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sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Meditação do Padre Francesco Patton sobre o Presépio

Nos dias 22 e 28 de dezembro de 2020, conforme recordado pelo site Vatican News no último dia 06 de janeiro, o Padre Francesco Patton, OFM, Custódio da Terra Santa, propôs duas meditações sobre o Presépio através do Christian Media Center.

Segue abaixo o texto e um vídeo dublado em português reunindo as duas meditações:

“O sinal admirável do Presépio, muito amado pelo povo cristão, não cessa de suscitar maravilha e enlevo. Representar o acontecimento da natividade de Jesus é equivalente a anunciar, com simplicidade e alegria, o mistério da encarnação do Filho de Deus. De fato, o Presépio é como um Evangelho vivo que transvaza das páginas da Sagrada Escritura”. Estas são as palavras do Papa Francisco na Carta Apostólica Admirabile Signum sobre o significado e o valor do Presépio.

Apresentamos hoje uma “peregrinação especial” com Padre Francesco Patton, OFM, Custódio da Terra Santa, junto aos personagens testemunhas do nascimento de Jesus. Nossos guias serão os textos bíblicos, os dados históricos e a origem da tradição secular.

“Depois de dar à luz Jesus, envolveu-o em faixas e o deitou em uma manjedoura” (Lc 2,7)
Padre Francesco Patton, OFM, Custódio da Terra Santa

A palavra “presépio” é uma palavra latina que significa simplesmente manjedoura e, portanto, como conta o evangelista Lucas, indica a manjedoura em que Maria, após dar à luz Jesus, envolvendo-o em faixas o colocou. Portanto, é da Manjedoura que surgiu o significado da representação da cena.
A primeira evidência histórica do presépio data dos séculos III-IV. No entanto, o primeiro presépio no sentido moderno do termo é aquele encenado por São Francisco de Assis no Natal de 1223, na pequena cidade de Greccio, na Itália.
A originalidade de São Francisco foi a de ter feito de certo modo um presépio vivo, de forma que, daquela celebração, todas as pessoas participam, também os pastores. Tomás de Celano, que foi o primeiro biógrafo, diz que Greccio parecia ter se tornado outra Belém. Assim, toda a cena do nascimento de Jesus em Belém é recriada naquela pequena cidade do vale de Rieti, no Lácio.
São Francisco pede uma permissão especial para poder celebrar acima do Presépio, acima da Manjedoura. De modo que pudesse ver com os próprios olhos aquela cena que vira alguns anos antes, quando esteve como peregrino na Terra Santa. Poder celebrar a Eucaristia acima da manjedoura ajudava também os cristãos da época a compreender o mistério da Encarnação, de como Jesus se fez pequeno, assim continua a se fazer pequeno para doar-se a nós na Eucaristia.
Sim, é verdade, não há necessidade de muitas palavras nesta “nova Belém” aninhada no coração dos Apeninos do Lácio, disse o Papa Francisco na sua visita a Greccio no ano passado (2019) para assinar a Carta Apostólica Admirabile Signum. “A cena que se coloca diante de nossos olhos - sublinha o Papa Francisco - expressa a sabedoria da qual necessitamos para compreender o essencial”.

Padre Francesco Patton, Custódio da Terra Santa

Nos Evangelhos de São Lucas e São Mateus encontramos os primeiros personagens. Os personagens principais são Maria, a mãe de Jesus, José, o pai adotivo de Jesus, aquele que o insere à linhagem de Davi, e o Menino Jesus, o personagem central.

Mas na história de Lucas também encontramos outros personagens, como por exemplo, os pastores e os anjos; é o Evangelista Lucas que nos conta que quando Jesus nasce e é colocado na manjedoura, não muito longe de Belém, no lugar que conhecemos muito bem como Beit Sahour, o Campo dos Pastores. Um anjo aparece aos pastores que tomavam conta de um rebanho e diz: “Eu vos anuncio uma grande alegria: hoje na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador”. E o anjo também acrescenta: “E isto vos servirá de sinal; encontrareis o menino envolto em faixas e deitado numa manjedoura”.

E depois a outra cena em que aparecem os coros dos Anjos e aquela em que os anjos começam a cantar: Glória a Deus nas alturas do céu e paz na terra aos homens que ama; ou aos homens de boa vontade, dependendo de como a palavra usada pelo Evangelista Lucas é traduzida. Esses são alguns dos personagens que encontramos e esses personagens se movem, desde o campo dos pastores, chegando a Belém, ao lugar onde Maria deu à luz o menino Jesus.
Será o Protoevangelho de Tiago, um Evangelho apócrifo, a nos dizer que Jesus nasceu em uma gruta e será a tradição a nos lembrar de que Ele nasceu em uma gruta, e não apenas a nos lembrar, mas nos apontar em qual gruta: a gruta que veneramos como a Gruta da Natividade.

