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quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

O hino Te Deum

"A vós, ó Deus, louvamos, a vós, Senhor, cantamos...".

Além dos salmos e dos cânticos bíblicos do Antigo e do Novo Testamento, a Igreja louva o Senhor com uma série de hinos que são frutos da tradição, compostos ao longo de sua história.

Dentre estas composições, uma das mais eminentes é o Te Deum laudamus (A vós, ó Deus, louvamos), entoado na Liturgia das Horas, mais especificamente no Ofício das Leituras dos domingos (exceto na Quaresma), nas Oitavas da Páscoa e do Natal e nas solenidades e festas (Introdução Geral da Liturgia das Horas, n. 68).

O Te Deum é previsto ainda como hino de ação de graças em algumas das celebrações mais solenes do Rito Romano:

- na Ordenação Episcopal, enquanto o novo Bispo percorre a igreja abençoando os fiéis (Cerimonial dos Bispos, n. 594);

- na Bênção de Abade ou Abadessa, como canto final (Cerimonial dos Bispos, nn. 693.714);

- na conclusão de um Concílio ou Sínodo (Cerimonial dos Bispos, n. 1175) e, tradicionalmente, também dos Jubileus;

- no Conclave, após o novo Papa revestir suas vestes próprias na Capela Sistina (Ordo Rituum Conclavis, n. 73);

- ao longo da história era previsto nas coroações dos reis católicos e em outros acontecimentos importantes da nação;

- no encerramento do ano civil, diante do Santíssimo Sacramento exposto (Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, n. 114).

Triunfo do Cristianismo (Gustave Doré)

A origem do Te Deum

Uma versão lendária atribui a origem do hino a Santo Ambrósio e a Santo Agostinho, como ação de graças pelo Batismo desse último (ano 387). Porém, uma hipótese mais aceita atualmente é sua autoria por Nicetas, Bispo de Remesiana (na atual Sérvia), que viveu entre 335 e 414.

Porém, é importante considerar as diferenças existentes nos termos, no ritmo e na melodia entre as diversas partes do hino, razão pela qual se propõe que diferentes textos dos séculos III a V foram unidos em sua composição. Alguns sugerem inclusive que, pela presença do Sanctus na primeira parte, alguns trechos poderiam ser fragmentos de uma Anáfora, isto é, uma Oração Eucarística antiga.

Não obstante, a partir do século VI já consta na Liturgia romana como hino para o Ofício das Matinas dos domingos, além de outras celebrações mais solenes. Além disso, tornou-se muito popular entre os monges: São Cesário de Arles e seu sucessor, São Aureliano, assim como São Bento prescrevem sua recitação em suas Regras monásticas.

Partitura medieval do Te Deum

O texto do Te Deum

Em latim, o texto é dividido em três partes, cada uma com sete estrofes. A primeira (Te Deum laudamus), provavelmente a mais antiga, é um louvor ao Pai no céu e na terra - louvor este entoado pelos anjos e santos (Apóstolos, Profetas e Mártires) no céu e pela Igreja na terra -, concluindo com uma doxologia que estende a adoração ao Filho e ao Espírito Santo.

A segunda parte (Tu rex gloriae, Christe) é dirigida ao Filho, glorificando-o por sua obra redentora: Encarnação, Morte e Exaltação, concluindo com uma súplica, pedindo o dom da salvação.

Por fim, a terceira parte (Salvum fac pópulum tuum, Dómine) não fazia originalmente parte do hino, razão pela qual é facultativa na recitação litúrgica. É composta por frases inspiradas nos Salmos, nas quais predomina o caráter de súplica.

Segue, pois, o texto do Te Deum em português e em latim conforme constam na Liturgia das Horas e no Pontifical Romano (pp. 579-580). Cumpre notar que, embora existam versões "populares" do Te Deum com letras distintas, nas celebrações litúrgicas deve-se entoar o hino em sua versão oficial:

A vós, ó Deus, louvamos, a vós, Senhor, cantamos.
A vós, Eterno Pai, adora toda a terra.

