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sábado, 24 de abril de 2021

Homilia: IV Domingo de Páscoa - Ano B

São Gregório Magno
Sermão 14
Cristo, o Bom Pastor

Ouvistes, caríssimos irmãos, no ensinamento do santo Evangelho preceitos para a vida; e ouvistes também coisas que revelam nosso perigo; e observai com atenção que o Senhor, que é bom por seu próprio ser, e não por alguma virtude adquirida, disse: Eu sou o bom pastor. E para que seu exemplo nos torne bons, disse: O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. Ele fez o que nos ensina, e nos mostrou o que é que devemos fazer.

O bom pastor deu a vida por suas ovelhas para dar-nos sua Carne e seu Sangue no Santíssimo Sacramento, aonde as ovelhas redimidas poderiam se sustentar em sua graça. E tendo-nos ensinado que devemos fazer pouco caso da morte, quis dar-nos a regra para que a sigamos. A primeira coisa que nos manda é que, para auxílio de suas ovelhas, nós, os pastores, partilhemos com liberalidade todos os nossos bens exteriores com muita caridade; e depois disto, de for necessário, que ofereçamos também nossa vida pela salvação das mesmas ovelhas.

Do primeiro, que é muito pouco, sobe-se ao segundo, que é mais importante. Mas como a alma é mais estimada, e sem comparação de alto valor, e mediante a qual vivemos, que não há bem que lhe compare; aquele que não oferta seus bens como socorro para suas ovelhas, quando creremos que dará a própria vida? E é daqui que muitos perdem o nome de pastores, e com razão, pois valorizam mais os bens do que a vida das ovelhas que lhe foram confiadas, e é deles que se diz: O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge.

Este não é pastor, mas mercenário, porque não apascenta as ovelhas do Senhor pelo amor que as tem, mas somente para ganhar a diária que lhe pagam. Sem dúvida, é mercenário aquele que tem emprego de pastor, e não procura o bem das almas de suas ovelhas, dando atenção apenas para as rendas e a ganância que dali colhe. Desfruta na honra de pastor na qual se vê: apascenta-se a si mesmo dos proveitos temporais que dali tira, e se alegra de ver que todos o têm em grande reverência.

Esta é a verdadeira paga do mercenário, encontrar as coisas que ama desta vida em pagamento de seu trabalho, ainda que nunca suba nem entre no céu, que é a herança das ovelhas. Verdade é que, não havendo ocasião ou necessidade, muitas vezes não conhecereis facilmente qual é pastor ou mercenário: porque quando o tempo está calmo e tranquilo, também se está com o ganho tanto o mercenário quanto o pastor; mas vindo o lobo se conhece qual é o pastor, e qual é o mercenário, e o cuidado que cada um destes tem com suas ovelhas.

Sabei que o lobo vem para junto das ovelhas, sempre que algum tirano e poderoso maltrata aos cristãos pobres e humildes por ver que não oferecem grande resistência; e neste gosto, o que parecia pastor e não o era, deixa as ovelhas e foge, porque, temendo o perigo que lhe podia advir de defender as ovelhas, esqueceu-se da salvação destas visando seu próprio interesse. E este fugir não se entende como mudando de lugar, nem indo de uma parte a outra, mas deixando de pastorear as ovelhas com a consolação das palavras e com a esmola das obras, segundo a necessidade.

Foge, também, quando vê que as suas ovelhas são oprimidas, e se cala. Foge, porque se esconde na casa do silêncio, não querendo falar em favor delas. Pois, falando desses pastores, o Senhor disse pela boca do profeta Ezequiel: Não subistes para ir ao encontro, nem pusestes muralha em defesa da casa de Israel, para que o dia do Senhor vos encontrasse no combate.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 351-352. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de São Pedro Crisólogo para este domingo, clique aqui.

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