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sábado, 30 de outubro de 2021

Homilia: XXXI Domingo do Tempo Comum - Ano B

São Gregório Magno
Sermão 38 sobre os Evangelhos
Dois preceitos de uma mesma caridade

Tenhamos presente que a caridade se fundamenta em dois preceitos, a saber: no amor de Deus e do próximo... Devemos observar que, ao tratar sobre o amor que devemos ter ao próximo, põe-se regra e medida, visto que se diz: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo; mas tratando-se do amor que se deve professar a Deus não se assinala limite algum, posto que nos diz: Amarás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente e com todas as tuas forças.

Com todo... Pois somente aquele que ama de verdade a Deus não se lembra de si mesmo... por esta mesma razão se ordenou no Êxodo que se tingissem duas vezes de cor escarlate as cortinas que se destinavam ao tabernáculo. Vós sois, irmãos, as cortinas do tabernáculo, que em razão da fé ocultais em vossos corações os mistérios celestiais. Porém, as cortinas do tabernáculo deveriam ser tingidas duas vezes de cor escarlate...

Portanto, para que a vossa caridade esteja duas vezes tingida, é preciso que esteja abrasada pelo amor de Deus e pelo do próximo, e de tal forma que não abandone a contemplação de Deus pela compaixão do próximo, nem, por ocupar-se excessivamente na contemplação de Deus, descuide a compaixão que deve ao próximo. Assim, todo homem que vive entre os homens busque Aquele a quem ama, de modo que não abandone aquele com quem caminha, e preste-lhe auxílio de tal maneira que, de modo algum, separe-se d’Aquele a quem se conduz.

O amor que se deve ao próximo se subdivide em dois preceitos, pois lemos na Escritura: O que não queres para ti, não faças a ninguém. E o próprio Jesus disse: O que quiseres que os outros vos façam, fazei-o vós a eles. Portanto, se fazemos com o nosso próximo o que queremos que façam a nós, e evitamos fazer aos demais o que não queremos que nos façam, conservaremos incólumes os direitos da caridade.

Mas ninguém, pelo mero fato de amar o seu próximo, pense que já tem a caridade, mas primeiro examine a força de seu amor. Pois se alguém ama aos outros, mas não os ama por Deus, não tem a caridade, mesmo que pense o contrário. Existe a caridade verdadeira quando se ama ao amigo em Deus e ao inimigo por Deus. Ama por Deus aos seus próximos aquele que os ama, se sabe amar aos que não lhe amam. Pois a caridade costuma-se provar somente por ser contrária ao ódio. Por isso diz o Senhor: Amai aos vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam. Assim, pois, ama com segurança aquele que ama por Deus aquele por quem sabe que não é amado.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 497-498. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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