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terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Formações sobre o Missal (5): A arte de celebrar

Damos continuidade à nossa série de postagens com a tradução do subsídio “Un Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e Catechesi” (Um Missal para as nossas Assembleias: A terceira edição italiana do Missal Romano entre Liturgia e Catequese), publicado pelo Ofício Litúrgico da Conferência Episcopal Italiana (CEI) em preparação à 3ª edição do Missal Romano.

5. A arte de celebrar

Sobre a beleza evangelizadora da Liturgia, é importante reler as indicações do livro litúrgico no sentido de uma arte de celebrar (ars celebrandi) que nasce de uma ampla e harmônica «atenção a todas as formas de linguagem previstas pela Liturgia: palavra e canto, gestos e silêncios, movimento do corpo, cores das vestes litúrgicas. Com efeito, a Liturgia, por sua natureza, possui tal variedade de níveis de comunicação que lhe permitem cativar o ser humano na sua totalidade» (Bento XVI, Exortação Apostólica Sacramentum caritatis, n. 40). Nesse sentido, é necessário reiterar que o Missal não é simplesmente uma coleção de “textos” a compreender e proclamar, mas também, e acima de tudo, um livro que indica “gestos” a pôr em ação e valorizar, envolvendo os vários ministérios e toda a assembleia. A beleza da Liturgia nasce da harmonia dos gestos e palavras pelos quais nos envolvemos no mistério celebrado. (...) As diversas linguagens que sustentam a arte de celebrar, portanto, não constituem um acréscimo ornamental extrínseco, em vista de uma maior solenidade, mas pertencem à forma sacramental própria do mistério eucarístico (CEI, Apresentação da 3ª edição do Missal Romano, n. 10).

Celebrar é uma arte

Já na Apresentação da CEI à 2ª edição do Missal Romano (MR) em 1983, se intuía a importância da arte de celebrar: «A Celebração Eucarística não será pastoralmente eficaz se o sacerdote não houver adquirido a arte de presidir, isto é, de guiar e animar a assembleia do povo de Deus» (n. 9). A expressão, que inicialmente era aplicada ao presidente mas que logo foi estendida para toda a assembleia celebrante, manifesta uma atenção urgente à implementação do autêntico espírito da reforma litúrgica. Percebemos que não basta executar, e muito menos improvisar, a nova forma ritual, mas é preciso agir de modo mais conforme à verdade da ação litúrgica. Para que a participação no Mistério seja efetiva e eficaz, o estilo de celebrar é uma questão substancial, não acidental, que se refere a uma “arte”, ou seja, a uma capacidade de realizar os gestos e as palavras do rito de maneira adequada, seguindo as normas litúrgicas e valorizando toda a riqueza da linguagem litúrgica. O MR, neste sentido, funciona como a “partitura” diante da qual o músico é chamado não a uma leitura, mas a uma interpretação ao mesmo tempo fiel e criativa, capaz de fazer brotar, da partitura, uma obra de arte.

O Missal, uma "partitura" a interpretar com fidelidade e arte

A arte de obedecer

Nos números 38-42 da Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum caritatis sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja do Papa Bento XVI (2007), a ars celebrandi é entendida como a arte de celebrar retamente e de modo adequado os ritos litúrgicos, segundo duas direções fundamentais: a obediência às normas litúrgicas e a atenção às formas de linguagem previstas pela Liturgia. Sobre o primeiro aspecto se recorda que a ars celebrandi «resulta da fiel obediência às normas litúrgicas na sua integridade, pois é precisamente este modo de celebrar que, há dois mil anos, garante a vida de fé de todos os crentes, chamados a viver a celebração enquanto povo de Deus, sacerdócio real, nação santa (cf. 1Pd 2,4-5.9)» (n. 38). Como nos recordam os Bispos italianos, «hoje aparecem com nova clareza a importância e a exigência de apresentar com o MR um modelo ritual unitário e compartilhado, a partir do qual possa tomar forma toda celebração, de modo que cada assembleia eucarística individual manifesta a unidade da Igreja orante» (CEI, Apresentação da 3ª edição do Missal Romano, n. 7). Mais de cinquenta anos após o início da reforma litúrgica, estamos mais conscientes do quanto a obediência litúrgica é uma virtude a ser exercitada com sabedoria e, de fato, com arte, para que as palavras e os gestos da Liturgia não pareçam estranhos e forçados, mas capazes de tocar as mentes e os corações daqueles que estão dispostos a entrar na “morada” da Liturgia. Está em jogo a capacidade da ação litúrgica de aparecer não como uma ação nossa, mas da Igreja e, mais profundamente, do Senhor: é disso que fala a fidelidade a uma ação que nos precede e que não foi posta em nossas mãos para ser manipulada e adulterada.

