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terça-feira, 15 de setembro de 2020

Textos de Dom Henrique Soares sobre a Eucaristia 8-9

Desde o último dia 10 de setembro estamos publicando uma série de textos de Dom Henrique Soares da Costa sobre a Eucaristia, recordando os dois meses da sua morte no próximo dia 18.

Nos últimos textos Dom Henrique refletiu sobre a Eucaristia como "sacrifício" e como "banquete" ou "refeição". Nas publicações que divulgamos aqui ele reflete sobre outras duas dimensões desse sacramento: a "presença real" e a "comunhão":

A Eucaristia VIII
11 de junho de 2020

O Catecismo da Igreja Católica afirma: “Cristo Jesus, Aquele que morreu, ou melhor, ressuscitou, Aquele que está à Direita de Deus e que intercede por nós (Rm 8,34), está presente de múltiplas maneiras em Sua Igreja: em Sua Palavra, na oração de Sua Igreja, lá onde dois ou três estão reunidos em Meu Nome (Mt 18,20), nos pobres, nos doentes, nos presos, em Seus sacramentos, dos quais Ele é o autor, no Sacrifício da missa e na pessoa do ministro. Mas sobretudo está presente sob as Espécies eucarísticas (n. 1373).

É verdade que o Senhor Jesus, na força do Seu Espírito, está presente de modos variadíssimos na Sua Igreja, mas, sobretudo, de um modo eminente, Ele Se faz presente no pão e no vinho consagrados na Eucaristia. Ali, Ele está presente do modo mais intenso que se possa encontrá-Lo neste mundo! Ele, que na Última Ceia Se entregou no pão e no vinho, dizendo “isto é o Meu Corpo, isto é o Meu Sangue”, é Aquele mesmo que havia antes prevenido de modo solene: “Em verdade, em verdade, vos digo: ‘Aquele que crê tem a Vida eterna. Eu sou o Pão da vida! A Minha Carne é verdadeiramente uma comida e o Meu Sangue é verdadeiramente uma bebida” (Jo 6,47s.55). Sendo assim, se em todos os sacramentos, Jesus Cristo atua através de sinais sensíveis que, sem mudarem de natureza, adquirem uma capacidade transitória de santificação, como potentes e eficazes instrumentos da graça salvífica do Senhor, na Eucaristia, Ele está presente de modo excelente e pleno com o Seu Corpo e Sangue, Alma e Divindade, dando ao homem toda a Sua Pessoa e a Sua Vida divina, tudo quanto viveu entre nós amorosamente, até o extremo da entrega na Cruz. Tudo isso está presente no pão e no vinho consagrados.

A Igreja sempre acreditou nesta maravilhosa realidade e insondável mistério da presença real do Senhor Jesus. Com a transformação ocorrida na consagração das Espécies eucarísticas, o Senhor torna-Se presente no seu Corpo e Sangue. Os Santos Padres, doutores da Igreja antiga, para exprimir a mudança do pão e do vinho no Corpo e Sangue do Senhor, falavam de “metabolismo” do pão e do vinho em Corpo e Sangue.

São Tomás de Aquino recordava que a Eucaristia é o sacramento da presença de Cristo. Isso a distingue dos outros sacramentos. O Santo Doutor dizia que ela “re-presenta” Cristo, no sentido de tornar Cristo realmente presente, já que a Eucaristia não é uma devota recordação, mas a presença efetiva, real, verdadeira e eficaz do Senhor morto e ressuscitado, que quer atingir todos os homens. E ele explicava ainda que o significado do Sacramento é tríplice: “O primeiro diz respeito ao passado, enquanto comemora a Paixão do Senhor, que foi um verdadeiro Sacrifício... Por isso, é chamado sacrifício. O segundo diz respeito ao efeito presente, ou seja, à unidade da Igreja, em que os homens são reunidos por meio deste Sacramento. O terceiro significado diz respeito ao futuro: pois este Sacramento é prefigurativo da Bem-aventurança divina, que se realizará na Pátria”. Também São Boaventura contribuiu para a teologia da Eucaristia, insistindo no espírito de piedade necessário para comungar Cristo. Recorda-nos ele que, na Eucaristia, além das palavras da Última Ceia, realiza-se a promessa do Senhor: “Eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo” (Mt 28,20). Portanto, no Sacramento, Ele está real e verdadeiramente presente na Igreja.

