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terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Formações sobre o Missal (4): O Missal, modelo de oração

Retomamos hoje a série de postagens com a tradução do subsídio “Un Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e Catechesi” (Um Missal para as nossas Assembleias: A terceira edição italiana do Missal Romano entre Liturgia e Catequese), elaborado pelo Ofício Litúrgico da Conferência Episcopal Italiana (CEI) em preparação à tradução da 3ª edição do Missal Romano.

4. O Missal, modelo de oração

A Liturgia «é escola permanente de formação em torno do Senhor Ressuscitado, “lugar educativo e revelativo” [1] no qual a fé toma forma e é transmitida. Na celebração litúrgica o cristão aprende a “provar como é bom o Senhor” (Sl 33,9; cf. 1Pd 2,3), passando da nutrição do leite ao alimento sólido (cf. Hb 5,12-14), “até atingirmos a medida da plenitude de Cristo” (Ef 4,13)» (CEI, Apresentação da 3ª edição do Missal Romano, n. 11).

O Missal como livro de oração

Existe uma relação intrínseca entre a experiência da oração e a experiência da Liturgia. Aquilo que o Catecismo da Igreja Católica afirma da oração, entendida como “relação viva e pessoal com Deus” (n. 2558), pode, com razão, ser afirmado de toda celebração litúrgica, em particular da Missa, que constitui a fonte e a forma da oração cristã. «Por meio dos ritos e das orações», a Celebração Eucarística nos permite entrar no mistério da fé e compreendê-lo sempre melhor (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 48).
O Missal Romano (MR), que contém o projeto ritual da Missa, pode, portanto, ser considerado com razão como um livro de oração, não simplesmente porque contém as orações a serem ditas durante o rito, mas porque nele é guardada a norma e a forma da oração litúrgica, que possui características próprias e particulares, que serão apresentadas a seguir.

O Papa recita uma oração do Missal

Uma oração-ação

Qualquer que seja a celebração litúrgica, esta não pode ser reduzida apenas às orações-palavras, das quais, porém, nunca está privada. Uma celebração é intrinsecamente composta por uma multiplicidade de “linguagens”, entre as quais certamente se destaca aquela propriamente verbal, mas não é possível reduzir a oração litúrgica apenas a orações a serem ditas. Na Celebração Eucarística se põe em ação uma rica linguagem, constituída por uma variada gama de modalidades expressivas: junto à Palavra de Deus proclamada e à participação no banquete do Corpo e Sangue do Senhor, há a riqueza da linguagem ritual constituída pelas palavras da oração, pelo silêncio, pelo canto e pela música, pelos gestos e posições corporais, pelos espaços litúrgicos, e mesmo pelas vestes e pelas cores, pelas luzes e pelos perfumes (cf. Introdução Geral do Missal Romano - IGMR, nn. 29-45). Na celebração litúrgica, e em particular na Eucaristia, a oração se manifesta, na sua raiz e no seu coração, como uma relação, um encontro feito de gestos e palavras.

Uma ação simbólica

A Eucaristia é uma oração-ação simbólica, não simplesmente porque utiliza uma série de símbolos a serem conhecidos e valorizados, mas porque constitui em si mesma uma ação que revela a verdade profunda das coisas e realiza aquilo que significa. A sua riqueza simbólica tem como finalidade fazer-nos viver a experiência da relação pessoal e da familiaridade com o Senhor Jesus, mais do que apenas abrir a mente à compreensão dos conteúdos da fé. Por esse motivo, os Bispos destacam como a formação para a Liturgia é antes de tudo um deixar-se formar pela própria ação litúrgica: «Uma visão da Liturgia apenas em perspectiva conceitual e didática vai contra a sua natureza de forma que dá forma, segundo a qual o fiel, tendo alcançado a fé, se deixa moldar e educar pela ação litúrgica, como expressão do culto da Igreja na sua “fontalidade sacramental”, fonte da vida cristã. A celebração, além disso, com suas múltiplas linguagens que interpelam o coração, a mente, os sentidos corporais e psíquicos, e com as suas exigências comunitárias, possui um grandíssimo potencial “educativo”» [2].

