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quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Jubileu dos Missionários no ano 2000

No dia 22 de outubro do ano 2000, durante o Grande Jubileu, o Papa João Paulo II celebrou a Santa Missa na Praça de São Pedro por ocasião da conclusão do Congresso Missionário Mundial e do Dia Mundial das Missões no contexto do Ano Santo.

Foi celebrada a Missa do XXIX Domingo do Tempo Comum (ano B).

Missa no Dia Missionário Mundial
Homilia do Papa João Paulo II
22 de outubro de 2000

1. “O Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos” (Mc 10,45).
Caríssimos irmãos e irmãs, estas palavras do Senhor ressoam hoje, Dia Missionário Mundial, como feliz notícia para toda a humanidade e como programa de vida para a Igreja e para cada cristão. Foi o que recordou no início desta celebração o Cardeal Jozef Tomko, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, informando-me que hoje de manhã nesta Praça estão presentes os delegados de 127 nações, participantes no Congresso Missionário Mundial, e os estudiosos de várias confissões vindos para o Congresso Missiológico Internacional. Agradeço ao Cardeal Tomko o discurso de homenagem que me dirigiu e todo o trabalho que, juntamente com os membros da Congregação por ele presidida, desempenha ao serviço do anúncio do Evangelho no mundo.
“O Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos”. Estas palavras constituem a autoapresentação do Mestre Divino. Jesus define a Si mesmo como Aquele que veio para servir, e que precisamente no serviço e do dom total de Si até à cruz revela o amor do Pai. O seu rosto de “servo” não diminui a sua grandeza divina; ao contrário, ilumina-a com uma luz renovada.
Jesus é o “sumo sacerdote eminente” (Hb 4,14), é a Palavra que “no princípio... estava voltada para Deus. Tudo foi feito por meio d'Ela e, de tudo o que existe, nada foi feito sem Ela” (Jo 1,2). Jesus é o Senhor que “tinha a condição divina, mas não Se apegou à sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-Se a Si mesmo, assumindo a condição de servo” (Fl 2,6-7); Jesus é o Salvador, de quem “nos podemos aproximar com plena confiança”. Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida (cf. Jo 14,6), o pastor que deu a vida pelas ovelhas (cf. Jo 10,11), o Autor da vida (cf. At 3,15).

2. O compromisso missionário brota como fogo de amor da contemplação de Jesus e do fascínio que Ele emana. O cristão que contemplou Jesus Cristo não pode deixar de sentir-se arrebatado pelo Seu fulgor (cf. Vita consecrata, n. 14) e de testemunhar a sua fé em Cristo, único Salvador do homem. Que grande graça é esta fé que recebemos como dádiva do alto, sem qualquer mérito da nossa parte (cf. Redemptoris missio, n. 11)!
Por sua vez, esta graça torna-se fonte de responsabilidade. É uma graça que faz de nós anunciadores e apóstolos: eis por que motivo na Encíclica Redemptoris missio eu dizia que “a missão é um problema de fé, é a medida exata da nossa fé em Cristo e no seu amor por nós” (n. 11). Depois, acrescentava: “se o missionário não é contemplativo, não pode anunciar Cristo de modo credível” (n. 91).
É fixando o olhar em Jesus, missionário do Pai e Sumo Sacerdote, autor e consumador da fé (cf. Hb 3,1; 12,2), que aprendemos o sentido e o estilo da missão.

3. Ele não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de todos. No seguimento de Cristo, o dom de si a todos os homens constitui um imperativo fundamental para a Igreja e, ao mesmo tempo, a indicação de um método para a sua missão.
Dar-se significa em primeiro lugar reconhecer o outro no seu valor e nas suas necessidades. “A atitude missionária começa sempre com um sentimento de profunda estima pelo que há no homem, por aquilo que ele mesmo, no íntimo do seu espírito, elaborou em relação aos problemas mais profundos e importantes; trata-se de respeitar tudo o que nele atuou o Espírito, que sopra onde quer” (Redemptor hominis, n. 12).
Assim como Jesus revelou a solidariedade de Deus pela pessoa humana, assumindo totalmente a sua condição, exceto o pecado, também a Igreja deseja ser solidária com “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens do nosso tempo, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem” (Gaudium et spes, n. 1). Ela aproxima-se da pessoa humana com a discrição e o respeito de quem tem uma obra a realizar e acredita que o primeiro e maior serviço consiste em anunciar o Evangelho de Jesus, em fazer conhecer o Salvador, Aquele que revelou o Pai e, ao mesmo tempo, em desvelar o homem ao próprio homem.