Foi o Concílio de Trento que, como Magistério da Igreja, melhor exprimiu esta presença real do Senhor. O Concílio insistiu na presença verdadeira, real e substancial do Senhor Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sob as espécies do pão e do vinho. Afirmou, do mesmo modo, que o Corpo do Senhor está presente não só no pão, mas também no vinho, e que o Seu Sangue está presente não só no vinho, mas também no pão. Em outras palavras: Jesus, nosso Senhor, não está parte no vinho e parte no pão, mas Se encontra real e perfeitamente todo no vinho e todo no pão. Explicou também que, em ambas as espécies, o Senhor Jesus Cristo está presente com a Sua Alma humana e com a Sua Divindade. Portanto, Cristo, Verbo do Pai, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, está presente todo inteiro sob as duas espécies e em cada parte delas.

O mesmo Concílio definiu ainda a “transubstanciação”, isto é a mudança real da substância do pão no Corpo de Cristo e da substância do vinho no seu divino Sangue. A Encíclica Ecclesia de Eucharistia recorda: “A reprodução sacramental na Santa Missa do Sacrifício de Cristo coroado pela Sua Ressurreição implica uma presença muito especial; chama-se ‘real’, não a título exclusivo como se as outras presenças não fossem ‘reais’, mas por excelência, porque é substancial, e porque por ela se torna presente Cristo completo, Deus e homem. Reafirma-se assim a doutrina sempre válida do Concílio de Trento: ‘Pela consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a substância do pão na substância do Corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do Seu Sangue; a esta mudança, a Igreja católica chama, de modo conveniente e apropriado, transubstanciação’. Verdadeiramente a Eucaristia é mistério de fé, mistério que supera os nossos pensamentos e só pode ser aceita pela fé, como lembram frequentemente as catequeses patrísticas sobre este sacramento divino. ‘Não hás de ver - exorta São Cirilo de Jerusalém - o pão e o vinho [consagrados] simplesmente como elementos naturais, porque o Senhor disse expressamente que são o Seu Corpo e o Seu Sangue: a fé o assegura a ti, ainda que os sentidos possam sugerir-te outra coisa’” (n. 15).

Assim, segundo a fé católica, recebida dos Apóstolos e conservada fielmente na Igreja de Cristo, a presença eucarística do Senhor Jesus morto e ressuscitado começa no momento da consagração e dura também enquanto subsistirem as Espécies eucarísticas. Em outras palavras, enquanto houver o pão e o vinho consagrados, há realmente Corpo e Sangue do Senhor. São João Paulo II, citando São Paulo VI, afirmou claramente na sua Encíclica eucarística: “Permanece o limite apontado por Paulo VI: ‘Toda a explicação teológica que queira penetrar de algum modo neste mistério, para estar de acordo com a fé católica deve assegurar que na sua realidade objetiva, independentemente do nosso entendimento, o pão e o vinho deixaram de existir depois da consagração, de modo que a partir desse momento são o Corpo e o Sangue adoráveis do Senhor Jesus que estão realmente presentes diante de nós sob as espécies sacramentais do pão e do vinho’” (Ecclesia de Eucharistia, 15). Portanto, não basta afirmar que Cristo está no pão ou está no vinho; é necessário afirmar que Cristo é o pão e Cristo é o vinho e naquelas espécies consagradas nada há que não seja o Cristo Senhor, morto e ressuscitado. Imenso mistério! Mistério de amor! Mysterium fidei – mistério da fé!