Os pastores espalham a notícia, e a seguir o Evangelista Lucas acrescenta um detalhe, que outras pessoas também se alegram com este nascimento e já imaginamos a cena do presépio, ambientada no dia de Natal, e vemos todos esses personagens chegando em direção à gruta de Jesus.
Numa das representações, talvez a mais famosa, a do presépio napolitano, todo tipo de profissões, pessoas, personagens entram e vão em direção ao Menino Jesus. Isto não é um delírio; é uma verdade profunda, uma interpretação, uma atualização: depois de ouvir o anúncio dos pastores, todos nós, independentemente do trabalho que realizamos, somos convidados a ir à gruta, à manjedoura, e a adorar o Menino Jesus que nasce para nós como Salvador e nos traz essa grande alegria, essa paz que só Deus pode nos trazer.

Há então outro Evangelho muito importante, que é o de São Mateus, que acrescenta outros personagens. Os personagens que Mateus acrescenta são os Magos. Mas o evangelista Mateus não fala de uma gruta, e sim de uma casa. Mateus nos conta que a estrela ia à frente deles até parar sobre o lugar e então eles experimentam uma grande alegria. Ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele e o adoraram. Depois, ofereceram-lhe os presentes com alto valor simbólico: ouro, incenso e mirra.
A tradição acrescentou outros detalhes: na Idade Média, os Magos tornaram-se Reis Magos; o conteúdo foi tomado de um Salmo que fala dos Reis de Sabá e das ilhas que virão trazendo presentes. Desta forma, a tradição medieval transformou esses sábios, sacerdotes do culto de Zoroastro, em Reis; e também a representação muda: se antes eles tinham um chapéu frígio, que é aquele chapéu feito com a ponta um pouco para frente, agora eles têm a coroa. Progressivamente outros elementos simbólicos são adicionados; por exemplo, a cor da pele, que os torna um com a pele branca, outro com características asiáticas e outro com características africanas, para expressar que todos os povos da terra vieram adorar o Menino Jesus.

Também no Antigo Testamento encontramos as profecias com o anúncio do nascimento de Jesus. Naturalmente outros elementos foram adicionados ao presépio: como, por exemplo, os animais: o asno e o boi, que são integrados a partir de uma profecia de Isaías, e depois serão reinterpretados na época Patrística como dois personagens que representam o povo de Israel e os povos pagãos, para dizer mais uma vez, toda a humanidade é chamada a acolher o Menino Jesus.

Na verdade, o presépio nasce da junção desses vários elementos e, portanto, o presépio, não só representa a cena do Natal, em 25 de dezembro, mas retrata a cena da Epifania, que celebramos em 06 de janeiro e, portanto, retrata todo o mistério da Encarnação e torna-o visível de uma forma simples e compreensível até para uma criança, e então, poderíamos dizer, transforma o Evangelho em algo visível, capaz de suscitar participação, emoção, alegria, para todos nós.
O presépio sempre precisa de um personagem a mais, e esse personagem a mais, é aquele que o está fazendo, contemplando... mesmo que se faça o presépio em um sentido material, deve-se ter, de alguma forma, uma meditação sobre cada personagem individualmente, uma identificação individual com os personagens, e então verdadeiramente um regozijar-se e uma adoração ao menino Jesus e recebê-lo como Salvador.

No ano passado (2019), no Natal, a cidade de Belém acolheu com grande alegria uma relíquia da manjedoura do Menino Jesus, guardada na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma.
O Papa Francisco quis nos dar um fragmento de uma dessas 4 hastes, um fragmento de alto valor, em um belo relicário e agora o mantemos em Belém e quando há as festas de Natal é exposto para veneração. Já no final de novembro, no primeiro domingo do Advento, carregamos a relíquia em procissão e a expusemos para a veneração.

Existem muitos pequenos sinais que nos levam à realidade da Encarnação; não seguimos fantasias, contos de fadas, quando falamos de Jesus, mas seguimos uma história que nos leva a contemplar a concretude do mistério da Encarnação, do Deus invisível e infinito que se torna visível e se manifesta em algo muito finito: um pequeno Menino que precisa de tudo.
O meu desejo é que o Menino Jesus possa entrar em nossas casas, desejo que Jesus possa ser colocado este ano não em qualquer manjedoura, mas dentro da manjedoura da família, dentro da manjedoura que está no coração de cada um de nós, porque essa é a maneira mais autêntica de celebrar o Natal. Que cada um de nós possa acolher o Menino Jesus na sua própria manjedoura viva e anunciá-Lo aos outros.


Fonte: Christian Media Center - Português (1ª parte / 2ª parte)

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