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terça-feira, 17 de novembro de 2020

Formações sobre o Missal (2): Um Missal para uma Igreja a caminho

Como indicamos na postagem anterior desta série, em preparação à 3ª edição do Missal Romano, o Ofício Litúrgico da Conferência Episcopal Italiana (CEI) publicou o subsídio formativo “Un Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e Catechesi” (Um Missal para as nossas Assembleias: A terceira edição italiana do Missal Romano entre Liturgia e Catequese).

Com objetivo pastoral, publicaremos em nosso blog uma tradução dos dez “encontros” do subsídio, que serão muito úteis também para a realidade brasileira, enquanto aguardamos a tradução da 3ª edição do Missal por parte da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

2. Um Missal para uma Igreja a caminho

A recepção das principais novidades contidas na nova edição italiana do Missal Romano (MR) e da Introdução Geral do Missal Romano (IGMR) deve ocorrer dentro de um processo mais amplo de aprofundamento da reta compreensão e celebração da Eucaristia. Tal processo é chamado a valorizar de modo mais convicto alguns princípios já presentes na Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium (CEI, Apresentação da 3ª edição do Missal Romano, n. 7).
Como recordou o Papa Francisco, hoje é necessário continuar este trabalho de aprofundamento, «em particular redescobrindo os motivos das decisões tomadas com a reforma litúrgica, superando leituras infundadas e superficiais, recepções parciais e práticas que a desfiguram. Não se trata de reconsiderar a reforma revendo as suas escolhas, mas de conhecer melhor as razões subjacentes, inclusive através da documentação histórica, assim como de interiorizar os seus princípios inspiradores e de observar a disciplina que a regula. Depois deste magistério e, após este longo caminho podemos afirmar com certeza e com autoridade magistral que a reforma litúrgica é irreversível» [1] (ibid., n. 5).

Sessão do Concílio Vaticano II

O Missal de Paulo VI

Quando se fala de um novo Missal, pensamos nas possíveis novidades que poderiam enriquecer a Celebração Eucarística da comunidade. Pensamos em novos textos de oração e novos gestos, talvez mais adaptados à sensibilidade do nosso tempo. Em realidade, ainda que novo na edição gráfica, nas traduções e em alguns textos que são adicionados, o MR na sua substância será a fiel tradução do Missal de Paulo VI, que alcançou sua terceira editio typica (edição típica) em 2002 (revista em 2008).
Fruto de um longo trabalho de pesquisa, confronto e verificação, o Missal de Paulo VI (1970) se apresenta como uma acurada operação de renovação do precedente Missal, chamado “tridentino”, do qual também mantém algumas linhas básicas: a estrutura da Missa ordenada segundo os ritos iniciais, a Liturgia da Palavra, a Liturgia Eucarística e os ritos finais. Também os textos de oração das coletas, das orações sobre as oferendas e após a Comunhão são tomados dos antigos sacramentários, que constituem a base do Missal de Pio V, mas em número muito mais amplo, graças a um maior conhecimento das fontes antigas da Liturgia.
Deste modo, foi salvaguardado o princípio da substancial continuidade e do desenvolvimento orgânico de uma forma ritual a outra, cujas novidades devem ser entendidas a partir das indicações fundamentais emanadas pelo Concílio Vaticano II.

O Missal do Concílio

Acolher o MR corresponde, em boa medida, à retomada e ao aprofundamento do caminho de recepção do próprio Concílio e da renovação da Igreja que começou com ele. Por isso, é oportuno que a acolhida da nova edição do MR comece com uma tomada de consciência grata do percurso realizado e das aquisições amadurecidas em relação à vida litúrgica da Igreja. A Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia (SC) nos ofereceu estas grandes diretrizes:
- afirmou que, na celebração dos santos mistérios, Cristo de faz presente de um modo rico e pluriforme, «sobretudo sob as espécies eucarísticas», mas também na palavras, nos gestos do ministro ordenado e em toda a assembleia orante (SC, n. 7);
- insistiu sobre a necessidade de uma formação litúrgica para todos (fiéis e ministros) e posta a serviço daquela participação plena, consciente, ativa (e piedosa) na Liturgia, da qual podemos haurir o genuíno espírito cristão (nn. 14-20);
- recordou que toda ação litúrgica pertence a todo o corpo da Igreja e que, por isso, se deve preferir a forma comunitária das celebrações e se deve promover uma rica e articulada ministerialidade (nn. 26-32);
- deu novamente amplo espaço à Palavra de Deus no rito, retomando a homilia como parte da ação litúrgica e inculcando uma catequese mais diretamente litúrgica (nn. 33-36);
- recordou-nos a dupla exigência de fidelidade à tradição e de abertura ao contexto cultural e às problemáticas do nosso tempo (nn. 37-40), abrindo a estrada à adaptação da Liturgia à índole dos povos;
- por fim, recordou a importância da vida litúrgica e da Eucaristia na vida da Diocese e das paróquias, promovendo uma nova pastoral litúrgica no quadro mais amplo da pastoral da fé (nn. 41-46).

