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terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Ângelus do Papa: II Domingo depois do Natal 2021

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 03 de janeiro de 2021

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Neste II Domingo depois do Natal, a Palavra de Deus não nos oferece um episódio da vida de Jesus, mas fala-nos d’Ele antes que nascesse. Faz-nos retroceder no tempo para revelar algo sobre Jesus antes que Ele viesse entre nós. Fá-lo especialmente no prólogo do Evangelho de João, que começa assim: «No princípio era o Verbo» (Jo 1,1). No princípio: estas são as primeiras palavras da Bíblia, as mesmas com as quais começa a narração da criação: «No princípio, Deus criou o céu e a terra» (Gn 1,1). Hoje o Evangelho diz que Aquele que contemplamos no seu Natal, como menino, Jesus, já existia antes: antes do início das coisas, antes do universo, antes de tudo. Ele existe antes do espaço e do tempo. «Nele havia vida» (Jo 1,4) antes que a vida surgisse.

São João chama-Lhe Verbo, ou seja, Palavra. O que nos quer dizer com isto? A palavra serve para comunicar: não se fala sozinho, fala-se com alguém. Fala-se sempre com alguém. Quando na rua vemos pessoas a falar sozinhas, dizemos: “Esta pessoa não está bem...”. Não, falamos sempre com alguém. Agora, o fato de que Jesus seja desde o princípio a Palavra significa que desde o início Deus quer comunicar conosco, quer falar conosco. O Filho Unigênito do Pai (v. 14) quer comunicar-nos a beleza de sermos filhos de Deus; ele é «a verdadeira luz» (v. 9) e quer afastar-nos das trevas do mal; ele é «a vida» (v. 4), que conhece as nossas vidas e quer dizer-nos que as ama desde sempre. Ele ama-nos a todos. Eis a maravilhosa mensagem de hoje: Jesus é a Palavra, a Palavra eterna de Deus, que desde sempre pensa em nós e deseja comunicar conosco.

E para fazê-lo, foi além das palavras. De fato, no coração do Evangelho de hoje, é-nos dito que a Palavra «se fez carne e veio habitar entre nós» (v. 14). Ele fez-se carne: por que São João usa esta expressão, “carne”? Não poderia ter dito, de uma forma mais elegante, que se tornou homem? Não, ele usa a palavra carne porque indica a nossa condição humana em toda a sua fraqueza, em toda a sua fragilidade. Diz-nos que Deus se tornou fragilizado a fim de tocar de perto a nossa fragilidade. Portanto, desde que o Senhor se fez carne, nada na nossa vida lhe é desconhecido. Não há nada que Ele desdenhe; podemos partilhar tudo com Ele, tudo. Querido irmão, querida irmã, Deus fez-se carne para nos dizer, para te dizer que te ama precisamente ali, que nos ama ali, nas nossas fragilidades, nas tuas fragilidades; precisamente ali, onde mais nos envergonhamos, onde mais te envergonhas. Isto é ousado, a decisão de Deus é ousada: ele fez-se carne precisamente ali onde tantas vezes nos envergonhamos; ele entra na nossa vergonha, para se tornar nosso irmão, para partilhar o caminho da vida.

Fez-se carne e não voltou atrás. Ele não assumiu a nossa humanidade como a roupa que se veste e se despe. Não, ele nunca mais se separou da nossa carne. E nunca se separará: agora e para sempre Ele está no céu com o seu corpo de carne humana. Ele uniu-se para sempre à nossa humanidade, poderíamos dizer que se “casou” com ela. Gosto de pensar que quando o Senhor reza ao Pai por nós, não só fala: mostra-lhe as feridas da carne, mostra-lhe as feridas que Ele sofreu por nós. Jesus é assim: com a sua carne Ele é o intercessor, quis suportar também os sinais de sofrimento. Jesus, com a sua carne está perante o Pai. Na verdade, o Evangelho diz que Ele veio habitar no meio de nós. Não veio fazer-nos uma visita e depois partiu, veio habitar conosco, para estar conosco. Então o que deseja  ele de nós? Deseja uma grande intimidade. Ele quer que partilhemos com Ele alegrias e tristezas, desejos e temores, esperanças e tristezas, pessoas e situações. Façamos isto, com confiança: abramos-lhe o nosso coração, digamos-lhe tudo. Façamos uma pausa em silêncio diante do presépio para saborear a ternura de Deus que se fez próximo, que se fez carne. E sem medo, convidemo-lo para a nossa casa, para a nossa família. E também - cada um sabe bem - convidemo-lo para as nossas fragilidades. Convidemo-lo, para que Ele possa ver as nossas feridas. Ele virá e a vida mudará.

Que a Santa Mãe de Deus, na qual o Verbo se fez carne, nos ajude a acolher Jesus, que bate à porta do coração para viver conosco.


Fonte: Santa Sé.

[Observação: No Brasil celebra-se neste domingo a Solenidade da Epifania do Senhor, transferida do dia 06 de janeiro]

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