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sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Tríplice múnus dos fiéis

Após refletir sobre o sacerdócio batismal dos fiéis nos últimos textos do ano de 2020, o site Vatican News dedicou os três primeiros textos do ano de 2021 à participação dos fiéis no tríplice múnus de Cristo, Sacerdote, Profeta e Rei:

O múnus sacerdotal do cristão
06 de janeiro de 2021

No nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II”, vamos falar hoje sobre “o múnus sacerdotal do cristão”.
Neste ano de 2021 que se inicia, daremos continuidade a este nosso espaço dedicado ao aprofundamento dos Documentos conciliares, sempre contando com a preciosa contribuição do Padre Gerson Schmidt, que tem nos acompanhando na exposição destes temas.
Neste primeiro programa do ano, o sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre nos fala sobre o “múnus sacerdotal do cristão”, dando assim continuidade ao programa precedente, quando falou da “Tríplice missão do Povo de Deus”:

O Concílio Vaticano II deu destaque a tríplice missão do leigo - o múnus sacerdotal, profético e real. Na Exortação Apostólica pós-sinodal Cristhifideles Laici, João Paulo II salienta a missão sacerdotal do cristão leigo, afirmada pela Lumen Gentium no número 34: “Os fiéis leigos participam no múnus sacerdotal pelo qual Jesus se ofereceu a Si mesmo sobre a Cruz e continuamente Se oferece na celebração da Eucaristia para glória do Pai e pela salvação da humanidade. Incorporados em Cristo Jesus, os batizados unem-se a Ele e ao Seu sacrifício, na oferta de si mesmos e de todas as suas atividades (cf. Rm 12,1-2)”.
Ao falar dos fiéis leigos, o Concílio diz: “Todos os seus trabalhos, orações e empreendimentos apostólicos, a vida conjugal e familiar, o trabalho de cada dia, o descanso do espírito e do corpo, se forem feitos no Espírito, e as próprias incomodidades da vida, suportadas com paciência, se tornam em outros tantos sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo (cf. 1Pd 2,5); sacrifícios estes que são piedosamente oferecidos ao Pai, juntamente com a oblação do Corpo do Senhor, na celebração da Eucaristia. E deste modo, os leigos, agindo em toda a parte santamente, como adoradores, consagram a Deus o próprio mundo”.
A Constituição Dogmática Lumen Gentium, falando da consagração do mundo pelo apostolado dos leigos, ainda diz: “O supremo e eterno sacerdote Cristo Jesus, querendo também por meio dos leigos continuar o Seu testemunho e serviço, vivifica-o pelo Seu Espírito e sem cessar os incita a toda a obra boa e perfeita. E assim, àqueles que intimamente associou à própria vida e missão, concedeu também participação no seu múnus sacerdotal, a fim de que exerçam um culto espiritual, para glória de Deus e salvação dos homens. Por esta razão, os leigos, enquanto consagrados a Cristo e ungidos no Espírito Santo, têm uma vocação admirável e são instruídos para que os frutos do Espírito se multipliquem neles cada vez mais abundantemente”.
Portanto, trabalhos, orações, empreendimentos, vida conjugal e familiar, incomodidades da vida, sacrifícios outros, tudo oferecido ao Pai, na Eucaristia... serão maneiras de exercer o múnus sacerdotal do leigo, participando da missão sacerdotal de Cristo.
O Catecismo da Igreja Católica também fala sobre a participação dos leigos na missão sacerdotal de Cristo. No número 901 diz assim: “Os leigos, em virtude de sua consagração a Cristo e da unção do Espírito Santo, recebem a vocação admirável e os meios que permitem ao Espírito produzir neles frutos sempre mais abundantes. Assim, todas as suas obras, preces e iniciativas apostólicas, vida conjugal e familiar, trabalho cotidiano, descanso do corpo e da alma, se praticados no Espírito, e mesmo as provações da vida, pacientemente suportadas, se tornam ‘hóstias espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo’ (1Pd 2,5), hóstias que são piedosamente oferecidas ao Pai com a oblação do Senhor na celebração da Eucaristia. É assim que os leigos consagram a Deus o próprio mundo, prestando a Ele, em toda parte, na santidade de sua vida, um culto de adoração”.
No número 784 do Catecismo acentua-se essa vocação sacerdotal do Povo de Deus: “Ao entrar no Povo de Deus pela fé e pelo Batismo, recebe-se participação na vocação única deste povo, em sua vocação sacerdotal: ‘Cristo Senhor, Pontífice tomado dentre os homens, fez do novo povo um reino e sacerdotes para Deus Pai'. Pois os batizados, pela regeneração e unção do Espírito Santo, são consagrados para ser uma morada espiritual e sacerdócio santo”.
No número 902 do Catecismo diz-se ainda: “De maneira especial, os pais participam do múnus de santificação quando levam uma vida conjugal com espírito cristão e velando pela educação cristã dos filhos”.

