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sábado, 19 de dezembro de 2020

Homilia: IV Domingo do Advento - Ano B

São Cirilo de Alexandria
Comentário sobre o Livro do Profeta Isaías
O profeta inspirado vaticinou o Deus conosco

Está escrito: Vede: eis que a Virgem está grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel. Já o Anjo Gabriel, ao revelar o mistério à santa Virgem Mãe de Deus, lhe disse: Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás em teu ventre e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele salvará o seu povo dos seus pecados. Contradisseram-se aqui, por acaso, o santo anjo e o profeta? Em absoluto. Pois o profeta de Deus, falando em espírito do mistério vaticinou o Deus conosco, dando-lhe um nome em sintonia com a natureza e a economia da Encarnação, enquanto que o santo anjo lhe impôs um nome adequado à sua missão e à sua eficácia própria: salvará o seu povo. Por isso o chamou Salvador.

De fato, quando por nós se submeteu a esta geração segundo a carne, uma multidão de anjos anunciou este grandioso e feliz parto aos pastores, dizendo: Não temais, eis que vos trago uma boa notícia, uma grande alegria para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, vos nasceu um Salvador, que é o Messias Senhor. Ele é chamado Emanuel porque por natureza se fez Deus conosco, ou seja, homem; e Jesus, porque devia salvar ao mundo, Ele, Deus feito homem. Então, quando Ele saiu do ventre de sua mãe - pois dela nasceu segundo a carne -, foi então que se pronunciou o seu nome. Seria impróprio chamar o Deus Verbo de “Cristo” antes de seu nascimento segundo a carne, como já disse. Como chamar-lhe de “Cristo” se ainda não havia sido “ungido”?

Quando Ele nasceu homem do ventre de sua mãe, então recebeu uma denominação adequada ao seu nascimento na carne. Diz que Deus fez de sua boca uma espada afiada. Também isto é verdade. Pois d’Ele está escrito, ou melhor, disse o mesmo Profeta Isaías: A justiça circundará os seus rins, e a lealdade circundará seus flancos. Ferirá o homem violento com a disciplina de sua boca.

A pregação divina e celestial, ou seja, evangélica, anunciada por Cristo, era uma espada aguçada e extremamente penetrante, desembainhada contra a tirania do diabo, que eliminava os poderes que dominam este mundo de trevas e as forças do mal. De fato, dissipou as trevas do erro, irradiou sobre os corações de todos o verdadeiro conhecimento de Deus, induziu o orbe inteiro a uma santa transformação de vida, converteu a todos os homens em entusiastas das santas instituições, destruiu e erradicou do mundo o pecado: justificando ao ímpio pela fé, cumulando do Espírito Santo aos que se aproximam d’Ele, e fazendo-lhes filhos de Deus, comunicando-lhes um espírito zeloso e valente para a luta, pondo em suas mãos a espada do espírito, isto é, a Palavra de Deus, para que, resistindo aos que anteriormente eram superiores a eles, corram sem obstáculos para a consecução do prêmio ao qual Deus nos chama do Alto.

Que esta disciplina e iniciação aos divinos mistérios fornecida por Cristo tenha desmantelado o poder tirânico do demônio nos habitantes da terra, o afirma claramente o Profeta Isaías quando disse: Naquele dia, o Senhor ferirá com sua espada, grande, pesada e forte, a leviatã, serpente tortuosa, e matará o dragão.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 283-284. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Beda, o Venerável, para este domingo clicando aqui.

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