Pode-se perguntar o motivo de o Senhor dar-Se assim, tão realisticamente, no pão e no vinho. Apontemos algumas razões:

(1) A nossa união real e íntima com Ele que, na comunhão, não somente está conosco, mas também em nós, fazendo com que nós estejamos Nele.

(2) A edificação da Igreja, já que comungando todos do mesmo Corpo e Sangue do Senhor, tornamo-nos Nele cada vez mais um só corpo, que é a Igreja, segundo a palavra do Apóstolo: “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o Sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o Corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que participamos deste único pão” (1Cor 10,16). Esta unidade não é simplesmente simbólica ou sentimental, mas real, pois é unidade no Corpo do Senhor, pleno do Espírito Santo.

(3) A nossa divinização, pois, recebendo o Corpo e Sangue do Senhor, recebemos a própria Vida divina, alimentando-nos com o próprio Cristo ressuscitado pleno do Espírito Santo que dá Vida: “Quem come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue permanece em Mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, também aquele que come de Mim viverá por Mim” (Jo 6,56s).

(4) Finalmente, comungando do Corpo e Sangue Daquele que morreu e ressuscitou, recebemos como alimento a própria Vida eterna, Vida de ressurreição: “Quem come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue tem a Vida eterna, e Eu o ressuscitarei no Último Dia. Quem come deste Pão viverá eternamente” (Jo 6,54.58c).

Diante de tal dom, nossa resposta é não somente a fé agradecida, mas também a viva sede da comunhão frequente e da adoração piedosa. São João Crisóstomo afirmava: “Quando estás para abeirar-te da sagrada Mesa, acredita que nela está presente o Senhor de todos”. Por isso, a adoração é inseparável da comunhão. Neste sentido, a Igreja desde tempos remotos, recomenda aos seus filhos que se detenham frequentemente em adoração ao Senhor sacramentado.

São João Paulo II quis renovar essa recomendação: “O culto prestado à Eucaristia fora da Missa é de um valor inestimável na vida da Igreja, e está ligado intimamente com a celebração do Sacrifício eucarístico. A presença de Cristo nas hóstias consagradas que se conservam após a Missa - presença essa que perdura enquanto subsistirem as espécies do pão do vinho - resulta da celebração da Eucaristia e destina-se à comunhão, sacramental e espiritual. Compete aos Pastores, inclusive pelo testemunho pessoal, estimular o culto eucarístico, de modo particular as exposições do Santíssimo Sacramento e também as visitas de adoração a Cristo presente sob as Espécies eucarísticas. É bom demorar-se com Ele e, inclinado sobre o Seu Peito como o discípulo predileto (cf. Jo 13,25), deixar-se tocar pelo amor infinito do Seu Coração. Se atualmente o cristianismo se deve caracterizar sobretudo pela arte da oração, como não sentir de novo a necessidade de permanecer longamente, em diálogo espiritual, adoração silenciosa, atitude de amor, diante de Cristo presente no Santíssimo Sacramento? Quantas vezes, meus queridos irmãos e irmãs, fiz esta experiência, recebendo dela força, consolação, apoio! Desta prática, muitas vezes louvada e recomendada pelo Magistério, deram-nos o exemplo numerosos Santos. De modo particular, distinguiu-se nisto Santo Afonso Maria de Ligório, que escrevia: ‘A devoção de adorar Jesus sacramentado é, depois dos sacramentos, a primeira de todas as devoções, a mais agradável a Deus e a mais útil para nós’. A Eucaristia é um tesouro inestimável: não só a sua celebração, mas também o permanecer diante dela fora da Missa permite-nos beber na própria fonte da graça. Uma comunidade cristã que queira contemplar melhor o rosto de Cristo... não pode deixar de desenvolver também este aspecto do culto eucarístico, no qual perduram e se multiplicam os frutos da comunhão do Corpo e Sangue do Senhor” (Ecclesia de Eucharistia, n. 15).

