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quarta-feira, 19 de junho de 2024

Dissertações e Teses sobre Liturgia: PUC-SP 2023

Há três anos, em 2021, destacamos aqui em nosso blog cinco Dissertações de Mestrado do Programa de Estudos Pós-Graduados em Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

As cinco Dissertações, defendidas entre 2017 e 2019, orientadas pelo Padre Valeriano dos Santos Costa, Doutor em Teologia pelo Pontifício Instituto Santo Anselmo (Roma), propunham um diálogo entre a Liturgia e o pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (†2017).

Nesta postagem gostaríamos de dar continuidade à proposta destacando cinco trabalhos acadêmicos (duas Dissertações de Mestrado e três Teses de Doutorado) defendidos na PUC-SP em 2023, propondo um diálogo entre a Liturgia e o pensamento do filósofo espanhol Xavier Zubiri (†1983) nos 40 anos da sua morte.

Xavier Zubiri (†1983)

Já em 2021, com efeito, o Padre Valeriano havia orientado uma Dissertação relacionando a música litúrgica com o pensamento zubiriano, particularmente com seu conceito de “inteligência senciente”, que busca um equilíbrio entre razão e sentidos, evitando assim que a Liturgia caia nos extremos do racionalismo e do sentimentalismo.

Seguem os resumos das Dissertações e Teses, que podem ser acessadas na íntegra no site da PUC-SP, conforme os links abaixo:

A dimensão mística da Liturgia no horizonte da metafísica zubiriana
Jucilei Lima da Silva
Orientador: Valeriano dos Santos Costa
Dissertação de Mestrado (junho de 2023), 117 páginas

O objetivo deste trabalho é descrever uma dimensão da Liturgia, que dissemos mística e como o humano em sua constitutividade experiencia tal dimensão. E, como implicações, procura descrever numa linguagem mística teológica os desdobramentos na vida diária do cristão que podem e devem ocorrer ao experienciar tão grande realidade, tudo isso à luz da metafísica do filósofo espanhol Xavier Zubiri. Para tal tarefa será utilizado o método de natureza exploratória, que possibilita uma aproximação tanto do entendimento de Liturgia como do pensamento de Zubiri. Isso leva a constatar que, graças ao caráter humano de inteligência senciente, ela pode atualizar formalmente a coisa real como realidade na intelecção. A coisa fica atual, é um estar, e porque está o humano dá-se conta dela. A coisa está formalmente como realidade na inteligência senciente, que sente tal realidade.

Capítulos:
1. Horizonte da metafísica zubiriana
2. Dimensão mística da Liturgia
3. Dimensão mística da Liturgia e inteligência senciente: Implicações para vivência prática


A estrutura dinâmica da Liturgia à luz do realismo zubiriano e do n. 9 da Redemptionis Sacramentum
João José Bezerra
Orientador: Valeriano dos Santos Costa
Tese de Doutorado (junho de 2023), 199 páginas

A presente tese tem como objeto a estrutura dinâmica da Liturgia à luz do pensamento do filósofo basco Xavier Zubiri (1898-1983) e da Instrução Redemptionis Sacramentum, escrita a pedido do Papa João Paulo II no ano de 2004. Após um ano da publicação da Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia (17 de abril de 2003), o Papa João Paulo II solicitou ao Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos uma Instrução de cunho normativo para dirimir os abusos recorrentes durante a celebração da Santíssima Eucaristia, o que não era a primeira preocupação da Carta Encíclica a não ser seu conteúdo teológico-pastoral, apesar de tratar de alguns pontos acerca do perigo que os abusos perpetrados podem oferecer não somente à celebração dos outros sacramentos e sacramentais mas, principalmente, no que toca a celebração do santo sacrifício do altar. Tanto a Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia como a Instrução Redemptionis Sacramentum recuperam e direcionam todos os que tomam parte desse mistério pela fé, sejam os fiéis ou aqueles que presidem, a redescobrir, compreender melhor e celebrar o seu verdadeiro fundamento, que é o Mistério Pascal de Cristo. Tanto a Carta Encíclica como a Instrução apontam para o “ofuscamento” e para a perda da noção dessa profunda realidade e seu dinamismo próprio. Os abusos perpetrados dentro da Sagrada Liturgia, seja no momento da celebração dos sacramentais da Igreja, dos sacramentos, principalmente, no que se refere ao sacrifício do altar, na tentativa de dinamizar e tornar mais atraente para os fiéis as celebrações da Igreja, demonstram claramente que é de máxima urgência recuperar a verdadeira noção da realidade da Liturgia da Igreja e somente assim será possível entender e celebrar com admiração e respeito que o mistério da nossa fé exige. É nesse sentido que o pensamento filosófico de Xavier Zubiri se torna relevante para nossa pesquisa. Para ele a noção de realidade não é fruto de afirmações conceituais ou de ideias que podemos ter de alguma coisa real. Os conceitos e as ideias são momentos posteriores. O primeiro momento é a “nua realidade”, apreendida como ela é em e si mesma em todas as suas notas e estruturas que pouco a pouco, através do sentir senciente, passo a individuar intelectivamente. Aqui o sentir não é uma mera “captação” de dados que algo real possa vir a oferecer, mas se constitui o momento primordial do movimento intelectivo até a plena constituição da realidade sentida. No entanto, a realidade não é o que posso conceituar como se pensava na filosofia clássica, mas algo que se sente e ao mesmo tempo intelige. Somente a partir desse momento unitário de sentir inteligindo que se pode obter o conceito ou a ideia de algo o que pode se alterar na medida que sinto e intelijo outras notas. Por assim, dizer a realidade não é algo pronto e acabado, mas realidade em construção (realitas in essendo). Essa nova via de entendimento da realidade para a reflexão teológica na busca de uma interface se torna uma via noológica necessária e um “feixo” de luz para o entendimento da realidade da Sagrada Liturgia. O pensamento zubiriano nos leva a compreender a realidade da Liturgia, não como algo pronto e acabado, ou como algo rígido e fixo que basta a mera observação de rubricas e normas, mas trata-se de uma realidade dinâmica que se “faz e perfaz” em e por si mesma sem precisar de qualquer adendo desnecessário. Em um segundo momento nos leva a compreender que a realidade da Liturgia não é conceito ou alguma ideia sobre a graça de Deus ou sobre a presença de Deus, mas ali está a realidade “nua e crua” e que pode ser sentida e inteligida progressivamente através da apreensão primordial de realidade. Em um terceiro momento que ao apresentar o sentir senciente enquanto processo do sentir humano demonstrando seu momento primordial e seus modos ulteriores nos mostra que o ser humano está profundamente implicado em sua totalidade constitutiva no conhecimento de toda e qualquer realidade. Não um passivo, mas consciente, ativo e piedoso frente a qualquer realidade que se impõe sobre ele, principalmente, a realidade da Sagrada Liturgia em todo seu dinamismo estrutural, ritus et preces.