4. A Igreja quer anunciar Jesus Cristo, Filho de Maria, seguindo o caminho que o próprio Cristo percorreu: o serviço, a pobreza, a humildade e a cruz. Portanto, ela há de resistir com vigor às tentações que o Evangelho hodierno nos deixa entrever no comportamento dos dois irmãos, que desejavam sentar-se “um à direita e o outro à esquerda” do Mestre, mas inclusivamente dos outros discípulos que não se mostraram insensíveis ao espírito de rivalidade e de competição. A palavra de Cristo traça uma evidente linha de divisão entre o espírito do domínio e o espírito do serviço. Para o discípulo de Cristo, ser o primeiro significa ser “servo de todos”.
Trata-se de uma inversão de valores que só se compreende voltando o olhar para o Filho do homem, “desprezado e rejeitado pelos homens, homem do sofrimento experimentado na dor” (Is 53,3). São estas as palavras que o Espírito Santo fará com que a sua Igreja compreenda, no que se refere ao mistério de Cristo. Somente no Pentecostes os Apóstolos receberão a capacidade de crer na “força da debilidade”, que se manifesta na Cruz.
E aqui, o meu pensamento dirige-se aos inúmeros missionários que, dia após dia, no silêncio e sem a assistência de qualquer poder humano, anunciam e antes ainda testificam o seu amor a Jesus, muitas vezes até ao dom da própria vida, como aconteceu ainda recentemente. Que espetáculo se apresenta aos olhos do coração! Quantos irmãos e irmãs despendem com generosidade as próprias energias nas linhas de fronteira do Reino de Deus! São Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos que nos representam Cristo vivo, mostrando-O concretamente como o Senhor que veio não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida por amor ao Pai e aos irmãos. Dirijo a todos o meu grato reconhecimento, juntamente com um caloroso encorajamento a perseverarem com confiança. Coragem, irmãos e irmãs! Cristo está convosco.
Contudo, cada qual com a própria contribuição, todo o povo de Deus deve estar ao lado daqueles que se prodigalizam na vanguarda da missão “ad gentes”, como bem intuíram e evidenciaram os fundadores das Pontifícias Obras Missionárias: todos podem e devem participar na evangelização, mesmo os pequeninos, os enfermos e os pobres com o seu óbolo, precisamente como o da viúva, que Jesus indica como exemplo (cf. Lc 21,1-4). A missão é obra de todo o povo de Deus, cada um na vocação a que a Providência o chamou.

5. As palavras de Jesus acerca do serviço constituem também uma profecia de um novo estilo de relações a promover não só na comunidade cristã, mas também na sociedade em geral. Jamais devemos perder a esperança de fazer nascer um mundo mais fraterno. A competição desregrada, o desejo de dominar os outros a qualquer custo, a discriminação fomentada por aqueles que se julgam superiores aos outros e a desenfreada busca da riqueza encontram-se na origem de injustiças, violências e guerras.
Assim, as palavras de Jesus tornam-se uma exortação a invocar a paz. A missão é o anúncio de Deus que é Pai, de Jesus que é nosso Irmão maior, do Espírito que é amor. A missão é colaboração, humilde mas apaixonada, no desígnio de Deus que deseja uma humanidade salva e reconciliada. No ápice da história do homem, segundo Deus, há um projeto de comunhão e a missão deve conduzir a Ele.
À Rainha da Paz, Rainha das Missões e Estrela da Evangelização, peçamos o dom da paz. Invoquemos a sua proteção materna sobre todos aqueles que, com generosidade, colaboram na difusão do nome e da mensagem de Jesus. Ela nos obtenha uma fé tão viva e ardente que faça ressoar com força renovada aos homens do nosso tempo a proclamação da verdade de Cristo, único Salvador do mundo.
Enfim, desejo recordar as palavras que pronunciei há vinte e dois anos nesta Praça: “Não tenhais medo! Abri as portas a Cristo!”.

João Paulo II, o "Papa missionário"
(Foto da Missa de início do ministério petrino - 22 de outubro de 1978)

Fonte: Santa Sé

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