Portanto, não tenhamos dúvidas: se as Espécies eucarísticas destinam-se primeiramente a ser consumidas em comunhão fraterna durante a celebração da Santa Missa, também podem e devem ser adoradas não somente no momento mesmo da consagração - quando devemos todos nos ajoelhar de modo reverente a adorante -, mas também fora da missa, em adoração pessoal ou comunitária. Estas são as constantes consciência e doutrina da Igreja, da qual nenhum católico deveria duvidar.

A Eucaristia IX
12 de junho de 2020

Entramos, com este tópico, em mais um aspecto do mistério da Eucaristia. Ela é sacramento de comunhão. Vejamos.

Assim se exprime São João Paulo II: “O Concílio Vaticano II veio recordar que a Celebração eucarística está no centro do processo de crescimento da Igreja. De fato, depois de afirmar que ‘a Igreja, ou seja, o Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus’, querendo de algum modo responder à questão sobre o modo como cresce, acrescenta: ‘Sempre que no Altar se celebra o Sacrifício da Cruz, no qual Cristo, nossa Páscoa, foi imolado (1Cor 5, 7), realiza-se também a obra da nossa redenção. Pelo sacramento do Pão eucarístico, ao mesmo tempo é representada e se realiza a unidade dos fieis, que constituem um só Corpo em Cristo (cf. 1Cor 10,17)’” (Ecclesia de Eucharistia, 21).

Eis: comungando no mesmo pão e no mesmo cálice, Corpo e Sangue do Senhor, pleno do Espírito Santo, nós somos misteriosa e realmente unidos a Cristo e, no Seu Espírito, unidos uns aos outros. É esta contínua união de todos os comungantes com o Senhor e entre si que faz a Igreja manter-se unida e crescer no único Espírito. Eis o motivo pelo qual podemos dizer que a Eucaristia faz a Igreja. Por isso, o celebrante suplica ao Pai que “o Espírito nos uma num só Corpo” (Oração Eucarística II). De que corpo se fala aqui? Do Corpo eucarístico do Senhor e, ao mesmo tempo do corpo eclesial do Senhor: comungando o Corpo eucarístico, tornamo-nos corpo de Cristo, que é a Igreja. De tal modo este Sacramento é sinal e instrumento de unidade, que o Papa São Leão Magno exortava: “Comei deste Pão e não vos separareis; bebei deste Cálice e não vos desagregareis”. A Eucaristia é, portanto, sacramento, isto é, sinal eficaz, da comunhão da Igreja.

Há, então, duas direções nesta comunhão que a Eucaristia cria. Primeiro, uma direção vertical: comungando, somos unidos a Cristo, entramos numa íntima, misteriosa e realíssima comunhão com Ele: “A incorporação em Cristo, realizada pelo Batismo, renova-se e consolida-se continuamente através da participação no Sacrifício eucarístico, sobretudo na sua forma plena que é a comunhão sacramental. Podemos dizer não só que cada um de nós recebe Cristo, mas também que Cristo recebe cada um de nós. Ele intensifica a Sua amizade conosco: ‘Chamei-vos amigos’ (Jo 15,14). Mais ainda, nós vivemos por Ele: ‘O que come de Mim viverá por Mim’ (Jo 6,57). Na comunhão eucarística, realiza-se de modo sublime a inabitação mútua de Cristo e do discípulo: ‘Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós’ (Jo 15,4)” (Ecclesia de Eucharistia, n. 22).

