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sexta-feira, 18 de março de 2022

Dom Henrique Soares da Costa: Paixão segundo Lucas 7-8

“Não seja feita a Minha vontade, mas a Tua!” (Lc 22,42).

Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas

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Paixão segundo Lucas VII: Lc 22,39-46

Jesus saiu e, como de costume, foi para o Monte das Oliveiras. Os discípulos O acompanharam. Chegando ao lugar, Jesus lhes disse: “Orai para não entrardes em tentação”. Então afastou-Se a uma certa distância e, de joelhos, começou a rezar: “Pai, se queres, afasta de Mim este cálice; contudo, não seja feita a Minha vontade, mas a Tua!” apareceu-Lhe um anjo do céu, que O confortava. Tomado de angústia, Jesus rezava com mais insistência. Seu suor tornou-se como gotas de sangue que caíam no chão. Levantando-Se da oração, Jesus foi para junto dos discípulos e encontrou-os dormindo, de tanta tristeza. E perguntou-lhes: “Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai para não entrardes em tentação” (Lc 22,39-46).

Quantas vezes Jesus não deve ter rezado durante à noite naquele monte! São Lucas diz: “como de costume, foi para o Monte das Oliveiras”. O Senhor rezou, o Senhor fez de toda a Sua existência uma oração, um estar e caminhar na presença do Pai... Toda a existência humana do Filho bendito de Deus foi um diálogo com o Pai. Por isso, sempre e em tudo, o nosso santíssimo Salvador não fez nada mais que falar o que o Pai mandara, fazer o que o Pai Lhe ordenara, cumprir a missão do Pai recebida... E agora, na Hora suprema, Hora da dor, da escuridão interior, da agonia, fria como aquela noite, fria como aquelas trevas, o Filho amado pode continuar com os olhos fixos no Pai! Só quem reza vê a Deus, só quem reza caminha diante de Deus, só quem reza sabe a vontade de Deus, só quem reza pode discernir os caminhos de Deus!

Agonia no Getsêmani - Duccio di Buoninsegna

Por isso, nesta hora tremenda, a advertência de Jesus à Sua Igreja, a cada um de nós: “Orai para não entrardes em tentação”. Não há outro caminho! “Vigiai, unidos a Mim, Comigo orando, sempre orando! Orai para estardes Comigo, orai para ritmar vosso coração no ritmo do Meu, orai para que vossa luta seja a Minha luta e vosso combate o Meu combate! Orai para sentirdes como Eu, para verdes como Eu vejo!”.

Jesus reza em agonia, Jesus reza com a alma humana em trevas, Jesus reza na angústia que nós sentimos nos momentos de profunda treva da nossa existência! Ele, de verdade, experimentou a nossa agonia - e ainda maior, pois Sua dor era moral e espiritual: ali, naquele horto, Ele sentiu toda a densidade do pecado do mundo, da maldade dos homens, das trevas da história humana! Tudo parecia inútil, tudo sem sentido, tudo sem Deus! “Pai, onde estás? Pai, por que escondes Teu Rosto bendito que ilumina Meus dias?”. Silêncio! Deus Se cala!

Afastou-se a uma certa distância e, de joelhos, começou a rezar: ‘Pai, se queres, afasta de Mim este cálice; contudo, não seja feita a Minha vontade, mas a Tua!’ Apareceu-Lhe um anjo do céu, que O confortava. Tomado de angústia, Jesus rezava com mais insistência. Seu suor tornou-se como gotas de sangue que caíam no chão”. A dor foi tanta, a prostração moral é tamanha, que o Senhor caiu por terra, como Seu suor em sangue... Bendita a nossa terra, a terra de nossa vida, que bebeu o sangue angustiado do Salvador! E Ele rezou com mais insistência, teimosamente, com perseverança... E o Pai silenciou! “Pai amado! Pai bendito! Eu sei que sempre Me escutas, Eu sei que sempre Me amas!” E o Pai o confortou... Mas, Se manteve silencioso e levou o Filho até a morte...

Senhor, Pai queridíssimo, quem pode compreender Teus caminhos? Quem pode sondar Teus desígnios? Quem pode ver as marcas dos Teus passos quando passas nas escuridões e dores de nossa pobre vida?

Senhor, sustenta a nossa fé! Senhor, une nosso coração ao Coração do Teu Filho em agonia! Senhor bendito, Deus santo de Israel, Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, acorda-nos do sono de nossa pouca fé, de nossa indiferença, de nosso medo! Livra-nos do sono que nos faz ignorar Tuas dores nas dores de Tua Igreja, dos Teus servos fieis!

E Tu, ó queridíssimo Jesus, ó bendito e santo Salvador nosso!

