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terça-feira, 4 de junho de 2024

Homilia do Papa: Corpus Christi - Ano B

Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
Santa Missa, Procissão e Bênção Eucarística
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São João de Latrão
Domingo, 02 de junho de 2024

«Tomou o pão e pronunciou a bênção» (cf. Mc 14,22). Com este gesto tem início, no Evangelho de São Marcos, a narração da instituição da Eucaristia. E poderíamos partir deste gesto de Jesus - abençoar o pão - para refletir sobre as três dimensões do Mistério que estamos celebrando: o agradecimento, a memória e a presença.

Primeiro: o agradecimento. A palavra «Eucaristia» quer dizer precisamente «obrigado»: «agradecer» a Deus pelos seus dons, e neste sentido o sinal do pão é importante. É o alimento de cada dia, com o qual levamos ao Altar quanto somos e temos: vida, obras, sucessos e também fracassos, como simboliza o gracioso costume existente em algumas culturas de apanhar o pão, quando cai por terra, e beijá-lo: quer lembrar que o mesmo é precioso demais para ser lançado fora, mesmo depois de ter caído. E assim a Eucaristia ensina-nos a abençoar, recolher e beijar - sempre em ação de graças - os dons de Deus. E isto, tanto na celebração como na vida diária.

Por exemplo, não desperdiçando as coisas e talentos que o Senhor nos deu; mas também perdoando e levantando quem escorrega e cai por fraqueza ou por erro, porque tudo é dom e nada pode se perder. Pois ninguém pode ficar no chão, mas todos devem ter a possibilidade de se levantar e retomar o caminho. E nós, podemos fazer isto na nossa vida quotidiana, realizando o nosso trabalho com amor, perfeição e cuidado, com precisão, como um dom e uma missão. E, ajudando sempre quem caiu. Só uma vez na vida é permitido olhar uma pessoa de cima para baixo: para ajudá-la a reerguer-se. E esta é a nossa missão.


Para dar graças poderíamos certamente acrescentar muitas outras coisas. São comportamentos «eucarísticos» importantes, porque nos ensinam a compreender o valor daquilo que realizamos e oferecemos.

Primeiro, dar graças. Segundo: «abençoar o pão», ou seja, fazer memória. De quê? Para o antigo Israel, tratava-se de recordar a libertação da escravidão do Egito e o início do êxodo rumo à Terra Prometida. Para nós, é reviver a Páscoa de Cristo, a sua Paixão e Ressurreição, com as quais nos libertou do pecado e da morte. Fazer memória da nossa vida, fazer memória dos nossos sucessos, fazer memória dos nossos erros, fazer memória daquela mão estendida do Senhor que nos ajuda sempre a levantar de novo, fazer memória da presença do Senhor na nossa vida.

Há quem diga que é livre aquele que pensa apenas em si mesmo, que goza a vida e que, com indiferença e talvez com arrogância, faz tudo o que lhe apetece sem respeitar os outros. Isto não é liberdade: é uma escravidão encoberta, uma escravidão que nos torna ainda mais escravos.

A liberdade não se encontra nos cofres de quem acumula para si, nem nos sofás de quem se acomoda preguiçosamente no desinteresse e no individualismo: a liberdade encontra-se no Cenáculo onde uma pessoa, sem outro motivo para além do amor, se ajoelha diante dos irmãos oferecendo-lhes os próprios serviços, a própria vida como «salvados».

Por fim, o Pão eucarístico é presença real. E assim nos fala de um Deus que não está distante nem é ciumento, mas próximo e solidário com o homem; que não nos abandona, antes, pelo contrário, procura-nos, espera-nos e acompanha-nos sempre, até ao ponto de se colocar, indefeso, nas nossas mãos.

E esta sua presença convida, também a nós, a aproximar-nos dos nossos irmãos nas situações onde o amor nos reclama.

Queridos irmãos e irmãs, como é grande a necessidade, que há no nosso mundo, deste pão, da sua fragrância e do seu aroma, uma fragrância que sabe de gratidão, que sabe de liberdade, que sabe de proximidade! Dia a dia vemos cada vez mais estradas, que outrora cheiravam a pão fresco, e hoje estão reduzidas a montões de escombros por causa da guerra, do egoísmo e da indiferença. Urge devolver ao mundo o aroma bom e fresco do pão do amor, para continuar a esperar, sem nunca se cansar, e a reconstruir o que o ódio destrói.

Este é também o significado do gesto que faremos daqui a pouco com a Procissão Eucarística: partindo do Altar, levaremos o Senhor por entre as casas da nossa cidade. Não o fazemos para nos exibir, nem para alardear a nossa fé, mas para convidar todos a participarem, no Pão da Eucaristia, na vida nova que Jesus nos deu. Façamos a procissão com este estado de espírito. Obrigado.


Fonte: Santa Sé.

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