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terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Formações sobre o Missal (10): Da celebração à Igreja em saída

Com essa postagem concluímos nossa série dedicada ao subsídio “Un Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e Catechesi” (Um Missal para as nossas Assembleias: A terceira edição italiana do Missal Romano entre Liturgia e Catequese), publicado pelo Ofício Litúrgico da Conferência Episcopal Italiana (CEI) em preparação à 3ª edição do Missal Romano. Segue, portanto, nossa tradução do décimo e último encontro formativo do subsídio.

10. Da celebração à «Igreja em saída»

Do ponto de vista teológico, o livro litúrgico é guardião da fé acreditada, celebrada e vivida, sendo, portanto, testemunha autorizada da profunda unidade que vincula a lei do rezar (lex orandi) à lei do crer (lex credendi) e, por fim, à lei do viver (lex vivendi). Um longo caminho foi percorrido nessas décadas [desde o Concílio Vaticano II] para aproximar o povo de Deus dos tesouros da Sagrada Escritura: urge agora um empenho correspondente para que a celebração litúrgica seja vivida como um lugar privilegiado de transmissão da autêntica Tradição da Igreja e de acesso aos mistérios da fé, em uma conexão sempre mais estreita com as diversas dimensões da vida quotidiana (CEI, Apresentação da 3ª edição do Missal Romano, n. 10).

"Docete omnes gentes" - "Fazei discípulos entre todas as nações" (Mt 28,19)
(Vitral da Catedral de Santiago do Chile)

Da Missa à missão

O uso material do livro litúrgico “termina”, cada celebração individual, no momento em que essa se conclui. Mas, como a Celebração Eucarística se conclui com um envio («Ide em paz») dirigido à comunidade que celebrou os santos mistérios, o Missal não é alheio à missão confiada aos fiéis, porque o próprio rito propõe um “estilo” de missão.
«Quando a assembleia se dissolve e é reenviada à vida, é toda a vida que deve se tornar dom de si. Também este é um significado do mandamento do Senhor: “Fazei isto em memória de mim”. Todo cristão que tenha compreendido o sentido daquilo de que participou, se sentirá em dívida com cada irmão por aquilo que recebeu. “Ide e anunciai a meus irmãos” (Mt 28,10): o chamado se torna missão, o dom se torna responsabilidade, e requer ser compartilhado» [1].

Olhar para a Eucaristia como fonte da missão permitirá antes de tudo determinar melhor as coordenadas da missão da Igreja, e recordar que o sentido do seu anseio apostólico «não consiste em um aumento das atividades a desenvolver, mas si em um estilo de testemunho que devemos aos irmãos, isto é: devemos viver as coisas cotidianas com espírito missionário. Isto ajudará a evitar que a comunidade seja uma “uma estrutura complicada, separada das pessoas, ou um grupo de eleitos que olham para si mesmos” (Evangelii gaudium, n. 28) e nos preservará do perigo de afogarmo-nos em uma série de iniciativas que alcançam e envolvem sempre as mesmas pessoas. Muitas vezes a ação pastoral corre o risco de sugerir a ideia de que a Igreja é alimentada mais pela multiplicação dos projetos e das obras do que pelo Pão do céu oferecido por Deus» [2].
De fato, a Eucaristia constitui não só um ponto de referência determinante, mas a verdadeira fonte da missão. Ela evidencia que a missão, antes de tudo, não é uma atividade nossa para difundir certas ideias e valores, mas é o realizar-se em nós do movimento com o qual Deus vem ao encontro de cada homem por Cristo no Espírito Santo. O testemunho da Igreja nasce da Eucaristia justamente porque a sua missão não é “outra” senão a de Jesus, e nem mesmo “sucede” ou vem “depois” que a sua. Com efeito, «a missão primeira e fundamental, que deriva dos Santos Mistérios que celebramos, é dar testemunho com a nossa vida. O enlevo pelo dom que Deus nos concedeu em Cristo imprime à nossa existência um dinamismo novo que nos compromete a ser testemunhas do seu amor» (Bento XVI, Exortação Apostólica Sacramentum caritatis, n. 85).

Uma celebração que dispõe à missão

Para que tudo isso seja possível, trata-se agora, em primeiro lugar, de valorizar a “dimensão missionária” já presente na própria celebração, e de ajudar a comunidade a reconhecê-la e a vivê-la, antes de tudo mediante o cuidado atento da dinâmica celebrativa («per ritus et preces»: Sacrosanctum Concilium, n. 48), e depois com a ajuda de uma sábia catequese mistagógica. Pensemos, por exemplo, no modo como a celebração da Liturgia da Palavra pode conduzir a assembleia - certamente, em última análise, pelo dom do Espírito - a refazer a experiência dos discípulos na estrada de Emaús (“Não estava ardendo o nosso coração quando Ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?”: Lc 24,33), de modo que depois o reconhecimento do Senhor na fração do pão a impulsione a retomar o caminho, para tornar-se testemunha do encontro com o Ressuscitado.
Dispõe à missão o cuidado geral por uma Liturgia celebrada com propriedade e com beleza. É muito difícil, de fato, sentir o desejo de transmitir aos outros aquilo que “vimos e ouvimos” (cf. 1Jo 1,3) se não partimos da grata recordação de termos visto qualquer coisa ao mesmo tempo “bela” e “transparente”: bela, precisamente, nas diversas dimensões celebrativas, e transparente do mistério de amor em torno do qual a comunidade se reúne e para o qual se orienta. Assim se poderá dizer com Paulo: «Nós... não anunciamos a nós mesmos, mas Cristo Jesus, o Senhor» (2Cor 4,5), aquele Senhor que contemplamos, ouvimos, “tocamos com a mão” e cuja bondade misericordiosa “provamos”. Como recorda o Papa Francisco, «a evangelização alegre torna-se beleza na Liturgia. A Igreja evangeliza e se evangeliza com a beleza da Liturgia, que é também celebração da atividade evangelizadora e fonte de um renovado impulso para se doar» (Exortação Apostólica Evangelii gaudium, n. 24).

