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segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Ângelus: IV Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 29 de janeiro de 2023

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Na Liturgia de hoje são proclamadas as bem-aventuranças segundo o Evangelho de Mateus (Mt 5,1-12). A primeira é fundamental e diz: «Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o reino dos céus» (v. 3).

Quem são os “pobres em espírito”? São aqueles que sabem que não bastam a si mesmos, que não são autossuficientes, e vivem como “mendigos de Deus”: sentem necessidade de Deus e reconhecem que o bem vem d’Ele, como dom, como graça. Quem é pobre em espírito, guarda o que recebe; por isso deseja que nenhum dom seja desperdiçado. Hoje gostaria de me concentrar neste aspecto típico dos pobres em espírito: não desperdiçar. Os pobres em espírito procuram não desperdiçar nada. Jesus mostra-nos a importância de não desperdiçar, por exemplo após a multiplicação dos pães e dos peixes, quando pede para recolher a comida que sobra para que nada se perca (Jo 6,12). Não desperdiçar permite-nos apreciar o valor de nós mesmos, das pessoas e das coisas. Infelizmente, contudo, este princípio é frequentemente ignorado, especialmente nas sociedades mais abastadas, onde dominam as culturas do desperdício e do descarte: ambas são uma peste. Gostaria, portanto, de propor três desafios contra a mentalidade do desperdício e do descarte.

Primeiro desafio: não desperdiçar o dom que nós somos. Cada um de nós é um bem, independentemente dos dotes que temos. Cada mulher, cada homem é rico não só de talentos, mas também de dignidade, é amado por Deus, vale, é precioso. Jesus lembra-nos que somos abençoados não pelo que temos, mas pelo que somos. E quando uma pessoa desanima e se dissipa, desperdiça-se a si própria. Lutemos, com a ajuda de Deus, contra a tentação de nos considerarmos inadequados, errados, e de nos lamentarmos.

Depois, o segundo desafio: não desperdiçar os dons que temos. Resulta que todos os anos no mundo cerca de um terço da produção total de alimentos é desperdiçada. E isto acontece enquanto tantos estão morrendo de fome! Os recursos da criação não podem ser utilizados dessa forma; os bens devem ser guardados e partilhados, para que a ninguém falte o necessário. Não desperdicemos o que temos, mas difundamos uma ecologia de justiça e caridade, de partilha.

Por fim, o terceiro desafio: não descartar as pessoas. A cultura do descarte diz: uso-te enquanto me serves; quando já não me interessas ou és um obstáculo para mim, ponho-te de lado. E é especialmente assim que são tratados os mais frágeis: os nascituros, os idosos, os necessitados e os desfavorecidos. Mas as pessoas não podem ser jogadas fora, os desfavorecidos não podem ser jogados fora! Cada um é um dom sagrado, cada um é um dom único, em todas as idades e em todas as condições. Respeitemos e promovamos a vida sempre! Não descartemos a vida!

Estimados irmãos e irmãs, façamo-nos algumas perguntas. Antes de tudo, como vivo a pobreza de espírito? Dou espaço a Deus, acredito que Ele é o meu bem, a minha verdadeira e grande riqueza? Acredito que Ele me ama, ou desanimo com tristeza, esquecendo que sou um dom? E depois: tenho o cuidado de não desperdiçar, sou responsável na utilização das coisas, dos bens? E estou disposto a partilhá-los com os outros, ou sou egoísta? Por fim: considero os mais frágeis como dons preciosos, dos quais Deus me pede para cuidar? Lembro-me dos pobres, daqueles que não têm o necessário?

Ajude-nos Maria, Mulher das Bem-aventuranças, a testemunhar a alegria de que a vida é um dom e a beleza de fazer de nós uma dádiva.

“Bem-aventurados os pobres em espírito...”

Fonte: Santa Sé.

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