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segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Textos de Dom Henrique Soares sobre a Eucaristia 6-7

Iniciamos no último dia 10 de setembro de 2020 a publicação de uma série de textos de Dom Henrique Soares da Costa sobre a Eucaristia, recordando os dois meses da sua morte no próximo dia 18.

No último texto Dom Henrique apresentou alguns textos dos primeiros escritores cristãos sobre a Eucaristia. Nos dois textos que publicamos aqui o grande Bispo reflete sobre a Eucaristia como "sacrifício" e como "banquete" ou "refeição":

A Eucaristia VI
11 de junho de 2020

Depois de apresentar alguns tópicos mais gerais sobre o Sacramento da Eucaristia, vejamos agora alguns aspectos específicos deste Mistério tão rico e central para a nossa fé. Vou fazê-lo tendo consciência de que por mais que escreva aqui, muito mais resta por dizer! Minha intenção é tão somente ajudar os irmãos de fé a saborear e viver sempre melhor este inestimável dom que o Senhor concedeu à Sua Igreja para que não vivamos para nós, mas o Cristo que por nós e para nós Se entregou e perpetua entre nós a Sua eterna entrega no Sacramento eucarístico!

Assim diz o Catecismo da Igreja: “Quando a Igreja celebra a Eucaristia, rememora a Páscoa de Cristo, e esta se torna presente: o sacrifício que Cristo ofereceu uma vez por todas na Cruz torna-se sempre atual: Todas as vezes que se celebra no Altar o sacrifício da Cruz, pelo qual Cristo nossa Páscoa foi imolado, efetua-se a obra da nossa redenção. Por ser memorial da Páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O caráter sacrifical a Eucaristia é manifestado nas próprias palavras da instituição: ‘Isto é o Meu Corpo que será entregue por vós’, e ‘Este cálice é a nova Aliança em Meu Sangue, que vai ser derramado por vós’ (Lc 22,19s). Na Eucaristia, Cristo dá este mesmo Corpo que entregou por nós na Cruz, o próprio Sangue que ‘derramou por muitos para remissão dos pecados’ (Mt 26,28)” (Catecismo, n. 1365).

A Celebração Eucarística é, portanto, memorial, isto é, o tornar-se presente, no aqui e no agora da vida da Igreja e da vida de cada um de nós, daquele único e irrepetível Sacrifício que Jesus, nosso Salvador, ofereceu na Cruz e que, para sempre, encontra-se no Santuário eterno dos Céus, no seio da Trindade Santa, onde Ele, Sacerdote eterno, oferece-Se como Vítima eterna num eterno Sacrifício, como Cordeiro gloriosamente imolado (cf. Hb 7,20–8,5; Ap 5,6). “O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único Sacrifício: ‘É uma só e mesma Vítima, é o mesmo que oferece agora pelo ministério dos sacerdotes, que Se ofereceu a Si mesmo então na Cruz. Apenas a maneira de oferecer difere” (Catecismo, n. 1367).

Assim, a Eucaristia torna presente, “presentifica”, o único e irrepetível sacrifício do Cristo salvador; sacrifício que o Senhor Jesus deu à Sua Igreja para que ela o ofereça até que Ele venha em Sua Glória. Por isso mesmo, é chamado de Sacrifício de louvor, Sacrifício espiritual (porque oferecido na força do Espírito Santo), sacrifício puro e santo (porque sacrifício do próprio Cristo Jesus). Este santo sacrifício da Missa leva à plenitude todos os sacrifícios de todas as religiões e, particularmente, aqueles do Antigo Testamento. Podemos até recordar as palavras da profecia de Malaquias, na qual Deus prometia a Israel um sacrifício perfeito ao Seu Nome: “Sim, do levantar do sol ao seu poente o Meu Nome será grande entre as nações, e em todo lugar será oferecido ao Meu Nome um sacrifício de incenso e uma oferenda pura” (Ml 1,11). Cristo, com Seu Sacrifício único e irrepetível, que entregou à sua Igreja para celebrá-lo até que Ele venha, ofereceu este Sacrifício, cumprindo a profecia.

Quando a Igreja fala em sacrifício de Cristo, ela não pensa simplesmente no que aconteceu no Calvário. Toda a existência humana de Jesus, nosso Salvador, teve um caráter sacrifical. O autor da Carta aos Hebreus, falando do Cristo o momento de Sua Encarnação, afirma: “Ao entrar no mundo, Ele afirmou: ‘Tu não quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-Me um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não foram do Teu agrado. Por isso Eu digo: Eis-Me aqui, - no rolo do livro está escrito a Meu respeito – Eu vim, ó Deus, para fazer a Tua vontade’” (Hb 10,5).