A arte de harmonizar

O segundo aspecto da arte de celebrar evidenciado pela Exortação Sacramentum caritatis é aquele de um “acordo” ritual capaz de harmonizar a rica variedade de registros comunicativos envolvidos no encontro sacramental. A arte de celebração é definida como a arte de coordenar de modo orgânico os diversos elementos e linguagens do rito - a arquitetura, as imagens, o canto, as palavras, os movimentos... -, para que sejam adequados tanto ao mistério celebrado quanto à assembleia concreta. O princípio conciliar da “nobre simplicidade” (Sacrosanctum Concilium, n. 34) é retomado pelos Bispos italianos na perspectiva de «uma Liturgia séria, simples e bela, que seja veículo do mistério, permanecendo ao mesmo tempo inteligível, capaz de narrar a perene aliança de Deus com os homens» [1]. A busca pela sobriedade, contra a artificialidade de acréscimos inoportunos, se une a um fundamental respeito pela linguagem singular da Liturgia, que não confunde a simplicidade com o desleixo e que não renuncia à busca de uma linguagem “digna” da grandeza do Senhor, atenta à qualidade “poética” de uma linguagem que, assim como a poesia, se apresenta como uma “diferença que atrai”.

A “regra de ouro” da caridade

Acima de tudo, por fim, vigia a “regra de ouro” da caridade, que se traduz em um vivo senso da gratuidade, capaz de articular a relação entre disciplina e espontaneidade, envolvimento pessoal e esvaziamento de si mesmo, atenção aos aspectos técnicos (relativos ao canto, à música, à leitura, ao modo de mover-se) e espírito de oração. Na Liturgia o cuidado pelos detalhes e o empenho em garantir que tudo se desenvolva do modo mais correto não deve, de modo algum, distrair a atenção do objetivo da oração, que é aquele de estar juntos, na simplicidade, diante do Senhor. A celebração, da preparação à sua realização, seja vivida pelos ministros e pelos fiéis com mansidão e paciência; não haja espaço para censuras, nem para palavras ou gestos que possam, de qualquer forma, ferir a dignidade dos participantes.

A Liturgia: "estar juntos, na simplicidade, diante do Senhor"

Para refletir juntos:

- O que merece atenção para que as múltiplas linguagens da celebração (espaço, tempo, canto, imagens...) sejam implementadas em verdade e plenitude, de modo que não apareçam como elementos decorativos, mas sejam valorizadas para uma autêntica experiência do Mistério?
- Quais percursos formativos podem ser implementados para sensibilizar os ministros e todos os fiéis para a arte de celebrar, sabendo utilizar as diversas linguagens da Liturgia?
- Em quais linguagens a nossa comunidade mais sente a necessidade de crescer em sensibilidade?

Nota:
[1] CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA. Comunicare il Vangelo in un mondo che cambia: Orientamenti pastorali dell’Episcopato italiano per il primo decennio del 2000, 29 giugno 2001, n. 49.

Fonte:

CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA. L’arte di celebrare. in: Un Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e Catechesi. Fondazione di Religione Santi Francesco d’Assisi e Caterina da Siena: Roma, 2020, pp. 31-35.

Disponível em: https://liturgico.chiesacattolica.it/un-messale-per-le-nostre-assemblee/

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