Esta comunhão misteriosa e real com o Senhor, que é Cabeça da Igreja, gera uma segunda comunhão, numa direção horizontal: comunhão profunda com os outros, isto é, os irmãos que comungando do mesmo Corpo e Sangue tornam-se “con-corpóreos” e “con-sanguíneos” em Cristo: “Pela comunhão eucarística, a Igreja é consolidada igualmente na sua unidade de corpo de Cristo. A este efeito unificador que tem a participação no Banquete eucarístico, alude São Paulo quando diz aos coríntios: ‘O pão que partimos não é a comunhão do Corpo de Cristo? Uma vez que há um só pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão’ (1Cor 10,16-17). Concreto e profundo, São João Crisóstomo comenta: ‘Com efeito, o que é o pão? É o Corpo de Cristo. E em que se transformam aqueles que o recebem? No Corpo de Cristo; não muitos corpos, mas um só Corpo. De fato, tal como o pão é um só apesar de constituído por muitos grãos, e estes, embora não se vejam, todavia estão no pão, de tal modo que a sua diferença desapareceu devido à sua perfeita e recíproca fusão, assim também nós estamos unidos reciprocamente entre nós e, todos juntos, com Cristo’. A argumentação é linear: a nossa união com Cristo, que é dom e graça para cada um, faz com que, Nele, sejamos parte também do Seu corpo total que é a Igreja. A Eucaristia consolida a incorporação em Cristo operada no Batismo pelo dom do Espírito (cf. 1Cor 12,13.27)” (Ecclesia de Eucharistia, n. 23).

Por tudo isso, a Igreja, desde a Antiguidade, foi chamada Comunhão dos Santos, porque nasce da comunhão daqueles que participam das Coisas santas, isto é, do Corpo e Sangue de Cristo. O Catecismo da Igreja Católica afirma que a Eucaristia é chamada também de “comunhão, porque é por este sacramento que nos unimos a Cristo, que nos torna participantes do Seu Corpo e do Seu Sangue para formarmos um só corpo denomina-se ainda ‘as Coisas Santas’ – este é o sentido primeiro da ‘comunhão dos santos’ de que fala o Símbolo dos Apóstolos – Pão dos anjos, Pão do Céu, remédio de imortalidade, viático...” (n. 1331).

Esta comunhão é real, primeiro porque cria e desenvolve em todos os comungantes a mesma Vida do Cristo Senhor, morto e ressuscitado, de modo que a Igreja é o Corpo do Senhor todo vivificado pelo Santo Espírito. É real também porque estimula, pela graça mesma do Senhor, a que vivamos na concórdia, na compreensão, no respeito mútuo, no serviço fraterno e na paz. Além do mais, a co-participação na mesma Eucaristia, exige de nós a solidariedade, em repartir os bens espirituais e materiais com os irmãos. É no contexto eucarístico que devem ser entendidas as palavras dos Atos dos Apóstolos, que são a discrição ideal da Igreja de todos os tempos: “Eles se mostravam assíduos ao ensinamento dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações. Todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum: vendiam suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo a necessidade de cada um” (At 2,42.44).

A comum Fração do Pão eucarístico estava ligada à comunhão na mesma doutrina dos Apóstolos e exigia, como consequência, a partilha dos bens, de modo que, em qualquer tempo, uma comunidade que parta e reparta o Pão eucarístico, mas se negue a colocar em comum talentos, ideias e bens, procurando suprir, o quanto possível, os mais fracos e carentes, é uma comunidade indigna de celebrar a Eucaristia. Este Sacramento santíssimo exige a coerência de procurar construir sempre a vida de comunhão nos seus mais diversos aspectos: comunhão de pensamentos, comunhão de oração, comunhão de talentos, comunhão de bens... Eis algumas das lições e exigências da Eucaristia. Comungar no Altar e não comungar na vida seria uma mentira sacrílega! Ora, como a comunhão é sempre ameaçada pelo pecado que gera o egoísmo, raiz de toda divisão, a Eucaristia vai nos dando a misteriosa força do Espírito de unidade e diversidade para que cresçamos nesta comunhão, que é a Igreja: “Nós vos suplicamos que, participando do Corpo e Sangue de Cristo, sejamos reunidos pelo Espírito Santo num só corpo” (Oração Eucarística II). 



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