A realização do Missal Romano

O MR, com base nas indicações dos nn. 47-58 da SC, deu forma concreta às diretrizes conciliares, encaminhando-nos para uma prática celebrativa que valoriza a participação de todos e promove os diversos ministérios litúrgicos. A celebração da Eucaristia nos introduziu e formou novamente a escutar a Palavra proclamada, a anunciar a sua atualidade na homilia e a formular a Oração Universal. O Missal envolve-nos ativamente no diálogo entre ministros e fiéis, permite-nos aceder conscientemente às várias orações, em particular à grande Oração Eucarística, convidando-nos a valorizar também o silêncio nos momentos oportunos. Valoriza os gestos rituais e recomenda a verdade dos sinais, desejando, por exemplo, que os fiéis comunguem as hóstias consagradas na própria Missa (IGMR, n. 85). Requer um novo cuidado dos lugares celebrativos, oportunamente adequados e devidamente bem conservados, bem como uma renovada atenção a tudo o que está envolvido na celebração: das vestes às alfaias, das obras de arte aos arranjos florais. Da mesma forma, exorta-nos a cuidar, com paciência e coragem, a fim de que toda a assembleia celebrante participe do canto litúrgico, e este corresponda melhor ao tempo litúrgico e ao espírito da ação litúrgica.

Missa nos 50 anos de abertura do Concílio Vaticano II

Uma reforma a ser aprofundada

A entrada em vigor da 3ª edição do MR será acolhida com seriedade se aproveitarmos a ocasião para tomar consciência de forma positiva daqueles valores que a prática celebrativa já “sedimentou” em nossas comunidades. Ao mesmo tempo, será útil verificar de maneira construtiva quais aspectos ainda não receberam a devida atenção e, portanto, estão ainda pouco assimilados no “tecido” da comunidade cristã, identificando as causas e as necessidades subjacentes.
Como afirmam os Bispos italianos na sua Apresentação, «esta nova edição italiana do Missal Romano é oferecida ao povo de Deus em uma etapa de aprofundamento da reforma litúrgica inspirada pelo Concílio Vaticano II» (n. 5). Este trabalho de aprofundamento exige superar leituras infundadas e superficiais, recepções parciais e práticas que a desfiguram: a publicação da nova edição do MR constitui uma ocasião propícia para refletir sobre o caminho de uma reforma litúrgica que é certamente “irreversível”, como recordou com autoridade o Papa Francisco (Discurso aos participantes da LXVIII Semana Litúrgica Nacional. Roma, 24 de agosto de 2017), mas está “a caminho”, sempre necessitada de aprimoramento e interiorização. Uma atenção mais viva à arte de celebrar (ars celebrandi), juntamente com um sentido mais forte do valor da orientação da oração ao protagonista divino da celebração, são alguns dos desafios que a nova edição do MR nos chama a acolher e confrontar.

Para refletir juntos:

- Traçando uma “história celebrativa” da nossa comunidade, quais são as diretrizes do Concílio que acolhemos melhor?
- Quais são, ao contrário, os aspectos que ainda devemos conquistar?
- Estamos conscientes de que o nosso modo de celebrar a Eucaristia deve ser compreendido no horizonte de um caminho contínuo de aprofundamento da reforma litúrgica?

Nota:
[1] FRANCISCO. Discurso aos participantes da LXVIII Semana Litúrgica Nacional. Roma, 24 de agosto de 2017.

Fonte:
CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA. Un Messale per una Chiesa in cammino. in: Un Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e Catechesi. Fondazione di Religione Santi Francesco d’Assisi e Caterina da Siena: Roma, 2020, pp. 13-17.

Disponível em: https://liturgico.chiesacattolica.it/un-messale-per-le-nostre-assemblee/

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