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quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Homilia do Papa: Missa de encerramento da JMJ em Lisboa (2023)

Viagem Apostólica a Portugal
XXXVII Jornada Mundial da Juventude
Santa Missa
Homilia do Papa Francisco
Parque do Tejo (Campo da Graça), Lisboa
Domingo, 06 de agosto de 2023

«Senhor, é bom estarmos aqui!» (Mt 17,4). Estas palavras que o Apóstolo Pedro disse a Jesus no monte da Transfiguração, queremos fazê-las também nossas depois destes dias intensos. É bom tudo o que estamos experimentando com Jesus, aquilo que vivemos juntos, e é bom como rezamos, com tanta alegria do coração. Mas perguntamo-nos: que levamos conosco ao regressar à vida quotidiana?
Quero responder a esta pergunta com três verbos: resplandecerouvirnão temer, seguindo o Evangelho que ouvimos. Que levamos conosco? Respondo com três palavras: resplandecer, ouvir e não temer.


A primeira: resplandecer. Jesus transfigura-Se. Diz o Evangelho: «o seu rosto resplandeceu como o sol» (Mt 17,2). Recentemente tinha anunciado a sua Paixão e Morte de cruz, esfrangalhando assim a imagem de um Messias poderoso, mundano, e decepcionando as expectativas dos discípulos. Ora, para ajudá-los acolher o projeto de amor de Deus a respeito de cada um de nós, Jesus toma consigo três deles - Pedro, Tiago e João -, condu-los ao alto de um monte e transfigura-Se. E este «banho de luz» prepara-os para a noite da Paixão.

Amigos, jovens queridos, também nós hoje precisamos de um pouco de luz, um lampejo de luz que forneça esperança para enfrentar tantas obscuridades que nos assaltam na vida, tantas derrotas quotidianas, para enfrentá-las com a luz da Ressurreição de Jesus. Porque Ele é a luz sem ocaso, a luz que brilha mesmo durante a noite. Diz o sacerdote Esdras: «O nosso Deus quis fazer brilhar os nossos olhos» (Esd 9,8). O nosso Deus ilumina. Ilumina o nosso olhar, ilumina o nosso coração, ilumina a nossa mente, ilumina o nosso desejo de fazer algo na vida. Sempre com a luz do Senhor.

Mas quero dizer-vos que não ficamos luminosos colocando-nos sob os holofotes; antes, pelo contrário, isso encandeia-nos, não nos torna luminosos. Não ficamos luminosos quando exibimos uma imagem perfeita, em ordem, bem acabada, não; nem mesmo se nos sentimos fortes e bem-sucedidos: fortes e bem-sucedidos, mas não luminosos. Tornamo-nos luminosos, resplandecemos, quando, tendo acolhido Jesus, aprendemos a amar como Ele. Amar como Jesus: isto torna-nos luminosos, isto leva-nos a fazer obras de amor. Não te deixes enganar, minha amiga, meu amigo! Tu te tornarás luz no dia em que fizeres obras de amor. Ao contrário quando, em vez de fazer obras de amor aos outros, só pensas em ti mesmo como um egoísta, então a luz apaga-se.

O segundo verbo é ouvir. No monte, uma nuvem luminosa cobre os discípulos. E desta nuvem fala o Pai. E que diz? «Escutai-O»! «Este é o meu Filho predileto, escutai-O» (Mt 17,5). E é tudo... Tudo aquilo que se deve fazer na vida, está nesta palavra: Escutai-O. Escutar Jesus. Todo o segredo está aqui. Escuta o que te diz Jesus. «Mas eu não sei o que Ele me diz!». Toma o Evangelho e lê o que diz Jesus, o que Ele diz ao teu coração. Porque Ele tem palavras de vida eterna para nós, revela que Deus é Pai, Deus é amor. Ele aponta-nos o caminho do amor. Escuta Jesus! Porque nós, mesmo quando com boa vontade nos embrenhamos por caminhos que até parecem ser de amor, em última análise não passam de egoísmo mascarado de amor. Cuidado com os egoísmos mascarados de amor! Escuta-O, porque Jesus te dirá qual é o caminho do amor. Escuta-O.

Resplandecer é a primeira palavra: sede luminosos! A segunda: escutar, para não se enganar no caminho! E finalmente a terceira palavra: não ter medo. Não tenhais medo. Uma expressão que se repete muito na Bíblia. Concretamente no Evangelho, no momento da Transfiguração, as últimas palavras que Jesus disse aos discípulos foram estas: «Não tenhais medo» (Mt 17,7).

A vós, jovens, que vivestes esta alegria (estava para dizer esta glória, e de certo modo este nosso encontro também é glória); a vós, que cultivais grandes sonhos mas frequentemente ofuscados pelo temor de que não se realizem; a vós, que às vezes pensais que não ides conseguir (por vezes assalta-nos um pouco de pessimismo); a vós, jovens, tentados a desanimar neste tempo, a julgar-vos talvez inadequados ou a esconder a angústia mascarando-a com um sorriso; a vós, jovens, que quereis mudar o mundo (é um bem que queirais mudar o mundo!) e que quereis lutar pela justiça e a paz; a vós, jovens, que investis na vida esforço e imaginação, ficando porém com a sensação de que não bastam; a vós, jovens, de quem a Igreja e o mundo têm necessidade como a terra tem de chuva; a vós, jovens, que sois o presente e o futuro... Sim, precisamente a vós, jovens, é que Jesus diz hoje: «Não tenhais medo», «não tenhais medo»! Em um breve momento de silêncio, cada um repita para si mesmo, no próprio coração, estas palavras: «Não tenhais medo».