Uma oração comunitária

A participação “plena, consciente, ativa e piedosa” na Eucaristia é sempre uma participação ao mesmo tempo pessoal e comunitária. Para que todos se exprimam em uma oração comunitária, cada um deve rezar; para que todos participem em um rito, cada um deve envolver-se. Mas para que a oração de cada um corresponda à oração de todos, são necessários gestos e palavras compartilhados, de modo que a oração de cada um possa confluir na oração da Igreja. O livro do Missal, neste sentido, oferece indicações precisas para que os gestos e as palavras sejam comunitários. O fato de que a oração litúrgica seja quase sempre formulada no plural - “nós” - impele a sair de si mesmo, da estreiteza das próprias visões individuais da oração, para entrar em uma oração universal, de todos e para todos. Na oração litúrgica, cada um canta, se move, reza em uníssono, em sintonia com a oração de todos, de modo que seja um só corpo maior, o corpo da assembleia reunida, a rezar.

Uma oração corpórea

A Eucaristia envolve toda a pessoa e dá forma à vida do cristão. O rito eucarístico envolve mente e corpo, sentidos e emoções, inteligência e afetos. A intrínseca qualidade “prática” da participação litúrgica recorda a unidade profunda que se dá, no ato da oração, entre interioridade e exterioridade. Mesmo no caso simples e óbvio de uma oração vocal, não está implicada apenas a interioridade do orante, mas está em ação também a sua corporeidade: ao menos através do “dizer” a fórmula da oração, mas na realidade também através de uma série de outras dimensões que favorecem a experiência orante. Experimenta-se assim que a exterioridade não conspira contra a experiência do Mistério, antes, é uma marca essencial dela.

Um modelo de oração

Ainda em relação às orações contidas no livro de MR, podemos observar como este oferece um percurso de oração capaz de atravessar e condensar diferentes tipologias de oração, ligadas umas às outras. Com efeito, o rito da Missa passa da ação de graças a intercessão, do louvor ao pedido de perdão, constituindo um processo contínuo de oração. O exemplo mais evidente é representado pela Oração Eucarística: ela realiza um verdadeiro e próprio exercício de oração cristã, que entrelaça organicamente a ação de graças (prefácio) e o louvor (doxologia), a dinâmica de anamnese (isto é, de memorial) e de epiclese (de invocação), a oferta e a intercessão.
Deste modo, o Missal constitui um modelo que inspira e orienta as outras experiências de oração pessoal e comunitária, não eucarísticas. Alguns exemplos:
- todas as orações possuem uma estrutura trinitária: se dirigem ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Esta estrutura pode ser considerada um modelo oficial para qualquer oração cristã;
- os textos das orações presidenciais possuem uma dinâmica que une estreitamente a anamnese, ou seja, o memorial, com a epiclese, com a súplica. Depois da invocação inicial (Ó Deus, ó Pai...), a formulação do pedido é desenvolvida a partir da referência a uma ação salvífica da qual se fez memória. Isto fornece uma espécie de esquema-padrão também para uma oração pessoal de súplica;
- o rito da Missa sabiamente alterna e põe em diálogo a palavra com o silêncio, o qual, conforme a sua colocação no rito, pode assumir funções diversas, que vão do recolhimento à meditação, da escuta à adoração (IGMR, n. 45);
- na sequência ritual da Liturgia da Palavra encontramos outro aspecto da forma autêntica da oração, que alterna a escuta da Palavra de Deus com a resposta do povo de Deus.
Àquele que fala nas leituras proclamadas, corresponde a resposta da assembleia, feita de escuta e apropriação (silêncio e canto), de adesão ao que foi ouvido (aclamação, profissão de fé) e de oração consequente (Oração Universal ou Preces dos fiéis). É um convite a valorizar a dimensão dialogal da oração cristã.

"Estrutura trinitária das orações do Missal:
ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo"

Para refletir juntos:

- Como a nossa comunidade progrediu ao longo do tempo em relação ao modo de rezar dentro da assembleia litúrgica (formulação da Oração Universal, escolha do repertório de cantos...)?
- Como são vividos os espaços e os tempos de silêncio previstos no rito eucarístico?
- Come conectar iniciação à oração litúrgica e educação à oração cristã nos diversos âmbitos e percursos da Catequese?

Notas:
[1] CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA. Comunicare il Vangelo in un mondo che cambia: Orientamenti pastorali dell’Episcopato italiano per il primo decennio del 2000, 29 giugno 2001, n. 49
[2] idem. Incontriamo Gesù: Orientamenti per l’annuncio e la catechesi in Italia, 29 giugno 2014, n. 17.

Fonte:
CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA. Il Messale, modello di preghiera. in: Un Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e Catechesi. Fondazione di Religione Santi Francesco d’Assisi e Caterina da Siena: Roma, 2020, pp. 25-30.

Disponível em: https://liturgico.chiesacattolica.it/un-messale-per-le-nostre-assemblee/

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