Páginas

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Formações sobre o Missal (9): Ano Litúrgico como mistagogia

Quase concluindo esta série de postagens sobre o subsídio “Un Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e Catechesi” (Um Missal para as nossas Assembleias: A terceira edição italiana do Missal Romano entre Liturgia e Catequese), publicado pelo Ofício Litúrgico da Conferência Episcopal Italiana (CEI) em preparação à 3ª edição do Missal Romano, segue nossa tradução do nono encontro formativo, dedicado ao Ano Litúrgico.

9. Ano Litúrgico como mistagogia

Desta consciência deriva a necessidade de renovar e aprofundar o empenho por uma ação pastoral que reconheça na Eucaristia dominical o seu ponto de referência como fonte e ápice. A Liturgia, com efeito, «é escola permanente de formação em torno do Senhor Ressuscitado, “lugar educativo e revelativo” no qual a fé toma forma e é transmitida. Na celebração litúrgica o cristão aprende a “provar como é bom o Senhor” (Sl 33,9; cf. 1Pd 2,3), passando da nutrição do leite ao alimento sólido (cf. Hb 5,12-14), “até atingirmos a medida da plenitude de Cristo” (Ef 4,13)» (CEI, Apresentação da 3ª edição do Missal Romano, n. 11).


O Ano Litúrgico como mistagogia eclesial

O Ano Litúrgico é a respiração mistagógica da Igreja: sobre ele se estrutura o catecumenato, a pastoral da evangelização e da missão. A sua celebração marca os ritmos do caminho, inspira e orienta os itinerários de fé da comunidade e lhes oferece um centro. O Ano Litúrgico se apresenta como uma grande mistagogia que, inspirada pela narração da história da salvação proposta pelo Lecionário, se torna oração nas antífonas, nas orações e nos prefácios do Missal, para assim poder introduzir os fiéis a um conhecimento progressivo e a uma experiência concreta de todo o mistério da fé.

A celebração do Ano Litúrgico anuncia e torna presente o Mistério de Cristo na sua plenitude. Os fiéis participam dele em etapas marcadas de domingo a domingo, de festa em festa. A Igreja, com a sua sábia pedagogia, nos toma pela mão e nos convida a colocar a nossa existência em relação com aquela de Deus Pai, nos dá a graça de comunicar os eventos decisivos da história de Jesus, de “unir-nos aos seus mistérios” e de dar à nossa vida a abertura para a eternidade. Os chamados “tempos fortes” (Advento, Natal, Quaresma e Páscoa), o Tempo Comum e o santoral encontram o seu ponto de referência habitual na sucessão das celebrações dominicais assim como são propostas pelo Missal Romano (MR). É, portanto, o Missal da reforma litúrgica e agora revisto com base na 3ª editio typica (edição típica) a dar corpo ao itinerário do ano. O alternar-se dos “tempos fortes” e do Tempo Comum cria um ritmo, uma sucessão diferenciada que nos subtrai à monotonia com a qual percebemos o tempo que passa. As antífonas próprias de cada domingo e festa cantam o sentido de cada Celebração Eucarística, lhe dão rosto e cor. As orações e os prefácios oferecem à oração da assembleia aquele tom graças ao qual os dias e os tempos são apreciados em sua novidade, abertos à esperança e à graça. No curso das várias celebrações são narrados e cantados os singulares atos salvíficos de Cristo, a fim de que os fiéis possam entrar em contato com Ele e sejam repletos da graça que brota d’Ele. Na celebração do Ano Litúrgico, se percorrer toda a história de Cristo, culminando na Páscoa-Pentecoste. É Ele o centro e o protagonista, sua é a Palavra proclamada, é Ele que parte o pão e nos nutre com a sua própria vida de Filho, para que também nós vivamos como filhos. D’Ele brota o convite a participar no banquete da vida, com Ele, por meio d’Ele e n’Ele nós dirigimo-nos ao Pai: tudo tem como finalidade o encontro com Ele, até o dia em que Ele será tudo em todos.
Valorizando as possibilidades de escolha previstas pelo MR, será importante fazer perceber a variedade que o Ano Litúrgico comporta: assim, por exemplo, além das cores das vestes litúrgicas, a escolha dos cantos “reservados” a um determinado tempo litúrgico, as diferenças de ornamentação (flores, decorações...), a presença ou a omissão de gestos rituais (como a incensação) são elementos que, no fluir dos textos bíblicos e litúrgicos, ajudarão a comunidade que celebra a perceber melhor e a celebrar a diversidade e a unidade dos “tempos e estações” da vida da Igreja.

