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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Ângelus: VII Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 20 de fevereiro de 2022

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
No Evangelho da Liturgia de hoje (Lc 6,27-38), Jesus dá aos discípulos algumas indicações fundamentais para a vida. O Senhor refere-se às situações mais difíceis, aquelas que constituem um teste para nós, aquelas que nos põem diante de quem nos é inimigo e hostil, de quem procura sempre fazer-nos mal. Nestes casos, o discípulo de Jesus é chamado a não ceder ao instinto e ao ódio, mas a ir além, muito além. Ir além do instinto, ir além do ódio. Jesus diz: «Amai os vossos inimigos, fazei bem àqueles que vos odeiam» (Lc 6,27). E ainda mais concretamente: «Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra» (v. 29). Quando ouvimos isto, parece-nos que o Senhor pode o impossível. E depois, por que amar os inimigos? Se não se reagir aos prepotentes, qualquer abuso tem livre trânsito, e isso não é correto. Mas será mesmo assim? Será que o Senhor nos pede realmente coisas que são impossíveis, e aliás injustas? É assim?

Consideremos antes de tudo o sentimento de injustiça que percebemos ao “oferecer a outra face”. E pensemos em Jesus. Durante a sua Paixão, no seu injusto julgamento perante o sumo sacerdote, a certo ponto recebe uma bofetada de um dos guardas. E como se comporta Ele? Não o insulta, não; diz ao guarda: «Se falei mal, prova-o. Mas se falei bem, por que me bates?» (Jo 18,23). Pergunta o motivo sobre o mal recebido. Oferecer a outra face não significa sofrer em silêncio, ceder à injustiça. Com a sua pergunta Jesus denuncia o que é injusto.  Fá-lo sem raiva nem violência, mas com gentileza. Ele não quer desencadear uma discussão, mas desanuviar o rancor, isto é importante: extinguir o ódio e ao mesmo tempo a injustiça, procurando recuperar o irmão culpado. Isto não é fácil, mas Jesus fê-lo e diz-nos para fazê-lo também nós. Isto significa oferecer a outra face: a mansidão de Jesus é uma resposta mais forte do que a bofetada que recebeu. Oferecer a outra face não é o recuo do perdedor, mas a ação de quem tem mais força interior. Oferecer a outra face é vencer o mal com o bem, abrindo uma brecha no coração do inimigo, desmascarando o absurdo do seu ódio. E esta atitude, oferecer a outra face, não é ditada pelo cálculo nem pelo ódio, mas pelo amor. Estimados irmãos e irmãs, é o amor gratuito e imerecido que recebemos de Jesus, que gera no coração um modo de agir semelhante ao seu, que rejeita qualquer vingança. Estamos habituados às vinganças: “Fizeste-me isto, te farei aquilo”, ou a guardar ressentimentos no coração, um rancor que fere e destrói a pessoa.

Passemos à outra objeção: é possível que uma pessoa consiga amar os próprios inimigos? Se dependesse apenas de nós, seria impossível. Mas lembremo-nos que quando o Senhor pede algo, Ele quer oferecê-lo. O Senhor nunca nos pede algo que não nos dê primeiro. Quando Ele me diz para amar os inimigos, quer dar-me a capacidade de fazê-lo. Sem esta capacidade não conseguiríamos, mas Ele diz-nos “amai o inimigo” e dá-nos a capacidade de amar. Santo Agostinho rezava assim - escutai que bela oração - Senhor, «dai-me o que me pedis e pedi-me o que quereis» (Confissões, X, 29.40), porque me destes primeiro. O que lhe podemos pedir? O que apraz a Deus oferecer-nos? A força de amar, que não é algo, mas é o Espírito Santo. A força de amar é o Espírito Santo, e com o Espírito de Jesus podemos responder ao mal com o bem, podemos amar quem nos fere. Assim fazem os cristãos. Como é triste quando pessoas e povos orgulhosos por ser cristãos veem os outros como inimigos e pensam em fazer guerra! É muito triste!

E quanto a nós, procuramos viver as exortações de Jesus? Pensemos numa pessoa que nos feriu. Cada um pense numa pessoa. É comum que tenhamos sido feridos por alguém, por isso pensemos nessa pessoa. Talvez haja um ressentimento dentro de nós. Portanto, coloquemos este ressentimento ao lado da imagem de Jesus, manso, durante o julgamento, após a bofetada. E depois peçamos ao Espírito Santo que aja no nosso coração. Por fim, oremos por aquela pessoa: oremos por aqueles que nos feriram (cf. Lc 6,28). Quando alguém nos faz algum mal, vamos imediatamente contar aos outros e sentimo-nos vítimas. Paremos e oremos ao Senhor por aquela pessoa, para que Ele a ajude, e então este sentimento de rancor será dissipado. Rezar por quem nos feriu é o primeiro passo para transformar o mal em bem. A oração! Que a Virgem Maria nos ajude a ser pacificadores para com todos, especialmente para com quem nos é hostil e de quem não gostamos.

Jesus diante de Caifás
(Matthias Stomer)

Fonte: Santa Sé.

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