e irmãs cuja santidade iluminou a história desta Igreja e as ruas desta cidade. Que a Virgem Maria nos acompanhe e interceda por nós.


Fonte: Santa Sé.

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