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terça-feira, 10 de setembro de 2024

Homilia do Papa: Missa em Papua Nova Guiné

Viagem Apostólica à Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura
Santa Missa
Homilia do Papa Francisco
Estádio “Sir John Guise” (Port Moresby, Papua Nova Guiné)
Domingo, 08 de setembro de 2024

Observação: Foi celebrada a Missa do XXIII Domingo do Tempo Comum (Ano C).

A primeira palavra que o Senhor nos dirige hoje é: «Criai ânimo, não tenhais medo!» (Is 35,4). O profeta Isaías di-lo a todos os que sentem o coração perturbado. Deste modo, ele encoraja o seu povo e convida-o, mesmo no meio de dificuldades e sofrimentos, a olhar para o alto, para um horizonte de esperança e futuro: Deus vem salvar-nos, Ele virá e, nesse dia, «se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos» (v. 5).

Esta profecia cumpre-se em Jesus. Na narração de São Marcos (Mc 7,31-37) são sublinhados particularmente dois aspectos: a distância do homem surdo a proximidade de Jesus. Detenhamo-nos sobre estes dois elementos essenciais.


A distância do surdo. Este homem encontra-se em uma zona geográfica que, hoje em dia, chamaríamos “periferia”. O território da Decápole situa-se para lá do Jordão, longe do centro religioso de Jerusalém. Porém, aquele homem surdo experimenta outro tipo de distância: está longe de Deus, está longe dos homens, porque não tem a possibilidade de se comunicar. É surdo e, portanto, não pode ouvir os outros; é mudo e, por conseguinte, não pode falar com os demais. Este homem está separado do mundo e isolado, é prisioneiro da sua surdez e da sua mudez, devido às quais não pode abrir-se aos outros para se comunicar.

Porém, podemos interpretar esta condição de surdo-mudo em outro sentido, porque pode acontecer-nos ficar afastados da comunhão e da amizade com Deus e os irmãos quando, mais do que os ouvidos e a língua, for o coração a fechar-se. Há uma surdez interior e uma mudez do coração que dependem de tudo aquilo que nos encerra em nós mesmos, impede a relação com Deus e nos fecha aos outros: egoísmo, indiferença, medo de arriscar e de comprometer-se, ressentimento, ódio, e a lista poderia continuar. Tudo isto afasta-nos de Deus, dos irmãos e também de nós mesmos; e afasta-nos da alegria de viver.

Face a esta distância, irmãos e irmãs, Deus responde com o oposto, com a proximidade de Jesus. No seu Filho Ele quer mostrar, primeiramente, que é o Deus próximo, compassivo, solícito com a nossa vida, vencedor de todas as distâncias. E, efetivamente, no trecho do Evangelho, vemos Jesus dirigir-se a esses territórios periféricos, saindo da Judeia, para ir ao encontro dos pagãos (v. 31).

Com a sua proximidade, Jesus cura a mudez e a surdez do homem: quando nos sentimos distantes, ou escolhemos manter-nos à distância - de Deus, dos irmãos, daqueles que são diferentes de nós - então fechamo-nos, encerramo-nos em nós mesmos e acabamos por girar apenas em torno do nosso “eu”, surdos à Palavra de Deus e ao grito do próximo e, por conseguinte, incapazes de falar com Deus e com o próximo.

E vós, irmãos e irmãs que habitais esta terra tão distante, talvez tenhais a ideia de estar separados, separados do Senhor, separados dos outros homens, e isso não é verdade. Vós estais unidos, unidos no Espírito Santo, unidos no Senhor! E o Senhor diz a cada um de vós: «Abre-te!». É isto o mais importante: abrirmo-nos a Deus, abrirmo-nos aos irmãos, abrirmo-nos ao Evangelho e fazer dele a bússola da nossa vida.

Também a vós, hoje, o Senhor diz: “Coragem, não temais, povo papuano! Abre-te! Abre-te à alegria do Evangelho, abre-te ao encontro com Deus, abre-te ao amor dos irmãos”. Que nenhum de nós fique surdo e mudo perante este convite. E que o Bem-aventurado João Mazzucconi vos acompanhe neste caminho: ele, no meio de tanto desconforto e hostilidade, trouxe Cristo para o meio de vós, para que ninguém fique surdo diante da alegre Mensagem da salvação, e em todos a língua possa se soltar para cantar o amor de Deus. Que o mesmo aconteça, hoje, também convosco!


Fonte: Santa Sé

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