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segunda-feira, 15 de março de 2021

Homilia do Papa: IV Domingo da Quaresma - Ano B

Santa Missa por ocasião dos 500 anos da Evangelização das Filipinas
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Pedro
Domingo, 14 de março de 2021

«Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito» (Jo 3,16). Aqui está o coração do Evangelho, aqui está o fundamento da nossa alegria. O conteúdo do Evangelho, com efeito, não é uma ideia ou uma doutrina, mas é Jesus, o Filho que o Pai nos deu para que tenhamos a vida. Jesus é o fundamento da nossa alegria: não é uma bela teoria sobre como ser feliz, mas é experimentar ser acompanhados e amados no caminho da vida. “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho”. Detenhamo-nos um momento, irmãos e irmãs, sobre estes dois aspectos: “amou tanto” e “deu”.

Antes de tudo, Deus amou tanto. Estas palavras, que Jesus dirige a Nicodemos - um ancião judeu que queria conhecer o Mestre - nos ajudam a descobrir o verdadeiro rosto de Deus. Ele sempre nos olhou com amor e por amor veio entre nós na carne do seu Filho. N’Ele veio procurar-nos nos lugares onde estávamos perdidos; n’Ele veio levantar-nos das nossas quedas; n’Ele chorou as nossas lágrimas e curou as nossas feridas; n’Ele abençoou as nossas vidas para sempre. Quem n’Ele crê, diz o Evangelho, não será condenado (ibid.). Em Jesus, Deus pronunciou a palavra definitiva sobre a nossa vida: tu não estás perdido, és amado. Sempre amado.

Se a escuta do Evangelho e a prática da nossa fé não nos alarga o coração para nos fazer compreender a grandeza deste amor, e se às vezes caímos em uma religiosidade por demais séria, triste, fechada, então é sinal de que precisamos parar um pouco e ouvir novamente o anúncio da boa nova: Deus te ama tanto que te dá toda a sua vida. Não é um deus que nos olha indiferente do alto, mas é um Pai, um Pai apaixonado que nos envolve na nossa história; não é um deus que se compraz na morte do pecador, mas um Pai preocupado com que ninguém se perca; não é um deus que condena, mas um Pai que nos salva com o abraço abençoado do seu amor.

E chegamos à segunda palavra: Deus nos “deu” o seu Filho. Precisamente porque nos ama tanto, Deus doa a si mesmo e nos oferece a sua vida. Quem ama sempre sai de si mesmo - não vos esqueçais disto: quem ama sempre sai de si mesmo. O amor sempre se oferece, se doa, se gasta. A força do amor é precisamente esta: quebra a casca do egoísmo, rompe as margens das seguranças humanas muito calculadas, derruba muros e vence os medos, para fazer-se dom. Esta é a dinâmica do amor: é fazer-se dom, doar-se. Quem ama é assim: prefere arriscar-se no doar-se em vez de atrofiar-se se fechando para si mesmo. Por isto Deus sai de si mesmo, porque “amou tanto”. O seu amor é tão grande que não pode deixar de doar-se a nós. Quando o povo a caminho no deserto foi atacado por serpentes venenosas, Deus ordenou a Moisés fazer a serpente de bronze; em Jesus, porém, elevado sobre a cruz, Ele mesmo veio para curar-nos do veneno da morte, fez-se pecado para salvar-nos do pecado. Deus não nos ama com palavras: dá-nos o seu Filho para que quem o contemple e n’Ele creia seja salvo (cf. Jo 3,14-15).

Quanto mais amamos mais somos capazes de nos doar. Esta é a chave para compreender a nossa vida. É belo encontrar pessoas que se ama, que se querem bem e partilham a vida; de quem se pode dizer como de Deus: se amam tanto que dão a vida. Não conta apenas o que podemos produzir ou ganhar: conta acima de tudo o amor que sabemos dar.

E esta é a fonte da alegria! Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho. Daqui toma sentido o convite que a Igreja nos dirige neste domingo: “Alegra-te (...) vós que estais tristes, exultai de alegria. Saciai-vos com a abundância de suas consolações” (Antífona de entrada; cf. Is 66,10-11). Penso naquilo que vivemos há uma semana no Iraque: um povo martirizado que exultou de alegria; graças a Deus, à sua misericórdia.

Às vezes buscamos a alegria onde ela não está, a buscamos nas ilusões que desvanecem, nos sonhos de grandeza do nosso eu, na aparente segurança das coisas materiais, no culto à nossa própria imagem, e em tantas coisas... Mas a experiência da vida nos ensina que a verdadeira alegria é sentirmo-nos amados gratuitamente, sentirmo-nos acompanhados, termos alguém que partilha os nossos sonhos e que, quando naufragamos, vem socorrer-nos e conduzir-nos a um porto seguro.

Queridos irmãos e irmãs, são passados 500 anos de quando pela primeira vez o anúncio cristão chegou às Filipinas. Recebestes a alegria do Evangelho: que Deus nos amou tanto que deu o seu Filho por nós. E esta alegria se vê no vosso povo, se vê nos vossos olhos, nos vossos rostos, nos vossos cantos e nas vossas orações. A alegria com a qual levais a vossa fé em tantas terras. Tantas vezes disse que aqui em Roma as mulheres filipinas são “contrabandistas” da fé! Porque onde vão trabalhar, trabalham, mas semeiam a fé. Esta é - me permitam a palavra - uma “doença genética”, mas uma bem-aventurada doença! Conservai-a! Levai a fé, aquele anúncio que recebestes há 500 anos, e que conservam agora. Quero agradecer-vos pela alegria que levais ao mundo inteiro e às comunidades cristãs. Penso, como disse, em tantas experiências belas nas famílias romanas - mas é assim em todo o mundo -, onde a vossa presença discreta e laboriosa soube fazer-se também testemunha da fé. Com o estilo de Maria e de José: Deus ama levar a alegria da fé através de um serviço humilde e escondido, corajoso e perseverante.

Neste aniversário tão importante para o santo povo de Deus nas Filipinas, também quero exortar-vos a não parar com a obra de evangelização - que não é proselitismo, é outra coisa. O anúncio cristão que recebestes deve ser sempre levado aos demais; o Evangelho da proximidade de Deus pede ser expresso no amor pelos irmãos; o desejo de Deus de que ninguém se perca pede à Igreja para cuidar daqueles que estão feridos e vivem marginalizados. Se Deus ama tanto que Ele mesmo se doa, também a Igreja tem esta missão: não é enviada para julgar, mas para acolher; não para impor, mas para semear; a Igreja é chamada não a condenar mas a levar Cristo, que é a salvação.

Sei que este é o programa pastoral da vossa Igreja: o empenho missionário que envolve todos e chega a todos. Não desanimeis de caminhar nesta estrada. Não tenhais medo de anunciar o Evangelho, de servir, de amar. E com a vossa alegria podereis fazer com que se diga também da Igreja: “amou tanto o mundo!”. É bela e atraente uma Igreja que ama o mundo sem julgá-lo e que se doa pelo mundo. Queridos irmãos e irmãs, desejo que sejam assim, nas Filipinas e em cada parte da terra.


Tradução nossa a partir do original italiano divulgado no site da Santa Sé.

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