Páginas

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Homilia do Papa: Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior

Vésperas no Aniversário da Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior
Homilia do Papa Francisco
Basílica de Santa Maria Maior
Segunda-feira, 05 de agosto de 2024

Dois sinais marcam esta celebração: o primeiro é a tradicional “nevada”, que terá lugar daqui a pouco, durante o Magnificat; o segundo é o ícone da Salus populi romani. Estes dois sinais, corretamente interpretados, podem ajudar-nos a colher a mensagem da Palavra de Deus, que acabamos de rezar nos Salmos e de ouvir na leitura (Gl 4,4-5).

A “nevada”. Trata-se apenas de folclore ou tem um valor simbólico? Depende de nós, do modo como a compreendemos e do significado que lhe atribuímos. Todos sabemos que evoca o fenômeno prodigioso pelo qual foi indicado ao Papa Libério o local onde a Basílica primitiva devia ser construída. No entanto, o fato deste sinal se repetir na Solenidade de hoje, no interior da Basílica e durante a Liturgia, convida-nos sobretudo a interpretá-lo em sentido simbólico.


Por isso, sugiro que nos deixemos guiar por dois versículos do Livro do Sirácida [Eclesiástico], que diz o seguinte acerca da neve por Deus derramada do céu: «Os olhos admiram a beleza da sua brancura e o coração maravilha-se de a ver cair» (Eclo 43,18). Neste ponto, o sábio evidencia o duplo sentimento que o fenômeno natural suscita na alma humana: a admiração e a maravilha. Ao ver cair a neve, “os olhos admiram” e “o coração maravilha-se”. E isto guia-nos na interpretação do sinal da “nevada”: ela pode ser entendida como símbolo da graça, ou seja, de uma realidade que conjuga beleza e gratuidade. É algo que não pode merecer-se nem muito menos comprar-se, só pode receber-se enquanto dom e, como tal, é completamente imprevisível, à semelhança de uma nevada em pleno verão na cidade de Roma. A graça suscita admiração e maravilha. Não esqueçamos estas duas palavras: capacidade de admirar e capacidade de se maravilhar. Não podemos perder estas duas capacidades, porque elas entram na experiência da nossa fé.

E com esta atitude interior, o nosso olhar pode agora dirigir-se para o segundo sinal, muito mais importante: o antigo ícone mariano que é, por assim dizer, a joia desta Basílica. Nele a graça adquire plenamente a sua forma cristã na imagem da Virgem Mãe com o Menino. A Santa Mãe de Deus. Aqui a graça aparece concretizada, despojada de qualquer revestimento mitológico, mágico ou espiritualista, que na religião está sempre à espreita. No ícone encontra-se apenas o essencial: Mulher e Filho, como no texto de São Paulo que escutamos há pouco: «Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher» (Gl 4,4). A Mulher é a cheia de graça, concebida sem pecado, imaculada como a neve que acabou de cair. Deus olhou-a com admiração e maravilha - também Deus se maravilha! -, e escolheu-a como Mãe porque é “filha do seu Filho”: gerada n’Ele antes de todos os tempos, tornou-se a sua Mãe na plenitude do tempo. O Menino segura o Livro Sagrado com o braço esquerdo e com o direito abençoa; e a primeira abençoada é ela, a Mãe, a Bendita entre todas as mulheres. O seu manto escuro deixa sobressair a veste dourada do Filho: só n’Ele habita toda a plenitude da divindade; ela, de rosto descoberto, reflete a sua glória. Dispensemos algum tempo para ir ver a Virgem Maria. Olhemos para ela em silêncio, vendo todas estas coisas, olhando para este ícone que tanto nos santifica a todos. Dispensemos algum tempo, depois, para ir vê-la.

Por isso, o povo fiel vem pedir a bênção à Santa Mãe de Deus; porque ela é a medianeira da graça que brota sempre e apenas de Jesus Cristo, por obra do Espírito Santo. Especialmente durante o próximo ano, o Ano Santo do Jubileu, muitos serão os peregrinos que virão a esta Basílica para pedir a bênção à Mãe. Hoje, somos nós que aqui nos encontramos reunidos, como uma espécie de antecipação, invocando a sua intercessão pela cidade de Roma, a nossa cidade, e pelo mundo inteiro, especialmente, pela paz: a paz, que somente é verdadeira e duradoura se brota de corações arrependidos e de corações perdoados - o perdão constrói a paz, porque perdoar é a nobilíssima atitude do Senhor; a paz, que vem da Cruz de Cristo, do seu Sangue, que Ele tomou de Maria e derramou em remissão dos pecados.

Gostaria de concluir dirigindo-me à Virgem Santíssima com as palavras de São Cirilo de Alexandria, no final do Concílio de Éfeso: «Salve, ó Maria, Mãe de Deus, tu que trouxeste a luz e és puríssima. Salve, Virgem Maria, Mãe e serva. Virgem, graças Àquele que de ti nasceu; Mãe, graças Àquele que seguras nos braços. (...) Salve, Maria, tesouro de toda a terra; lâmpada inextinguível; de ti nasceu o sol da justiça». (Homilia 11: PG 77). Santa Mãe de Deus, roga por nós!

E agora convido-vos, todos juntos (vejamos se conseguis fazê-lo!), todos juntos, a repetir três vezes: «Salve, Santa Mãe de Deus». Todos juntos: «Salve, Santa Mãe de Deus. Salve, Santa Mãe de Deus. Salve, Santa Mãe de Deus».


Fonte: Santa Sé.

Confira também:

Nenhum comentário:

Postar um comentário