A graça da assembleia eucarística dominical

O MR marca o Ano Litúrgico através do ritmo semanal do domingo. É o dia do Senhor vitorioso sobre a morte, no qual com o dom do Espírito faz novas a criação e a história. É o dia da Igreja, no qual a comunidade cristã é convocada em assembleia para celebrar a Eucaristia. É o dia da humanidade renovada pela Páscoa e, por isso, dia de alegria, de repouso e de caridade fraterna. A relação entre este dia, momento central da vida de uma comunidade cristã, e o ritmo anual é sustentada pelo próprio centro do mistério acreditado e celebrado: a Páscoa.
As condições nas quais hoje é celebrada a Eucaristia no dia do Senhor mudaram sensivelmente, seja no plano sociocultural, por causa de um maior individualismo e de um enfraquecido senso de pertença, seja no plano eclesial, pela escassez de presbíteros e pelo desinteresse dos jovens. Estamos convictos, porém, de que esta situação nos abre e nos impulsiona a uma busca frutuosa de novas possibilidades de viver a fé. A plena valorização do MR pode certamente levar os fiéis, aproveitando a riqueza da palavra anunciada e nutrindo-se do alimento da vida, a crescer na fé e na comunhão fraterna.

O Tríduo Pascal, centro do Ano Litúrgico

O Tríduo Pascal constitui o centro e o coração de todo o Ano Litúrgico. É oportuno recordar que o Tríduo Pascal não é uma preparação à Solenidade da Páscoa, mas constitui a própria celebração da Páscoa, estendida nos três dias «do Cristo Crucificado, Sepultado e Ressuscitado» (Santo Agostinho). O Missal apresenta o Tríduo como uma única grande celebração; de fato, nos dá indicações rituais que não estão presentes em nenhum outro momento do Ano Litúrgico: aquele que preside saúda a assembleia ao início da Missa da Ceia do Senhor e a despede com a bênção final apenas no final da celebração da Vigília Pascal. A Missa da Ceia do Senhor não se encerra com a despedida: a assembleia se dissolve em silêncio. Na Sexta-feira Santa, a Celebração da Paixão do Senhor inicia com a prostração, portanto sem os ritos iniciais, e termina sem a bênção, no silêncio. Apenas no final da Vigília Pascal retorna a bênção e a despedida da assembleia. É o modo ritual, indicado pelo Missal, de convidar os fiéis a confessar a fé no Crucificado-Ressuscitado: sem a Paixão e a Morte, a Ressurreição seria um triunfo que não toca o drama da história; sem a Ressurreição, a Cruz seria o fim de tudo. O Crucificado, ao contrário, com a sua Morte faz morrer a morte e com a Ressurreição nos faz passar para a vida que não passa. O Mistério Pascal é a celebração da nossa passagem ao Pai através da Paixão de Jesus.

O encontro com o Crucificado-Ressuscitado:
centro do ciclo semanal (domingo) e anual (Tríduo Pascal)

Ano Litúrgico e cuidados pastorais

A ação pastoral sempre teve em mente o Ano Litúrgico, muitas vezes, porém, mais como ocasião para iniciativas que encontram apoio nas festas e nos tempos litúrgicos do que como valorização das suas possibilidades formativas. Agora, para que o Ano Litúrgico assuma a fisionomia de um itinerário de fé para toda a comunidade, é necessário que na formulação do programa pastoral da paróquia confluam duas instâncias: que o Ano Litúrgico ajude a uma participação sempre mais plena na Páscoa de Cristo, como um caminho gradual rumo a uma conformação autêntica a Cristo Morto e Ressuscitado; que haja unidade entre o mistério de Cristo celebrado no caminho anual e os sacramentos que realizam uma progressiva participação neste mistério. Neste sentido, o Ritual da Iniciação Cristã de Adultos (RICA) é exemplar, ao estruturar o acesso à vida cristã sobre a “espinha dorsal” do Ano Litúrgico, cujo desenvolvimento o Ritual requer que seja fortemente marcado pelos sacramentos da Iniciação e pelas diversas etapas que os preparam, e que toda a comunidade seja envolvida.
A mistagogia do Ano Litúrgico requer que as festas sejam celebradas segundo o seu verdadeiro sentido: não simples ocasiões para realizar iniciativas pastorais, mas verdadeiros “momentos favoráveis” (cf. 2Cor 6,2) para celebrar, viver, envolver-se na salvação pascal, oferecida sempre pelo Senhor Ressuscitado.

Para refletir juntos:

- Em nossa comunidade, quais propostas formativas estão organizadas sobre o tema do Ano Litúrgico e a riqueza dos seus sinais?
- Quais oportunidades poderíamos aproveitar para viver o domingo como dia do Senhor que constrói laços e restaura o valor humano e espiritual do tempo?
- Como marcar o ritmo das atividades, das propostas celebrativas e pastorais em geral, das festas e dos acontecimentos importantes à luz da centralidade da Páscoa?

Fonte:
CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA. Anno liturgico come mistagogia. in: Un Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e Catechesi. Fondazione di Religione Santi Francesco d’Assisi e Caterina da Siena: Roma, 2020, pp. 55-60.

Disponível em: https://liturgico.chiesacattolica.it/un-messale-per-le-nostre-assemblee/

Nenhum comentário:

Postar um comentário