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terça-feira, 24 de outubro de 2023

Ângelus: XXIX Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 22 de outubro de 2023

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho da Liturgia de hoje diz-nos que alguns fariseus se unem aos herodianos para armar uma cilada a Jesus. Estavam sempre procurando fazer-lhe armadilhas. Aproximam-se d’Ele e perguntam-lhe: «É lícito ou não pagar o tributo a César?» (Mt 22,17). É um engano: se Jesus legitima o imposto, coloca-se do lado de um poder político mal tolerado pelo povo, enquanto que, se diz para não pagá-lo, pode ser acusado de rebelião contra o império. Uma verdadeira armadilha. Mas Ele escapa a esta cilada. Pede-lhes que lhe mostrem uma moeda, que tem a imagem de César, e diz: «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus» (v. 21). O que significa isto?

Estas palavras de Jesus tornaram-se de uso corrente, mas por vezes foram mal utilizadas - ou pelo menos reduzidas - para falar da relação entre a Igreja e o Estado, entre os cristãos e a política; muitas vezes são entendidas como se Jesus quisesse separar “César” e “Deus”, isto é, a realidade terrena e a realidade espiritual. Às vezes também pensamos assim: a fé com as suas práticas é uma coisa e a vida quotidiana é outra. E isso é errado. É uma “esquizofrenia”, como se a fé não tivesse nada a ver com a vida concreta, com os desafios da sociedade, com a justiça social, com a política, etc.

Na realidade, Jesus quer ajudar-nos a colocar “César” e “Deus” cada um no seu devido lugar. A César - isto é, à política, às instituições civis, aos processos sociais e econômicos - pertence o cuidado da ordem terrena; e nós, que estamos imersos nesta realidade, devemos devolver à sociedade o que ela nos oferece através do nosso contributo como cidadãos responsáveis, cuidando do que nos é confiado, promovendo o direito e a justiça no mundo do trabalho, pagando honestamente os impostos, empenhando-nos no bem comum, etc. Ao mesmo tempo, porém, Jesus afirma a realidade fundamental: que o homem pertence a Deus, o homem todo e todo o ser humano. E isto significa que não pertencemos a nenhuma realidade terrena, a nenhum “César” de turno. Pertencemos ao Senhor e não devemos ser escravos de nenhum poder mundano. Na moeda, portanto, está a imagem do imperador, mas Jesus lembra-nos que na nossa vida está gravada a imagem de Deus, que nada nem ninguém pode ofuscar. A César pertencem as coisas deste mundo, mas o homem e o próprio mundo pertencem a Deus: não nos esqueçamos disso!

Compreendamos, então, que Jesus está a restituir cada um de nós à própria identidade: na moeda deste mundo está a imagem de César, mas tu - eu, cada um de nós - que imagem trazes dentro de ti? Façamos esta pergunta a nós mesmos: eu, que imagem trago dentro de mim? Tu, que imagem trazes na tua vida? Lembramo-nos de que pertencemos ao Senhor, ou deixamo-nos moldar pela lógica do mundo e fazemos do trabalho, da política, do dinheiro os nossos ídolos a adorar?
Que a Virgem Santíssima nos ajude a reconhecer e a honrar a nossa dignidade e a de cada ser humano. 

O tributo de César (Philippe de Champaigne)

Fonte: Santa Sé.

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