Tu, repreende-nos, corrige-nos e mais uma vez faze-nos ouvir: “Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai para não entrardes em tentação!

Acorda-nos de nossa preguiça, aumenta a nossa fé, faz-nos permanecer Contigo na agonia para estarmos Contigo na Glória!

Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz remistes o mundo!

Paixão segundo Lucas VIII: Lc 22,47-53

Jesus ainda falava, quando chegou uma multidão. Na frente, vinha um dos Doze, chamado Judas, que se aproximou de Jesus para beijá-Lo. Jesus lhe disse: “Judas, com um beijo tu entregas o Filho do Homem?” Vendo o que ia acontecer, os que estavam com Jesus disseram: “Senhor, vamos atacá-los com a espada?” E um deles feriu o empregado do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Jesus, porém, ordenou: “Deixai, basta!” E tocando a orelha do homem, o curou. Depois Jesus disse aos sumos sacerdotes, aos chefes dos guardas do templo e aos anciãos, que tinham vindo prendê-Lo: “Vós saístes com espadas e paus, como se eu fosse um ladrão?” Todos os dias Eu estava convosco no templo, e nunca levantastes a mão contra Mim. Mas esta é a vossa hora, a hora do poder das trevas” (Lc 22,47-53).

Não há desculpas para Judas: ele traiu Jesus! Fora amado pelo Senhor, chamado, escolhido a dedo pelo Mestre e, agora, O traiu: traiu Seu amor, traiu Sua confiança, traiu Sua eleição... Não sabemos bem seus motivos. Os evangelistas dizem que ele era ladrão, e pela atitude mesquinha na casa de Lázaro, reclamando do desperdício de Maria com o nardo nos pés do Senhor, vemos que no coração do Iscariotes já não havia amor algum, mas somente o cálculo frio, o egoísmo mesquinho e ruindade de coração...

Judas, o traidor, o “filho da perdição”, como Jesus o chama, traiu o Mestre com um beijo. Judas era um dos nossos, era discípulo! - Senhor, quantas vezes também nós Te traímos! Quantas vezes eu Te traí, fui-Te infiel; quantas vezes, frio em relação a Ti e insensível aos Teus apelos! Pela traição de Judas, Senhor, tem piedade! Pelas minhas traições, Senhor, misericórdia! Pelas indiferenças e infidelidades de Teus discípulos, Senhor perdão!

Esta é a vossa hora, a hora do poder das trevas” - Palavras dramáticas, tremendas, do Salvador! Na Sua Paixão e Morte é toda a força do mal que se manifesta, toda a potência maléfica do pecado! Não nos iludamos: o mal existe e é tremendo! Existe e, em última análise é manifestação de um mal maior, misterioso, articulado, pelo Príncipe deste Mundo, o Pai da Mentira, aquele que é sedutor e mentiroso deste o princípio! A Luz veio ao mundo para dissipar as trevas e agora elas investem contra a Luz! Vão apagá-La na Sexta-feira Santa, como se já não houvesse mais esperança, como se o bem fracassasse, como se a potência da Luz se exaurisse...

Há momentos em que essas trevas diabólicas mostram de tal modo sua força e sua presença que se tornam quase palpáveis! Exemplos bem concretos, atuais? O triste escândalo de alguns padres pedófilos, que é aumentado, requentado, somente para denegrir a Igreja e abalar a credibilidade do sacerdócio; a armação bem pensada e articulada para caluniar, difamar e acusar levianamente a Igreja em bloco, procurando solapar sua autoridade moral... Outro exemplo? O relativismo na fé e na moral que vemos no coração e na boca de tantos membros da Igreja! “Esta é a vossa hora, a hora do poder das trevas”.

- Senhor, quando trevas tão densas parecem extinguir a Tua luz da vida do mundo, da vida da Igreja, da nossa vida, faz-nos olhar para Ti, ó Luz que não se apaga, ó Sol que não conhece tramonto, ó Dia sem fim! Tu és a Luz do mundo! As trevas não conseguiram Te reter, nunca conseguirão! Sobre a treva tão densa do homem que nega o seu Deus e chega a matá-Lo na Cruz e no seu coração, a Tua Luz é capaz de brilhar e dissipar toda noite, toda escuridão!

Que mistério: ao criar tudo, Deus criou a luz - só a luz! - e separou a luz das trevas. Depois, as trevas quiseram matar a luz. Por fim, a luz venceu na Ressurreição e, no final de tudo, como diz o Apocalipse, já não haverá noite, e ninguém mais vai precisar da luz da lâmpada ou da luz do sol, porque o próprio Cordeiro imolado e ressuscitado nos iluminará para sempre!

Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz remistes o mundo! 

Dom Henrique venera a Cruz

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