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quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Homilia do Papa: Missa no Timor-Leste

Viagem Apostólica à Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura
Santa Missa
Homilia do Papa Francisco
Esplanada de Taci Tolu (Díli, Timor-Leste)
Terça-feira, 10 de setembro de 2024

Observação: Foi celebrada a Missa votiva da Virgem Maria, Rainha.

«Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado» (Is 9,5).
São estas as palavras com as quais, na 1ª Leitura, o profeta Isaías se dirige aos habitantes de Jerusalém, em uma época próspera para a cidade, mas infelizmente caracterizada por uma grande decadência moral.

Há muita riqueza, porém, o bem-estar cega os poderosos, iludindo-os com a ideia de serem autossuficientes, de não precisarem do Senhor, e a sua presunção leva-os a ser egoístas e injustos. É por isso que, apesar de haver tantos bens, os pobres são abandonados e passam fome, a infidelidade alastra e a prática religiosa se reduz, cada vez mais, a mera formalidade. A fachada enganadora de um mundo, à primeira vista perfeito, esconde assim uma realidade mais sombria, muito mais dura e cruel, com necessidade de conversão, misericórdia e cura.

Por isso, o profeta anuncia aos seus concidadãos que Deus abrirá diante deles um novo horizonte: um futuro de esperança e alegria, do qual serão banidas para sempre a opressão e a guerra (cf. Is 9,1-4). Fará brilhar para eles uma grande luz (v. 1) que os libertará das trevas do pecado que oprime; e não o fará com a força de exércitos, armas ou riquezas, mas com o dom de um filho (vv. 5-6).


Paremos para refletir sobre esta imagem: Deus faz brilhar a sua luz salvadora através do dom de um filho.

Em todo o lado, o nascimento de um filho é um momento luminoso de alegria e festa, e por vezes suscita em nós bons desejos, de renovação no bem, de regresso à pureza e à simplicidade. Diante de um recém-nascido, até o coração mais duro se acalenta e enche de ternura. A fragilidade de uma criança é sempre portadora de uma mensagem tão forte que toca até as almas mais endurecidas, trazendo consigo movimentos e propósitos de harmonia e serenidade. É maravilhoso, irmãos e irmãs, o que acontece com o nascimento de uma criança!

A proximidade de Deus acontece através de uma criança. Deus faz-se criança, não apenas para nos maravilharmos e comovermos, mas também para nos abrirmos ao amor do Pai e nos deixarmos moldar por Ele, para que possa curar as nossas feridas, recompor os nossos desentendimentos, pôr ordem na nossa existência.

Esta realidade é bonita de ver em Timor-Leste, porque há muitas crianças: sois um país jovem, onde por todo o lado se sente a vida a pulsar, a desabrochar. E isso é uma dádiva, um grande dom: a presença de tantos jovens e crianças renova constantemente a nossa energia e a nossa vida. Mais ainda, trata-se de um sinal, porque dar espaço às crianças, aos mais pequenos, acolhê-los, cuidar deles, e fazermo-nos pequenos diante de Deus e diante uns dos outros, são precisamente as atitudes que nos abrem à ação do Senhor. Fazendo-nos pequenos, permitimos o agir de Deus em nós.

Hoje veneramos a Virgem Maria como Rainha, isto é, a mãe de um Rei, Jesus, que quis nascer pequeno, fazer-se nosso irmão, pedindo o “sim” de uma jovem humilde e frágil (cf. Lc 1,38).

Maria entendeu-o bem, a ponto de ter escolhido permanecer pequena durante toda a vida, tornando-se cada vez mais pequena, servindo, rezando, desaparecendo para dar lugar a Jesus, mesmo quando isso lhe custava muito.

Por isso, queridos irmãos e irmãs, não tenhamos medo de nos tornarmos pequenos diante de Deus e uns dos outros, não tenhamos medo de perder a nossa vida, de dar o nosso tempo, de rever os nossos programas e de redimensionar os nossos projetos quando for necessário, não para diminui-los, mas para torná-los ainda mais belos através do dom de nós mesmos e do acolhimento dos outros.

Tudo isto é simbolizado muito bem por dois belíssimos adornos tradicionais desta terra: o Kaibauk e o Belak. Ambos são feitos de metal precioso. Significa que são importantes!

O primeiro, o Kaibauk, simboliza os cornos do búfalo e a luz do sol, e é colocado no alto, adornando a fronte, bem como no topo das casas. Fala de força, energia e calor, e pode representar o poder de Deus que dá vida. Mas não só! Com efeito, colocado ao nível da cabeça e no cimo das casas, recorda-nos que, com a luz da Palavra do Senhor e a força da sua graça, também nós podemos cooperar no grande plano da redenção, através das nossas escolhas e ações.

O segundo, o Belak, coloca-se sobre o peito e é complementar do primeiro. Recorda o brilho delicado da lua, que à noite reflete humildemente a luz do sol, envolvendo tudo em uma suave fluorescência. Fala de paz, fertilidade, doçura, e simboliza a ternura da mãe que, com os delicados reflexos do seu amor, faz brilhar o que toca com a mesma luz que recebe de Deus.

Kaibauk e Belak, força e ternura do Pai e da Mãe: assim o Senhor manifesta a sua realeza, feita caridade e misericórdia.

Por isso, em conjunto, nesta Eucaristia, cada um de nós enquanto mulher e homem, enquanto Igreja, enquanto sociedade, peça a sabedoria de refletir no mundo a luz forte e terna do Deus de amor, daquele Deus que, como rezamos no Salmo responsorial, «levanta do pó o indigente e tira o pobre da miséria, para fazê-lo sentar entre os grandes» (Sl 112,7-8).


Fonte: Santa Sé.

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