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quarta-feira, 6 de abril de 2022

Dom Henrique Soares da Costa: Paixão segundo Lucas 17-18

“Em verdade Eu te digo: ainda hoje estarás Comigo no Paraíso” (Lc 23,43).

Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas

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Paixão segundo Lucas XVII: Lc 23,39-43

Um dos malfeitores crucificados O insultava, dizendo: “Tu não és o Cristo? Salva-Te a Ti mesmo e a nós!” Mas o outro o repreendeu, dizendo: “Nem sequer temes a Deus, Tu que sofres a mesma condenação? Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas Ele não fez nada de mal”. E acrescentou: “Jesus, lembra-Te de mim, quando entrares no Teu Reinado”. Jesus lhe respondeu: “Em verdade Eu te digo: ainda hoje estarás Comigo no Paraíso” (Lc 23,39-43).

Ladrão esperto, que rouba até à última hora: rouba o Coração de Cristo, rouba o Reino dos Céus! Primeiro, reconhece-se pecador: não procura mascarar seu crime. Sabe que Jesus é inocente, reconhece que Jesus não fez nada de mal. Depois, confessa seu pecado: “Estamos recebendo o que merecemos!” E, exatamente da consciência do próprio pecado, nasce o bendito e humilde pedido de misericórdia: “Jesus, lembra-Te de mim, quando entrares no Teu Reinado”. Escuta, então, as palavras mais consoladoras que alguém poderia ouvir na hora da morte: “Ainda hoje estarás Comigo no Paraíso!” Hoje estarás Comigo e, onde Eu estiver, aí está o teu paraíso, a alegria sem fim! Estar com Jesus, d’Ele não se separar nem na vida nem na morte: eis a maior esperança e a maior honra para o cristão!

Crucificação - Duccio di Buoninsegna

- Senhor, que na hora de minha morte, naquela hora tremenda, de solidão total, eu possa também ouvir estas palavras: “Ainda hoje, estarás Comigo, pois que nem a vida nem a morte podem separar-te do Meu amor!” Mas, para isso, eu Te peço humildemente: “Jesus, lembra-Te de mim quando vieres no Teu Reino!”.

Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz remistes o mundo!

Paixão segundo Lucas XVIII: Lc 23,44-49

Já era mais ou menos meio-dia e uma escuridão cobriu toda a terra até as três horas da tarde, pois o sol parou de brilhar. A cortina do Santuário rasgou-se pelo meio, e Jesus deu um forte grito: “Pai, em Tuas mãos entrego o Meu espírito”. Dizendo isso, expirou. O oficial do exército romano viu o que acontecera e glorificou a Deus, dizendo: “De fato! Este homem era justo!” E as multidões, que tinham acorrido para assistir, viram o que havia acontecido e voltaram para casa, batendo no peito. Todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres que O acompanhavam desde a Galileia, ficaram à distância, olhando essas coisas (Lc 23,44-49).

Ao meio-dia, ao sol a pino, tudo se fez escuro. Escuro de uma escuridão diferente, aquela do coração, aquela de uma história humana marcada pelo pecado a ponto de tornar-se absurda! Era meio-dia e tudo estava escuro, porque o Sol que não tem ocaso encontrava-Se envolto nas trevas da dor, da irrisão, da morte! “É a vossa hora e o poder das trevas!” - Quão grandes, quão densas as nossas trevas!

O véu do Templo, aquele que separava o Santo dos Santos, rasgou-se pelo meio! Fato cheio de significado! Uma vez por ano o Sumo Sacerdote entrava no Santo dos Santos, atravessando o véu. Entrava com o sangue de um cordeiro para implorar o perdão pelo Povo de Israel. Tudo aquilo era uma profecia, uma imagem! Agora o verdadeiro Sumo Sacerdote, o nosso Jesus, iria entrar no Santuário dos Céus e não com o sangue de cordeiros, mas com o Seu próprio sangue e uma vez por todas, por toda a eternidade, para apresentá-lo ao Pai como perdão pela humanidade toda! Nunca esqueçamos: o Sacrifício da Cruz é um ato religioso, é um ato de culto, é um sacrifício sagrado, é a imolação do Cordeiro puro e santo que tira o pecado do mundo! E este Sacrifício bendito, o Senhor deixou para sempre no coração de Sua Igreja: toda vez que celebramos a santa Eucaristia, torna-se presente sobre o Altar a imolação do Senhor, torna-Se presente o Cordeiro morto e ressuscitado, entregue ao Pai para a Vida do mundo, como Sacrifício vivo e santo, único e irrepetível, mas sempre presente no coração da Igreja como louvor, ação de graças, expiação e salvação! Que nunca duvidemos, como fazem alguns sem fé, mesmo dentro da Igreja - dentro ao menos teoricamente -, a Eucaristia é o próprio Sacrifício de Cristo, único e irrepetível, oferecido continuamente pela salvação nossa e do mundo inteiro! A Eucaristia não é uma simples ceia, não é uma festa! É um Sacrifício incruento e santo no qual o Filho Eterno torna presente a Sua oferta ao Pai na força do Santo Espírito. Este Sacrifício é celebrado ritualmente na forma de um Banquete sagrado, de modo que o Altar da oferta é também Mesa da comunhão! Esta é a nossa fé. Só esta!

E Jesus morreu! Saiu deste mundo rezando como neste mundo entrou! Ao entrar no mundo, ao vir ao seio da Virgem, Ele mesmo dissera: “Tu não quiseste sacrifício, Tu formaste-Me um corpo! Eu venho, ó Pai, para fazer a Tua vontade!” (Sl 39,7-9; Hb 10,5-7). E agora, aquele sim é consumado: Seu corpo, formado pelo Pai no seio de Maria, é ofertado na Cruz: “Eu Me entrego totalmente nas Tuas mãos, ó Pai, entrego-Te o Espírito Santo no qual Tu Me geraste no ventre da Virgem e que sobre Mim derramaste no Jordão! Entrego-Me a Ti, espero em Ti! Sei que Tu não Me deixarás nas sombras da morte!”. Afirmar que Jesus entrou e saiu do mundo rezando é dizer que toda a Sua existência foi uma oração, foi vida vivida diante do Pai e para o Pai. Ele nunca viveu para Si, nunca Se poupou: tudo quanto foi, fez e disse, fê-lo para o Pai! Este deve ser o nosso modo de viver: viver na presença de Deus, viver conscientes de que Dele viemos e para Ele vamos; nunca viver fechados em nós e para nós! Só isto é viver de verdade, é viver na forma de Cristo!

São Lucas, ao narrar a Morte de Jesus, faz um jogo de palavras e de ideias: tudo estava escuro. Era treva. A Luz morrera. E, no entanto, “o oficial do exército romano viu...”, “as multidões, que tinham acorrido para assistir, viram...”, “todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres que O acompanhavam desde a Galileia, ficaram à distância, olhando...”. É como se a Morte do Senhor dissipasse a trevas daqueles corações: o oficial pagão viu, mesmo na treva, as multidões de judeus também viram e bateram no peito, as mulheres discípulas conseguiram olhar, mesmo na treva...

- Jesus, que Tua morte nos dê Vida, que Tua Paixão nos alivie, que a treva da Morte em que entraste nos dê luz, a luz da verdade que enche de sentido a existência! Queremos ficar Contigo, Senhor, e, tendo contemplado a Tua santíssima Paixão, ficaremos na vigilância, à espera da Tua bendita Ressurreição!

Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz remistes o mundo! 

Dom Henrique venera a Cruz

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