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segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Ângelus: II Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 15 de janeiro de 2023

Estimados irmãos e irmãs, bom domingo!
O Evangelho da Liturgia de hoje (Jo 1,29-34) relata o testemunho de João Batista sobre Jesus, depois de tê-lo batizado no rio Jordão. Lê-se assim: «Dele é que eu disse: “Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque existia antes de mim”» (vv. 29-30).

Esta declaração, este testemunho, revela o espírito de serviço de João. Ele tinha sido enviado para preparar o caminho ao Messias e tinha-o feito sem se poupar. Humanamente falando, poderíamos pensar que lhe seria concedido um “prêmio”, um lugar relevante na vida pública de Jesus. Mas não. João, tendo cumprido a sua missão, sabe afastar-se, retira-se de cena para dar lugar a Jesus. Viu o Espírito descer sobre Ele (vv. 33-34), indicou-o como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e agora, por sua vez, põe-se em humilde escuta. De profeta torna-se discípulo. Ele pregou ao povo, reuniu discípulos e formou-os durante muito tempo. No entanto, não vincula ninguém a si. E isto é difícil, mas é o sinal do verdadeiro educador: não ligar as pessoas a si mesmo. João faz isto: coloca os seus discípulos nas pegadas de Jesus. Não está interessado em ter um séquito para si, em obter prestígio e sucesso, mas testemunha e depois dá um passo atrás, para que muitos possam ter a alegria de encontrar Jesus. Podemos dizer: ele abre a porta e sai.

Com este espírito de serviço, com a sua capacidade de dar lugar a Jesus, João Batista ensina-nos algo importante: a libertação dos apegos. Sim, porque é fácil apegar-se a papéis e posições, à necessidade de ser estimado, reconhecido e recompensado. E isto, embora seja natural, não é uma coisa boa, porque o serviço requer gratuidade, cuidar dos outros sem benefício para si mesmo, sem segundas intenções, sem esperar retribuição. Também a nós fará bem cultivar, como João, a virtude de nos afastarmos no momento apropriado, testemunhando que o ponto de referência na vida é Jesus. Pôr-se de lado, aprender a despedir-se: cumpri esta missão, este encontro, afasto-me e deixo espaço ao Senhor. Aprender a afastar-se, a não pretender algo como uma retribuição para nós.

Pensemos em como isto é importante para um sacerdote, que é chamado a pregar e a celebrar, não por protagonismo ou interesse, mas para acompanhar os outros a Jesus. Pensemos como isto é importante para os pais, que criam os filhos com tantos sacrifícios, mas depois têm de deixá-los livres para seguirem o próprio caminho no trabalho, no matrimônio, na vida. É bom e correto que os pais continuem a assegurar a sua presença, dizendo aos seus filhos: “Não vos deixaremos sozinhos”, mas discretamente, sem intrusões. A liberdade de crescer. E o mesmo se aplica a outros âmbitos, como a amizade, a vida de casal, a vida comunitária. Libertar-se dos apegos do próprio ego e saber afastar-se custa, mas é muito importante: é o passo decisivo para crescer no espírito de serviço, sem procurar retribuição.

Irmãos, irmãs, procuremos perguntar-nos: somos capazes de deixar espaço aos outros? De ouvi-los, de deixá-los livres, de não os atar a nós, pretendendo reconhecimentos? Inclusive de deixá-los falar, às vezes. Não dizer: “Mas não sabes nada!”. Deixar falar, dar espaço aos outros. Atraímos os outros para Jesus ou para nós mesmos? E ainda, seguindo o exemplo de João: sabemos como nos regozijar que as pessoas empreendam o próprio caminho e sigam a sua chamada, mesmo que isso signifique um pouco de desapego de nós? Regozijamo-nos com as suas realizações, com sinceridade e sem inveja? Isto significa deixar que os outros cresçam.

Que Maria, a serva do Senhor, nos ajude a libertar-nos dos apegos, a dar espaço ao Senhor e aos demais.

"Eis o Cordeiro de Deus" (Masolino da Panicale)

Fonte: Santa Sé.

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