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terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Homilia do Papa: Solenidade da Santa Mãe de Deus 2023

Santa Missa na Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus
56º Dia Mundial da Paz
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Pedro
Domingo, 1° de janeiro de 2023

Santa Mãe de Deus! Era a aclamação jubilosa do povo santo de Deus que ressoava pelas ruas de Éfeso no ano 431, quando os Padres do Concílio proclamaram Maria Mãe de Deus. Trata-se de um dado essencial da fé, mas sobretudo de uma notícia maravilhosa: Deus tem uma Mãe e, por conseguinte, está ligado para sempre à nossa humanidade, como um filho à mãe, a ponto de a nossa humanidade ser a sua humanidade. É uma verdade tão clamorosa e consoladora que o último Concílio, aqui celebrado, afirmou: «Pela sua Encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-se de certo modo a cada homem. Trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-Se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado» (Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et spes, n. 22). Eis o que fez Deus com o seu nascimento de Maria: mostrou o seu amor concreto pela nossa humanidade, abraçando-a real e plenamente. Irmãos, irmãs, Deus não nos ama só com palavras, mas com fatos; não nos ama lá «do alto», de longe, mas «de perto», precisamente de dentro da nossa carne, porque em Maria o Verbo se fez carne e, no peito de Cristo, continua a bater um coração de carne, que palpita de amor por cada um de nós!


Santa Mãe de Deus! Muitos livros e grandes tratados se escreveram sobre este título; mas estas palavras entraram no coração do santo povo de Deus sobretudo com a oração mais familiar e doméstica que acompanha o ritmo dos dias, os momentos mais duros e as esperanças mais ousadas, ou seja, a Ave Maria. De fato, depois de algumas frases tiradas da Palavra de Deus, começa assim a segunda parte desta oração: «Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores...». Esta invocação marcou muitas vezes os nossos dias e permitiu que, através de Maria, Deus se aproximasse das nossas vidas e da nossa história: rezada nas mais diversas línguas, desfiando as contas do terço e nos momentos de necessidade, diante de uma imagem sacra ou caminhando pela estrada. A esta invocação - Mãe de Deusrogai por nós, pecadores -, a Mãe de Deus sempre responde! Escuta os nossos pedidos, abençoa-nos com o seu Filho nos braços, traz-nos a ternura de Deus feito carne; em uma palavra, dá-nos esperança. E, no início deste ano, precisamos de esperança, como a terra precisa de chuva. O ano, que se abre sob o signo da Mãe de Deus e nossa, diz-nos que a chave da esperança é Maria, e a antífona da esperança é a invocação Santa Mãe de Deus. E hoje confiamos à nossa Mãe Santíssima o amado Papa Emérito Bento XVI, para que ela o acompanhe na sua passagem deste mundo para Deus.

Rezemos à Mãe de modo especial pelos filhos que sofrem e já não têm a força de rezar, por tantos irmãos e irmãs atingidos pela guerra em tantas partes do mundo, que vivem estes dias de festa na escuridão e no frio, na miséria e no medo, submersos na violência e na indiferença! Por quantos não têm paz, clamemos a Maria, a mulher que trouxe ao mundo o Príncipe da paz (cf. Is 9,5; Gl 4,4). Nela, Rainha da paz, realiza-se a bênção que ouvimos na 1ª leitura: «O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz» (Nm 6,26). Pelas mãos de uma Mãe, a paz de Deus quer entrar nas nossas casas, nos nossos corações, no nosso mundo. Mas como fazer para acolhê-la?

Deixemo-nos aconselhar pelos protagonistas do Evangelho de hoje, os primeiros que viram a Mãe com o Menino: os pastores de Belém. Eram pessoas pobres, talvez até bastante rudes e, naquela noite, estavam de serviço. Foram precisamente eles - não os sábios e nem mesmo os poderosos - os primeiros a reconhecer o Deus próximo, o Deus que veio pobre e gosta de estar com os pobres. Dos pastores, o Evangelho começa por destacar dois gestos muito simples, mas que não são sempre fáceis: os pastores foram e viram. Dois gestos: ir ver.