O múnus profético do cristão
13 de janeiro de 2021

No nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II”, vamos falar hoje sobre “o múnus profético do cristão”.
Pelo Batismo, os fiéis participam do sacerdócio de Cristo, de sua missão profética e régia. Jesus quis “um povo santo e sacerdotal, uma raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido por Deus para anunciar os seus louvores” (1Pd 2,4-10).
Essa tríplice missão do povo de Deus foi de modo particular destacada no Concílio Vaticano II, motivo pelo qual o Padre Gerson Schmidt - que tem nos acompanhado na exposição dos Documentos conciliares - a ela tem dedicado alguns programas. Naquele da última semana, por exemplo, nos falou sobre “o múnus sacerdotal do cristão”. E hoje, nos fala sobre “o múnus profético do cristão”:

O Concílio Vaticano II deu destaque a tríplice missão do leigo - o múnus sacerdotal, profético e real. No encontro anterior falamos da missão sacerdotal do Povo de Deus.
Hoje falamos da missão profética laical. A Constituição Dogmática Lumen Gentium, no número 35, aponta essa missão evangelizadora e profética do leigo: “Do mesmo modo que os sacramentos da nova lei, que alimentam a vida e o apostolado dos fiéis, prefiguram um novo céu e uma nova terra (cf. Ap 21,1), assim os leigos tornam-se valorosos arautos da fé naquelas realidades que esperamos (cf. Hb 11,1), se juntarem sem hesitação, a uma vida de fé, a profissão da mesma fé. Este modo de evangelizar, proclamando a mensagem de Cristo com o testemunho da vida e com a palavra, adquire um certo caráter específico e uma particular eficácia por se realizar nas condições ordinárias da vida no mundo”.  
Na Exortação Apostólica pós-sinodal Cristhifideles Laici, João Paulo II salientando também a missão profética do cristão leigo, afirmava assim: “A participação no múnus profético de Cristo, que, pelo testemunho da vida e pela força da palavra, proclamou o Reino do Pai, habilita e empenha os fiéis leigos a aceitar, na fé, o Evangelho e a anunciá-lo com a palavra e com as obras, sem medo de denunciar corajosamente o mal. Unidos a Cristo, o ‘grande profeta’ (Lc 7,16), e constituídos no Espírito ‘testemunhas’ de Cristo Ressuscitado, os fiéis leigos tornam-se participantes quer do sentido de fé sobrenatural da Igreja que não pode errar no crer, quer da graça da palavra (At 2,17-18; Ap 19,10); eles são igualmente chamados a fazer brilhar a novidade e a força do Evangelho na sua vida quotidiana, familiar e social, e a manifestar, com paciência e coragem, nas contradições da época presente, a sua esperança na glória também por meio das estruturas da vida secular”.
O Catecismo da Igreja Católica também fala sobre a participação dos leigos na missão profética de Cristo. Diz assim no número 905: “Os leigos exercem sua missão profética também pela evangelização, isto é, o anúncio de Cristo feito pelo testemunho da vida e pela palavra”. Nos leigos, “esta evangelização... adquire características específicas e eficácia peculiar pelo fato de se realizar nas condições comuns do século”.
Também exercem um anúncio profético pelo testemunho, conforme o número 2044 do Catecismo, que afirma: “A fidelidade dos batizados é condição primordial para o anúncio do Evangelho e para a missão da Igreja no mundo. Para manifestar diante dos homens sua força de verdade e de irradiação, a mensagem da salvação deve ser autenticada pelo testemunho de vida dos cristãos: O próprio testemunho da vida cristã e as boas obras feitas em espírito sobrenatural possuem a força de atrair os homens para a fé e para Deus. Este apostolado não consiste apenas no testemunho da vida: o verdadeiro Apóstolo procura as ocasiões para anunciar Cristo pela palavra, seja aos descrentes... seja aos fiéis”. No número 906, o Catecismo ainda afirma: “Os leigos que forem capazes e que se formarem para isto podem também dar sua colaboração na formação catequética, no ensino das ciências sagradas e atuar nos meios de comunicação social”.