Papa Francisco acolhe grupo de catecúmenos

A comunidade litúrgica evangeliza

Não nos esqueçamos de que também a celebração enquanto tal, se bem que em si mesma orientada aos cristãos já iniciados, pode tornar-se um singular lugar de anúncio. São ainda muitas as ocasiões em que estão presentes na Celebração Eucarística tanto batizados que abandonaram a participação regular na vida litúrgica e, mais amplamente, a prática da vida cristã, quanto também não batizados, presentes, por exemplo, por razões de parentesco ou amizade nas celebrações do Matrimônio, dos sacramentos da Iniciação Cristã ou dos funerais [3].
A comunidade cristã evangeliza, é missionária, pelo próprio fato de reunir-se “em nome do Senhor”, e pelo modo como se apresenta neste reunir-se: portanto, uma comunidade que acolhe e na qual nos deixamos acolher, uma comunidade na qual os diversos dons e carismas são postos à disposição de todos e, reciprocamente, são reconhecidos e valorizados; consequentemente, uma assembleia litúrgica onde há espaço para a variedade dos serviços, das competências, onde há respeito pelas potencialidades e também pelos limites encontrados (nem todos podem compreender certo tipo de linguagem, cantar certo tipo de canto, cumprir com naturalidade e facilidade um gesto, dispor-se para um serviço...); uma comunidade litúrgica na qual ninguém se “impõe” sobre os outros, mas onde todos convergem no reconhecimento orante e alegre do único que é Cabeça e Senhor, Jesus Cristo... Uma comunidade assim tem muito mais possibilidade de se tornar um sinal transparente do “Corpo de Cristo” que vive em um bairro ou em uma cidade.

Uma Igreja “enviada”

Um modo correto de celebrar o mistério de Cristo ajudará a superar até mesmo aquele individualismo religioso que ainda é muito presente e que torna mais difícil a missão evangelizadora da comunidade. «Muitas vezes, de fato, a Eucaristia corre o risco de ser vivida de maneira “privada”, como se fosse puramente a resposta a uma necessidade individual, ou mesmo a oferta a Deus das nossas boas ações. Assim se perde a dimensão mais verdadeira da assembleia litúrgica, que não é uma reunião de indivíduos, que agem de maneira privada, mas é a realização visível, em um lugar e em um tempo, do mistério da Igreja» [4].
Apenas uma Igreja fraterna, comunhão verdadeira, corpo ao mesmo tempo unido e variado, submetido à sua Cabeça, Cristo, e por Ele enviada, poderá anunciar o “Evangelho da alegria”. Por isto, pensar «a celebração como momento de convocação da comunidade é diferente de propô-la como “serviço religioso” oferecido aos indivíduos; compreendê-la e vivê-la como alimento da missão é diferente de concebê-la como um momento fechado em si mesmo, em uma inércia repetitiva que não perturba» [5]. «A comunidade evangelizadora alegre sabe sempre “festejar”: celebra e festeja cada pequena vitória, cada passo à frente na evangelização» (Evangelii gaudium, n. 24): como ninguém faz festa sozinho, assim também não há Eucaristia nem missão sem a fraternidade e a comunhão da Igreja.

Procissão de saída da Missa Crismal no Vaticano

Para refletir juntos:

- Como repensar o nosso modo de celebrar, para que esteja atento também aos «não iniciados» que também participam, em certas ocasiões, da Celebração Eucarística?
- Quais aspectos de uma catequese mistagógica podem favorecer a passagem da celebração à missão?  
- Como favorecer a percepção da dimensão comunitária da Eucaristia, irredutível a um serviço religioso oferecido aos indivíduos?

Notas:
[1] CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA, Il giorno del Signore: Nota pastorale, 15 luglio 1984, n. 13.
[2] COMITATO PER I CONGRESSI EUCARISTICI NAZIONALI, L’Eucaristia sorgente della missione: «Nella tua Misericordia a tutti sei venuto incontro», XXVI Congresso Eucaristico Nazionale (Genova, 15-18 ottobre 2016), pp. 22-23.
[3] cf. CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA, Comunicare il Vangelo in un mondo che cambia: Orientamenti pastorali dell’Episcopato italiano per il primo decennio del 2000, 29 giugno 2001, n. 57.
[4] COMITATO PER I CONGRESSI EUCARISTICI NAZIONALI, op. cit., p. 27.
[5] ibid, p. 28.

Fonte:
CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA. Dalla celebrazione alla «Chiesa in uscita». in: Un Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e Catechesi. Fondazione di Religione Santi Francesco d’Assisi e Caterina da Siena: Roma, 2020, pp. 61-66.

Disponível em: https://liturgico.chiesacattolica.it/un-messale-per-le-nostre-assemblee/

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