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sábado, 17 de outubro de 2020

Homilia: XXIX Domingo do Tempo Comum - Ano A

São João Crisóstomo
Sermão 23 sobre a Carta aos Romanos
Para que todos levem uma vida pacífica e tranquila

É preciso submeter-se não somente por temor do castigo, mas por consciência. O que significa isto de “não somente por temor”? Pois que além de obedecer - porque, caso contrário, te oporias a Deus e acarretarias sobre ti os castigos divinos e humanos -, deves fazê-lo porque a autoridade te é enormemente útil, já que te proporciona a paz e a administração pública. A sociedade alcança inumeráveis bens graças aos seus chefes, e se desaparecessem tudo cairia. Não poderiam subsistir nem as cidades, nem as aldeias, nem mesmo as casas; nem o fórum; nada se manteria de pé, tudo seria derrubado, pois os poderosos devorariam aos fracos. Portanto, mesmo que não existisse o temor ao castigo infligido ao desobediente, deverias submeter-te para não aparecer sem consciência nem gratidão para com o teu benfeitor.
Pela mesma razão, pagais impostos; os funcionários que os recolhem fazem-no como ministros de Deus. São Paulo expõe duas razões: a primeira, destinada a todos, cristãos ou gentios; a segunda, aos cristãos. Na realidade, todos os benefícios proporcionados pela autoridade, como a ordem, a paz, os serviços, as tropas, os ofícios comuns..., são assegurados e reconhecidos pagando os tributos. É necessário que o povo saiba os bens que recebe do Estado, para que contribua ao bem-estar do príncipe, e que também é justo que aqueles que dedicam sua vida a proteger a nossa estejam favorecidos decentemente por meio destas contribuições.
Expostas estas razões, úteis inclusive aos gentios, São Paulo atende aos cristãos e acrescenta outra: porque são ministros de Deus dedicados a isso. Esta é a sua vida e ocupação, que tu desfrutes da paz, e por isso em outra epístola te ordena que, além de lhes estar submetido, reze por eles, acrescentando: para que todos levem uma vida pacífica e tranquila.
Não me digas que alguns abusam de seu poder, pois o que deves observar é o bem desta constituição das coisas, e então repararás a grande sabedoria da lei que o ordenou assim desde o princípio.
Dai a cada um o que lhe é devido: seja imposto, seja taxa. Dai-lhes não somente dinheiro, mas também respeito e temor, um temor que não é medo, mas consideração. E não creias que isso te desonra, porque se o dás àquele que representa a Deus, é a Ele quem honras quando ao chegar ao príncipe te põe de pé e te descobres. E se isto o manda São Paulo tratando-se dos príncipes gentios, com muito mais cuidado há que observá-lo agora entre cristãos.
Não penses se és mais ou menos virtuoso. Não é tempo disso. Nossa vida está escondida em Cristo, em cuja aparição brilharemos todos em glória; por agora te apresenta sempre com temor diante do príncipe, pois Deus quer que este, criado por Ele, receba toda a sua fortaleza.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 235-236. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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