O múnus real dos fiéis leigos
20 de janeiro de 2021

No nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II”, vamos falar hoje sobre “o múnus real dos fiéis leigos”.
“Vós, porém, sois a raça eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo que Deus adquiriu para anunciar as maravilhas d'Aquele que vos chamou das trevas à Sua luz admirável. (1Pd 2,9). Dando sequência à série de programas sobre a “tríplice missão dos leigos”, Padre Gerson Schmidt - depois de nos ter falado sobre o “múnus sacerdotal” e o “múnus profético” do cristão - nos propõe hoje uma reflexão sobre “o múnus real dos fiéis leigos”. De fato, ao pertencerem a Cristo Senhor e Rei do universo, os fiéis leigos “participam no Seu múnus real e por Ele são chamados para o serviço do Reino de Deus e para a sua difusão na história. Vivem a realeza cristã, sobretudo no combate espiritual para vencerem dentro de si o reino do pecado” (Christifideles Laici):

O Concílio Vaticano II nos deu uma importante visão da tríplice missão do leigo na Igreja e no mundo - o múnus sacerdotal, profético e real. Já aprofundamos a missão sacerdotal e profética do leigo. Hoje falaremos da missão régia do Povo de Deus. A Constituição dogmática Lumen Gentium aponta, no número 36: “Por consequência, devem os fiéis conhecer a natureza íntima e o valor de todas as criaturas, e a sua ordenação para a glória de Deus, ajudando-se uns aos outros, mesmo através das atividades propriamente temporais, a levar uma vida mais santa, para que assim o mundo seja penetrado do espírito de Cristo e, na justiça, na caridade e na paz, atinja mais eficazmente o seu fim. Na realização plena deste dever, os leigos ocupam o lugar mais importante. Por conseguinte, com a sua competência nas matérias profanas, e a sua atuação interiormente elevada pela graça de Cristo, contribuam eficazmente para que os bens criados sejam valorizados pelo trabalho humano, pela técnica e pela cultura para utilidade de todos os homens, sejam melhor distribuídos entre eles e contribuam a seu modo para o progresso de todos na liberdade humana e cristã, em harmonia com o destino que lhes deu o Criador e segundo a iluminação do Verbo. Deste modo, por meio dos membros da Igreja, Cristo iluminará cada vez mais a humanidade inteira com a Sua luz salvadora”.
A Exortação Apostólica pós-sinodal Christifideles Laici de São João Paulo II, que fala sobre a vocação e missão dos fiéis leigos na Igreja e no mundo, aponta para a participação dos fiéis leigos na missão real de Cristo: “Ao pertencerem a Cristo Senhor e Rei do universo, os fiéis leigos participam no Seu múnus real e por Ele são chamados para o serviço do Reino de Deus e para a sua difusão na história. Vivem a realeza cristã, sobretudo no combate espiritual para vencerem dentro de si o reino do pecado (cf. Rm 6,12), e depois, mediante o dom de si, para servirem, na caridade e na justiça, o próprio Jesus presente em todos os seus irmãos, sobretudo nos mais pequeninos (Mt 25,40). Mas os fiéis leigos são chamados de forma particular a restituir à criação todo o seu valor originário. Ao ordenar as coisas criadas para o verdadeiro bem do homem, com uma ação animada pela vida da graça, os fiéis leigos participam no exercício do poder com que Jesus Ressuscitado atrai a Si todas as coisas e as submete, com Ele mesmo, ao Pai, por forma a que Deus seja tudo em todos (1Cor 15,28; Jo 12,32)”.
O Catecismo da Igreja Católica também fala sobre a participação dos leigos na missão real de Cristo. Diz assim no número 912: Os fiéis devem “distinguir acuradamente entre os direitos e os deveres que lhes incumbem enquanto membros da Igreja e os que lhes competem enquanto membros da sociedade humana. Procurarão conciliar ambos harmonicamente entre si, lembrados de que em qualquer situação temporal devem conduzir-se pela consciência cristã, uma vez que nenhuma atividade humana, nem mesmo nas coisas temporais, pode ser subtraída ao domínio de Deus”.
Esse tríplice múnus de Cristo Sacerdote, Profeta e Rei que encontra a sua raiz primeira na unção do Batismo, o seu desenvolvimento na Confirmação e a sua perfeição e sustento dinâmico na Eucaristia, é uma participação que se oferece a cada um dos fiéis leigos, enquanto formam o único corpo do Senhor. Com efeito, é a Igreja que Jesus enriquece com os Seus dons, qual Seu Corpo e Sua Esposa. Assim, os indivíduos participam no tríplice múnus de Cristo enquanto membros da Igreja e da sociedade.

Cristo Rei entre o Profeta Elias e o Sacerdote Melquisedec
(Vitral da Pró-Catedral de São Patrício em Dundalk, Irlanda)

Fonte: Vatican News 

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