Queridos jovens, gostaria de poder fixar cada um de vós nos olhos e dizer: Não temas, não tenhas medo! Mais, tenho uma coisa belíssima para vos dizer: já não sou eu, mas é o próprio Jesus que vos fixa agora. Ele que vos conhece, conhece o coração de cada um de vós, conhece a vida de cada um de vós, conhece as alegrias, conhece as tristezas, os sucessos e os fracassos, conhece o vosso coração. E hoje aqui em Lisboa, nesta Jornada Mundial da Juventude, Ele diz-vos: «Não temais, não temais! Coragem, não tenhais medo!».

Palavras no final da Missa, antes da oração do Ângelus:

Queridos irmãos e irmãs,
Uma palavra ressoou muitas vezes nestes dias: «obrigado». É belo aquilo que nos disse o Patriarca de Lisboa: que «obrigado» não expressa só a gratidão pelo que se recebeu, mas também o desejo de corresponder ao bem. Quanto bem recebemos todos nós neste evento de graça! E agora o Senhor faz-nos sentir a necessidade de partilhá-lo também com os outros, dando alegremente testemunho do dom gratuito de Deus, do bem que Ele colocou nos nossos corações.

Mas, antes de nos despedirmos, quero também eu dizer «obrigado». Digo-o, em primeiro lugar, ao Cardeal Clemente e, nele, à Igreja e a todo o povo português: obrigado! Obrigado ao Senhor Presidente, que nos acompanhou nos eventos destes dias; obrigado às instituições nacionais e locais pelo apoio e assistência prestados; obrigado aos Bispos, sacerdotes, consagrados e leigos. E obrigado a ti, Lisboa, que permanecerás na memória destes jovens como «casa de fraternidade» e «cidade dos sonhos». Exprimo também a minha gratidão ao Cardeal Farrell - que rejuvenesceu nestas Jornadas - e àqueles que as prepararam, bem como a quantos as acompanharam com a oração. Obrigado aos voluntários: para eles, este aplauso saído do coração pelo seu grande serviço! E um agradecimento especial a quem velou pela JMJ a partir do alto, ou seja, aos Santos patronos do evento e a um em particular: João Paulo II, que deu vida às Jornadas Mundiais da Juventude.

E obrigado a todos vós, queridos jovens! Deus vê inteiramente o bem que sois; só Ele conhece o que semeou nos vossos corações. Partis daqui com o que Deus semeou no coração, fazei-o crescer, guardai-o com diligência. Queria fazer-vos uma recomendação: mantende vivos, na mente e no coração, os momentos mais encantadores. Assim, quando chegarem momentos de cansaço e desânimo - que são inevitáveis - e, quem sabe, a tentação de deixar de caminhar ou de vos fechardes em vós mesmos, podereis com a memória reavivar as experiências e a graça destes dias, porque - nunca o esqueçais - esta é a realidade, isto é o que vós sois: o santo Povo fiel de Deus que caminha com a alegria do Evangelho. Desejo também enviar uma saudação aos jovens que não puderam estar aqui, mas participaram nas iniciativas organizadas pelos seus países, pelas Conferências Episcopais, pelas Dioceses; penso, por exemplo, nos irmãos e irmãs subsaarianos, reunidos em Tânger. A todos, obrigado, obrigado!

E de modo particular acompanhamos com o afeto e a oração aqueles que não puderam vir por causa de conflitos e guerras. No mundo, há muitas guerras, muitos conflitos. Cingindo-me a este continente, sinto grande tristeza pela querida Ucrânia, que continua a sofrer tanto. Amigos, permiti também que eu, já idoso, partilhe convosco, jovens, um sonho que trago no coração: o sonho da paz, o sonho dos jovens que rezam pela paz, vivem em paz e constroem um futuro de paz. Através da oração do Ângelus, coloquemos nas mãos de Maria, Rainha da Paz, o futuro da humanidade.

E há um último obrigado que gostaria de sublinhar antes de concluir: Obrigado às nossas raízes, aos nossos avós, que nos transmitiram a fé, que nos transmitiram o horizonte duma vida. São as nossas raízes. E ao voltardes para casa continuai, por favor, a rezar pela paz. Vós sois um sinal de paz para o mundo, um testemunho de como as diferentes nacionalidades, línguas e histórias podem unir em vez de dividir. Vós sois esperança dum mundo diferente. Obrigado. Avante!

E chega enfim um momento que todos esperam: o anúncio da próxima etapa do caminho. Mas antes de vos referir a sede da XLI Jornada Mundial da Juventude, quero fazer-vos um convite: marco encontro com os jovens de todo o mundo no ano de 2025, em Roma, para celebrarmos juntos o Jubileu dos jovens! Lá vos espero em 2025 para celebrarmos juntos o Jubileu dos Jovens. A próxima Jornada Mundial da Juventude terá lugar na Ásia: será em Seoul na Coreia do Sul! E assim, da fronteira ocidental da Europa, passará no ano de 2027 ao extremo Oriente: é um belo sinal da universalidade da Igreja e do sonho de unidade do qual vós sois testemunhas!

E por fim dirigimos um último obrigado a duas pessoas especiais, aos dois protagonistas principais deste encontro. Estiveram aqui conosco, e continuarão a estar conosco; nunca perdem de vista as nossas vidas, amam as nossas vidas como mais ninguém o poderia fazer. Obrigado a Ti, Senhor Jesus. Obrigado a Ti, Maria, nossa Mãe. E agora rezemos...


Fonte: Santa Sé.

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