Diádoco de Foticeia
Capítulos sobre a perfeição espiritual
O discernimento dos espíritos se adquire pelo paladar espiritual
O autêntico
conhecimento consiste em discernir sem erro o bem do mal; quando se alcança
isto, então o caminho da justiça, que conduz a alma para Deus, Sol de justiça,
introduz aquela mesma alma na luz infinita do conhecimento, de modo que,
doravante, vai segura após a caridade.
Convém que,
embora no meio de nossas lutas, conservemos a paz do espírito, para que a mente
possa discernir os pensamentos que a atacam, guardando na dispensa da memória
aqueles que são bons e possuem sua origem em Deus e lançando desse depósito
natural aqueles que são maus e procedem do demônio. O mar, quando está calmo,
permite aos pescadores enxergar até o fundo e descobrir onde se encontram os
peixes; mas, quando está agitado, fica turvado e impede essa visibilidade,
tornando inúteis todos os recursos dos quais os pescadores se utilizam.
Somente o
Espírito Santo pode purificar o nosso espírito. Se Ele não entra, como o mais
forte do Evangelho, para vencer o ladrão, nunca lhe poderemos arrebatar a
presa. Convém, portanto, que em toda ocasião o Espírito Santo se encontre à
vontade em nossa alma pacificada, e assim teremos sempre acesa em nós a luz do
conhecimento; se ela sempre brilha em nosso interior, não somente serão
reveladas as influências nefastas e tenebrosas do demônio, mas também se
debilitarão enormemente ao serem surpreendidas por aquela luz santa e gloriosa.
Por isso diz o
Apóstolo: Não extingais o Espírito, isto é, não o entristeçais com as
vossas más obras e pensamentos, não aconteça que deixe de vos auxiliar com a
sua luz. Não é que nós possamos extinguir o que existe de eterno e vivificante
no Espírito Santo, mas sim que podemos contristá-lo, ou seja, ao ocasionar este
distanciamento entre Ele e nós, nossa alma fica privada de sua luz e envolvida
em trevas.
A sensibilidade
do espírito consiste em um “paladar apurado”, que nos dá o verdadeiro
discernimento. Da mesma forma que, pelo sentido corporal do paladar, quando
desfrutamos de boa saúde, apetece-nos aquilo que é agradável, discernindo sem
erro o bom do mau, assim também nosso espírito, desde o momento em que começa a
possuir plena saúde e a prescindir de preocupações inúteis, torna-se capaz de
experimentar a abundância da consolação divina e de reter em sua memória a
lembrança de seu sabor, por obra da caridade, para distinguir e ficar com o
melhor, conforme o que diz o Apóstolo: Esta é a minha oração: que vosso amor
continue crescendo mais e mais em compreensão e em sensibilidade para apreciar
os valores.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 646-647. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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