Em sua 31ª Catequese sobre a oração à luz do Catecismo da
Igreja Católica, o Papa Francisco continuou a falar sobre as “expressões da
oração”, detendo-se na meditação (nn. 2705-2708):
Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 28 de abril de 2021
A oração (31): A meditação
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje falamos daquela forma de oração que é a
meditação. Para o cristão, “meditar” é procurar uma síntese: significa
colocar-se diante da grande página da Revelação para procurar fazer com que se
torne nossa, assumindo-a completamente. E depois de acolher a Palavra de Deus,
o cristão não a mantém fechada dentro de si, porque aquela Palavra deve
encontrar-se com «outro livro», ao qual o Catecismo chama «o livro
da vida» (cf. Catecismo da
Igreja Católica, n. 2706). É isto que procuramos fazer cada vez que
meditamos a Palavra.
Nos últimos anos a prática da meditação recebeu grande
atenção. Dela falam não só os cristãos: há uma prática meditativa em quase
todas as religiões do mundo. Mas trata-se de uma atividade difundida também
entre as pessoas que não têm uma visão religiosa da vida. Todos nós temos
necessidade de meditar, de refletir, de encontrarmos a nós mesmos, é uma
dinâmica humana. Especialmente no voraz mundo ocidental, as pessoas procuram a
meditação porque ela representa uma barreira elevada contra o stress diário e o vazio que se alastra
por toda a parte. Eis, então, a imagem de jovens e adultos sentados em
recolhimento, em silêncio, com os olhos meio fechados... Mas podemos
perguntar-nos: O que fazem estas pessoas? Meditam. É um fenômeno que deve ser
encarado de modo favorável: com efeito, não somos obrigados a correr o tempo
todo, possuímos uma vida interior que não pode ser espezinhada sempre.
Portanto, meditar é uma necessidade de todos. Meditar, por assim dizer, se assemelharia
a parar e dar um respiro à vida.
No entanto, percebemos que esta palavra, quando é aceita no
contexto cristão, assume uma especificidade que não deve ser cancelada. Meditar
é uma dimensão humana necessária, mas meditar no contexto cristão vai além:
trata-se de uma dimensão que não deve ser cancelada. A grande porta por onde
passa a oração de uma pessoa batizada - recordemos mais uma vez - é Jesus
Cristo. Para o cristão a meditação entra pela porta de Jesus
Cristo. Também a prática da meditação segue este caminho. Quando o
cristão reza, não aspira à plena transparência de si, não procura o núcleo mais
profundo do seu ego. Isto é lícito, mas o cristão procura outra coisa. A oração
do cristão é, antes de tudo, um encontro com o Outro, com o Outro com “O”
maiúsculo: o encontro transcendente com Deus. Se uma experiência de oração nos
dá paz interior, ou autodomínio, ou lucidez no caminho a empreender, estes
resultados são, por assim dizer, efeitos colaterais da graça da oração cristã
que é o encontro com Jesus; isto é, meditar significa ir ao encontro com Jesus,
guiados por uma frase ou por uma palavra da Sagrada Escritura.
Ao longo da história, o termo “meditação” teve diferentes
significados. Também no cristianismo, ele se refere a diferentes experiências
espirituais. No entanto, é possível traçar algumas linhas comuns, e nisto
o Catecismo ajuda-nos novamente: «Os métodos de meditação são
tão diversos como os mestres espirituais. (...) Mas um método não passa de
um guia; o importante é avançar, com o Espírito Santo, no caminho único da
oração: Cristo Jesus» (n. 2707). E aqui está indicado um companheiro de
caminho, alguém que guia: o Espírito Santo. Não é possível a meditação cristã
sem o Espírito Santo. É Ele que nos guia ao encontro com Jesus. Jesus
disse-nos: “Eu vos enviarei o Espírito Santo. Ele vos ensinará e vos explicará...
vos ensinará e vos explicará”. E também na meditação o Espírito Santo é o guia
para ir em frente no encontro com Jesus Cristo.