A vós cantam os anjos, os céus e seus poderes:
Sois Santo, Santo, Santo, Senhor, Deus do universo!

Proclamam céus e terra a vossa imensa glória.
A vós celebra o coro glorioso dos Apóstolos,

Vos louva dos Profetas a nobre multidão
e o luminoso exército dos vossos santos Mártires.

A vós por toda a terra proclama a Santa Igreja,
ó Pai onipotente, de imensa majestade,

e adora juntamente o vosso Filho único,
Deus vivo e verdadeiro, e ao vosso Santo Espírito.

Ó Cristo, Rei da glória, do Pai eterno Filho,
nascestes duma Virgem, a fim de nos salvar.

Sofrendo vós a morte, da morte triunfastes,
abrindo aos que têm fé dos céus o reino eterno.

Sentastes à direita de Deus, do Pai na glória.
Nós cremos que de novo vireis como juiz.

Portanto, vos pedimos: salvai os vossos servos,
que vós, Senhor, remistes com sangue precioso.

Fazei-nos ser contados, Senhor, vos suplicamos,
em meio a vossos santos na vossa eterna glória.

(A parte que se segue pode ser omitida, se for oportuno).

Salvai o vosso povo. Senhor, abençoai-o.
Regei-nos e guardai-nos até a vida eterna.

Senhor, em cada dia, fiéis, vos bendizemos,
louvamos vosso nome agora e pelos séculos.

Dignai-vos, neste dia, guardar-nos do pecado.
Senhor, tende piedade de nós, que a vós clamamos.

Que desça sobre nós, Senhor, a vossa graça,
porque em vós pusemos a nossa confiança.

Fazei que eu, para sempre, não seja envergonhado:
Em vós, Senhor, confio, sois vós minha esperança! 


Te Deum laudámus: te Dóminum confitémur.
Te aetérnum Patrem, omnis terra venerátur.
Tibi omnes ángeli, tibi caeli, et univérsae potestátes:
tibi chérubim et séraphim incessábili voce proclámant:
Sanctus, Sanctus, Sanctus Dóminus Deus Sábaoth.
Pleni sunt caeli et terra maiestátis glóriæ tuae.
Te gloriósus Apostolórum chorus,
te prophetárum laudábilis númerus,
te mártirum candidátus laudat exércitus.
Te per orbem terrárum sancta confitétur Ecclésia:
Patrem imménsae maiestátis,
venerádum tuum verum et únicum Fílium;
Sanctum quoque Paráclitum Spíritum.

Tu rex glóriae, Christe.
Tu Patris sempitérnus es Fílius.
Tu, ad liberándum susceptúrus hóminem, non horruísti Vírginis uterum.
Tu, devícto mortis acúleo, aperuísti credéntibus regna caelórum.
Tu ad déxteram Dei sedes in glória Patris.
Iudex créderis esse ventúrus.
Te ergo quæsumus, tuis fámulis súbveni, quos pretióso sánguine redemisti.
Aetérna fac cum sanctis tuis in glória numerári.

Salvum fac pópulum tuum, Dómine, et bénedic hereditáti tuæ.
Et rege eos, et extólle illos usque in aetérnum.
Per síngulos dies benedícimus te;
et laudámus nomen tuum in sáeculum, et in sáeculum saeculi.
Dignáre, Domine, die isto, sine peccáto nos custodíre.
Miserére nostri, Dómine, miserére nostri.
Fiat misericórdia tua, Dómine, super nos,
quamádmodum speravimus in te.
In te, Dómine, sperávi: non confúndar in aetérnum.


Referências:

BERGER, Rupert. Te Deum. in: Dicionário de Liturgia Pastoral: Obra de consulta sobre todas as questões referentes à Liturgia. São Paulo: Loyola, 2010, p. 392.

RIGHETTI, Mario. Historia de la Liturgia, v. I: Introducción general; El año litúrgico; El Breviario. Madrid: BAC, 1955, pp. 224-227.


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