Capítulos:
1. O realismo zubiriano
2. A estrutura da Liturgia
3. Repropor a prática e o estudo da Liturgia hoje


Obras de Zubiri sobre a Inteligência senciente

A realidade sacramental da Liturgia à luz do realismo zubiriano: Análise da atualidade de Cristo, de sua Morte e Ressurreição, na celebração dos sacramentos e na vida
Marcos Vieira das Neves
Orientador: Valeriano dos Santos Costa
Tese de Doutorado (2023), 257 páginas

Esta pesquisa sobre a realidade sacramental da Liturgia à luz do realismo zubiriano - análise da atualidade de Cristo, de sua Morte e Ressurreição na celebração dos Sacramentos e na vida - tem por objetivo abordar a Liturgia enquanto realidade, na qual as ações de Cristo são atualizadas, tanto na celebração dos Sacramentos quanto na vida dos cristãos. Tal pesquisa se justifica, porque além de partir da compreensão teológica da Liturgia do Concílio Vaticano II, a apresenta como atualização das ações de Cristo, não mero sinal que remeteria a outra realidade; as ações litúrgicas são verdadeiramente reais e incorporam o homem em Cristo, fazendo dele um cristão, um “outro cristo” no mundo. Tendo como alicerce teórico-metodológico a análise das obras de Zubiri, especialmente a Trilogia da Inteligência Senciente e a Trilogia teologal, e de inúmeros comentadores, trabalhamos a hipótese a partir do seu pensamento de que a realidade sacramental da Liturgia é precisamente sacramental, porque não indica arbitrariamente algo, mas é ação do próprio Cristo, especialmente de sua ação suprema, sua Páscoa. Enquanto resultados, verificamos que o realismo zubiriano proporciona um embasamento teórico inestimável para a reflexão teológica e oferece um avanço para a Teologia litúrgica. O arcabouço dado por sua Filosofia nos permite pensar o homem e a realidade sacramental da Liturgia desde a unidade estrutural entre o sentir e o inteligir, entre o in se do homem e seu ser no mundo, que é diretamente relacionado com as coisas reais do mundo. Assim, agir, inteligir, julgar, conceber, pensar a realidade sacramental da Liturgia revelam a realidade do próprio Cristo atualizada ao homem e ao mundo. Desse modo, o pensamento zubiriano enriquece a noção de sacramentalidade proporcionado pelo Concílio e ilumina uma nova forma de ver que na Liturgia: Deus se atualiza na ação litúrgica e, por isso, a salvação na Liturgia é real. Como locus privilegiado, no qual o homem experiencia sua religação com o fundamento da realidade, ou seja, com Deus, na Liturgia a plasmação do homem em Cristo é real. Por fim, verificamos a relevância e a atualidade de nossa pesquisa sobre a realidade sacramental da Liturgia à luz do pensamento zubiriano dentro do itinerário eclesiológico de Francisco - para tal retomamos alguns elementos da “Igreja de Francisco” para estabelecer um diálogo com o pensamento de Zubiri. Assim, sua Filosofia pode contribuir para o avanço da Teologia litúrgica em uma “Igreja em saída”. Pela realidade sacramental da Liturgia, compreendida desde o realismo zubiriano, o homem é religado a Deus, plasmado em Cristo, feito “outro cristo”, enfim, dei-formado.