Assim, há muitos métodos de meditação cristã: alguns são
muito sóbrios, outros mais articulados; alguns enfatizam a dimensão intelectual
da pessoa, outros a afetiva e emocional. São métodos. Todos são importantes e
dignos de ser praticados na medida em que podem ajudar a experiência da fé a
tornar-se um ato total da pessoa: não reza apenas a mente, reza o homem todo, a
totalidade da pessoa, assim como não ora só o sentimento. Os antigos costumavam
dizer que o órgão da oração é o coração, e deste modo explicavam que é a pessoa
inteira, a partir do seu centro, do coração, que entra em relação com Deus, e
não apenas algumas das suas faculdades. Portanto, devemos recordar sempre que o
método é um caminho, não uma meta: qualquer método de oração, se quiser ser
cristão, faz parte daquela sequela Christi [seguimento de Cristo], que é a essência da nossa fé. Os
métodos de meditação são caminhos a percorrer para alcançar o encontro com
Jesus, mas se parares no caminho e só olhares para a estrada, nunca encontrarás
Jesus. Farás da estrada um deus, mas ela é um meio para te levar a Jesus. O Catecismo especifica:
«A meditação põe em ação o pensamento, a imaginação, a emoção e o desejo. Esta
mobilização é necessária para aprofundar as convicções da fé, suscitar a
conversão do coração e fortalecer a vontade de seguir a Cristo. A oração cristã
dedica-se, de preferência, a meditar nos “mistérios de Cristo”» (n. 2708).
Eis, então, a graça da oração cristã: Cristo não está longe,
mas está sempre em relação conosco. Não há aspecto algum da sua pessoa
divino-humana que não possa tornar-se, para nós, um lugar de salvação e de
felicidade. Cada momento da vida terrena de Jesus, através da graça da oração,
pode tornar-se nosso contemporâneo, graças ao Espírito Santo, o guia. Mas
sabeis que não se pode rezar sem a guia do Espírito Santo. É Ele que nos guia!
E graças ao Espírito Santo, também nós estamos presentes no rio Jordão quando
Jesus se imerge para receber o batismo. Também nós somos comensais nas bodas de
Caná, quando Jesus oferece o melhor vinho para a felicidade dos noivos. É o
Espírito Santo que nos põe em relação com estes mistérios da vida de Cristo,
pois na contemplação de Jesus experimentamos a oração para nos unirmos mais a
Ele. Também nós testemunhamos com assombro os milhares de curas realizadas pelo
Mestre. Tomemos o Evangelho, façamos a meditação daqueles mistérios do
Evangelho e o Espírito guia-nos a estar presentes ali. E na oração - quando
rezamos - todos nós somos como o leproso purificado, o cego Bartimeu que
recupera a vista, Lázaro que sai do sepulcro... Também nós somos curados na
oração como foi curado o cego Bartimeu, aquele outro, o leproso… Também nós
ressuscitamos, como ressuscitou Lázaro, pois a oração de meditação guiada pelo
Espírito Santo, leva-nos a reviver estes mistérios da vida de Cristo e a
encontrarmo-nos com Cristo e a dizer, com o cego: “Senhor, tende piedade de
mim! Tende piedade de mim” - “O que queres?” - “Ver, entrar naquele
diálogo”. E a meditação cristã, guiada pelo Espírito leva-nos a este diálogo
com Jesus. Não há página alguma do Evangelho em que não haja lugar para nós.
Para nós cristãos, meditar é um modo de encontrar Jesus. E assim, só assim, de
nos encontrarmos a nós mesmos. E isto não significa fechar-nos em nós mesmos,
não: ir ter com Jesus e n’Ele encontrar-nos a nós mesmos, curados,
ressuscitados, fortalecidos pela graça de Jesus. E encontrar Jesus salvador de
todos, também de mim. E isto graças à guia do Espírito Santo.
Fonte: Santa Sé
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