Em primeiro lugar, ir. O texto diz que os pastores «foram às pressas» (Lc 2,16). Não ficaram parados. Era noite, tinham os seus rebanhos para cuidar e estavam certamente cansados: poderiam aguardar a aurora, esperar pelo nascer do sol para ir ver um Menino deitado numa manjedoura. Mas não; foram às pressas, porque, na presença de coisas importantes, é preciso reagir prontamente, não adiar, pois «a graça do Espírito não tolera a lentidão» (Santo Ambrósio, Comentário sobre São Lucas, 2). E assim encontraram o Messias, o esperado que há séculos muitos procuravam.

Irmãos, irmãs, para acolher Deus e a sua paz, não podemos ficar comodamente parados à espera que as coisas melhorem. É preciso levantar-se, aproveitar as oportunidades da graça, ir, arriscar. É preciso arriscar. Hoje, no início do ano, em vez de ficarmos pensando e esperando que as coisas mudem, será bom interrogar-nos: «Eu, neste ano, aonde quero ir? A quem vou fazer bem?». Muitos, na Igreja e na sociedade, esperam o bem que tu, e só tu, podes proporcionar, o teu serviço. E hoje, face à preguiça que anestesia e à indiferença que paralisa, frente ao risco de nos limitarmos a ficar sentados diante de uma tela com as mãos no teclado, os pastores desafiam-nos a ir, a comover-nos com o que acontece no mundo, a sujar as mãos na realização do bem, a renunciar a toda uma série de hábitos e comodidades para nos abrirmos às novidades de Deus, que se encontram na humildade do serviço, na coragem de prestar cuidados. Irmãos e irmãs, imitemos os pastores: vamos!

Diz o Evangelho que, tendo chegado, os pastores «encontraram Maria e José e o recém-nascido, deitado na manjedoura» (Lc 2,16). E observa em seguida que, «tendo-o visto» (v. 17), começaram, cheios de maravilha, a contar aos outros o que lhes tinham dito de Jesus e a glorificar e louvar a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto (vv. 17-18.20). O ponto de virada deu-se ao tê-lo visto. É importante ver, abraçar com o olhar, permanecer ali, como os pastores, diante do Menino nos braços da Mãe. Sem dizer nada, sem perguntar nada, sem fazer nada. Olhar em silêncio, adorar, regalar os olhos com a ternura consoladora de Deus humanado e da sua e nossa Mãe. No início do ano, entre tantas novidades que gostaríamos de experimentar e inúmeras coisas que gostaríamos de fazer, incluamos a de dedicar tempo a ver, ou seja, a abrir os olhos e mantê-los abertos diante daquilo que conta: Deus e os outros. Tenhamos a coragem de nos abrir à maravilha do encontro, que é o estilo de Deus; uma coisa muito diferente da sedução do mundo, que te tranquiliza. A maravilha de Deus, o encontro dá-te paz; o mundo consegue apenas anestesiar-te e pôr-te tranquilo.

Quantas vezes, levados pela pressa, não temos tempo sequer de parar um minuto na companhia do Senhor para ouvir a sua Palavra, rezar, adorar, louvar! E o mesmo acontece em relação aos outros: levados pela pressa ou pelo protagonismo, não temos tempo para escutar a esposa, o marido, para conversar com os filhos, para lhes perguntar como se sentem dentro, e não só como vão os estudos e a saúde. Faz muito bem deter-se a escutar os idosos, o avô e a avó, para ver a profundidade da vida e redescobrir as raízes. Sendo assim, perguntemo-nos se somos capazes de ver quem vive ao nosso lado, quem mora no nosso prédio, quem encontramos diariamente pela estrada. Irmãos e irmãs, imitemos os pastores: aprendamos a ver! A compreender com o coração, vendo. Aprendamos a ver.

Ir e ver. Hoje o Senhor veio para o meio de nós e a Santa Mãe de Deus coloca-o diante dos nossos olhos. Redescubramos, no ímpeto de ir e na maravilha de ver, os segredos para fazer verdadeiramente novo este ano, e vencer o cansaço que paralisa ou a falsa paz da sedução.

E agora, irmãos e irmãs, convido-vos todos a olhar para Nossa Senhora. Aclamemo-la três vezes «Santa Mãe de Deus!», como fazia o povo de Éfeso: Santa Mãe de Deus! Santa Mãe de Deus! Santa Mãe de Deus!


Fonte: Santa Sé.

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