Capítulos:
1. A realidade sacramental da Liturgia e o realismo de Xavier Zubiri
2. A realidade sacramental da Liturgia
3. Perspectivas da nova visão de Liturgia para a Igreja em saída


O silêncio como realidade litúrgico-sacramental: Análise no horizonte da metafísica zubiriana
Rodrigo José Arnoso Santos
Orientador: Valeriano dos Santos Costa
Tese de Doutorado (outubro de 2023), 310 páginas

Em tempos hodiernos o tema do silêncio vem ocupando as pautas das pesquisas desenvolvidas pelas mais diversas Ciências que procuram estudar o ser humano. Diante de tantos ruídos que nos exercitam para a não escuta, encontramos na sociedade contemporânea homens e mulheres que, agindo como profetas, indicam a necessidade pela busca da ação de silenciar-se como caminho para a recuperação de uma existência equilibrada. Entre as Ciências que se debruçam sobre esta temática, nos deparamos com a Ciência Litúrgica, que aponta o silêncio como um gesto crível, que auxilia na celebração e atualização do Mistério Pascal. A vida de Cristo e de seus discípulos foi marcada por muitos momentos e gestos de silêncio. Em diversos eventos observamos que Ele e seus seguidores se colocaram em silêncio, a fim de ouvir a voz do Pai. Jesus ensinou aos seus o silêncio, como via de acesso ao Mistério da Fé. Todavia, sabemos que os rumores experimentados pela sociedade de certa forma entraram em nossas ações litúrgicas, em nome de uma pseudoparticipação ativa, consciente, plena e frutuosa dos cristãos nas celebrações. Desse modo, consciente do valor do silêncio para a acolhida do Mistério Pascal, que deve guiar e envolver toda a existência cristã, hoje as comunidades eclesiais são convidadas a entender o gesto de silenciar-se, como espaço salutar da manifestação de Deus, em vista da busca de uma Liturgia que se configure como fonte perene de espiritualidade. Neste sentido, buscamos neste trabalho apresentar o silêncio como uma realidade litúrgico-sacramental. A fim de atingir o escopo desta pesquisa, procuramos tratar este tema à luz do pensamento metafísico de Xavier Zubiri, que nos aponta a realidade como a fonte imediata de todo conhecimento. Somos cônscios de que o fazer teológico hoje exige o diálogo interdisciplinar, isto é, a capacidade, no caso de nossa pesquisa, de colar a Ciência Litúrgica em diálogo com a Filosofia. O diálogo entre essas duas ciências nos apontará que o silêncio, como realidade litúrgico-sacramental, só será inteligido quando a comunidade eclesial redescobrir a força dessa ação litúrgica, que nos coloca diante de Deus, aquele que é a Realidade fundante de toda a criação. O silêncio na Liturgia não significa uma fuga do mundo, mas é um deixar-se envolver e moldar pela realidade do Mistério Pascal, que não é outra do que o próprio Cristo. O qual é continuado pelas ações dos membros da comunidade eclesial.

Capítulos:
1. A realidade no pensamento de Xavier Zubiri
2. A realidade sacramental
3. O silêncio como realidade litúrgico-sacramental


Liturgia das Horas, atualização de Cristo no ritmo do tempo: Um estudo a partir do realismo zubiriano
Márcio Felipe de Souza Alves
Orientador: Valeriano dos Santos Costa
Dissertação de Mestrado (outubro de 2023), 104 páginas

A presente Dissertação tem como objetivo principal ressaltar que o Mistério Pascal só pode durar se for atualizado sistematicamente, segundo tempos determinados, como propôs a sabedoria judaica, e o Cristianismo adotou como uma das mais importantes heranças de Israel. Nesta pesquisa, toda investigação e sistematização de dados foram produzidos por meio de análises e aprofundamentos bibliográficos, que nos levaram a entender como o filósofo contemporâneo Xavier Zubiri, com sua filosofia evolucionária, compreendeu que atualizar é fazer presente uma realidade em nossa intelecção. Pudemos concluir também que, se os cristãos não se convencerem de que a fé também passa pelo “sentir”, será impossível viver de tal modo que seus corações e mentes sejam atualizados no mistério de Cristo, a partir da santificação das horas. A oração é o caminho de resistência e resposta coerente. Além disso, não se pode esquecer que a comunhão com Deus contribui para que o ser humano não se deixe levar pelo relativismo, agravado por um realismo ingênuo ou inconsistente, levando-o a acreditar que se é livre e protagonista de seu destino, enquanto se é teleguiado pelo consumo e pela propaganda. Registra-se também que a participação do ser humano nas ações litúrgicas contribui para que a comunidade possa mergulhar cada vez mais no mistério de Cristo. É um resgate da dimensão Liturgia-vida como propõe o Concílio Ecumênico Vaticano II.

Capítulos:
1. Realismo zubiriano e a atualização do mistério de Cristo no tempo
2. Liturgia das Horas: Oração de Cristo e da Igreja
3. Pistas para atualizar Cristo no tempo da Igreja



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