O Senhor Jesus viveu a toda Sua vida entre nós, desde o primeiro momento, no amor, no abandono, na obediência, como uma oferta sacrifical ao Pai para nossa salvação. Toda esta existência sacrifical e sacerdotal chegou ao máximo no sacrifício da Cruz. Ali, naquele acontecimento tremendo, verificou-se a palavra da Escritura: “Tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo” (Jo 13,1). Assim sendo, quando celebramos a Eucaristia, é toda esta vida sacrifical, esta vida doada aos irmãos por amor ao Pai, que se torna presente sobre o Altar para a nossa salvação. Mais ainda: como esta entrega, consumou-se com a resposta do Pai ao Seu Filho, ressuscitando-O dentre os mortos, a Eucaristia é o próprio Mistério Pascal: no Altar, torna-se misteriosamente presente a existência humana do Cristo Jesus inteira: Seus dias entre nós, Sua Paixão, Morte, Sepultura, Sua Ressurreição e Ascensão e até mesmo a certeza da Sua Vinda gloriosa: “Celebrando, agora, ó Pai, a memória da nossa redenção, anunciamos a Morte de Cristo e Sua Descida entre os mortos, proclamamos a Sua Ressurreição e Ascensão à Vossa Direita, e, esperando a Sua Vinda gloriosa, nós Vos oferecemos o Seu Corpo e Sangue, Sacrifício do Vosso agrado e salvação do mundo inteiro” (Oração Eucarística IV).

Porque é o Sacrifício do próprio Cristo, Filho de Deus feito homem, numa total obediência amorosa ao Pai por nós, a Eucaristia é aquele Sacrifício perfeito de que falava a profecia de Malaquias 1,11. É o que afirma a própria Liturgia: “Por Jesus Cristo, Vosso Filho e Senhor nosso, e pela força do Espírito Santo, dais Vida e santidade a todas as coisas e não cessais de reunir o Vosso Povo, para que Vos ofereça em toda parte, do nascer ao pôr-do-sol, um sacrifício perfeito” (Oração Eucarística III).

A Igreja oferece, pois, este santíssimo Sacrifício, de eficácia e valor infinitos, pelos vivos e pelos mortos, por crentes e descrentes e até mesmo por toda a criação: “E agora, ó Pai, lembrai-Vos de todos pelos quais Vos oferecemos este Sacrifício: o vosso servo, o Papa, o nosso Bispo, os Bispos do mundo inteiro, os presbíteros e todos os ministros, os fiéis que, em torno deste Altar, Vos oferecem este Sacrifício, o Povo que Vos pertence e todos aqueles que Vos procuram de coração sincero” (Oração Eucarística IV). Neste Sacrifício perfeito e infinito, a Igreja, repleta do Santo Espírito do Messias glorioso, como Povo sacerdotal em Cristo, louva, agradece, suplica, pede perdão, adora e intercede por si e pelo mundo inteiro, tudo isto unida ao próprio Cristo, Seu Cabeça e Esposo. Por isso, nenhuma outra celebração se iguala ao Sacrifício eucarístico em força, santidade e eficácia.

Celebrar este Sacrifício santo nos compromete profundamente, seja pessoalmente seja como Igreja: “O cálice de bênção que abençoamos, não é comunhão com o Sangue de Cristo? O pão que partimos, não é comunhão com o Corpo de Cristo?” (1Cor 10,16). Segundo estas palavras de São Paulo, participar da Eucaristia é participar da vida sacrifical de Jesus, nosso Senhor, é estar dispostos a fazer de nossa vida uma participação no Seu Sacrifício, completando em nossa existência o mistério da Cruz do Senhor (cf. Cl 1,24). Em cada Eucaristia, com Jesus, o Messias Sacerdote eterno, oferecemos ao Pai a nossa própria vida. Eis como nossa participação no Sacrifício eucarístico nos compromete profundamente. Não poderia participar desse Altar quem não estivesse disposto a se oferecer cada dia com Cristo e como Cristo: “Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus; este é o vosso culto racional (isto é, consciente, livre, coerente e consequente). E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito” (Rm 12,1-2).

A Eucaristia VII
11 de junho de 2020

Se é certo que a Eucaristia é verdadeiramente o Sacrifício de Cristo, não o é menos que tal Sacrifício foi entregue à Igreja sob a forma de um Banquete: “A Missa é ao mesmo tempo e inseparavelmente o Memorial sacrifical no qual se perpetua o sacrifício da Cruz, e o Banquete sagrado da comunhão no Corpo e no Sangue do Senhor. Mas a celebração do Sacrifício eucarístico está toda orientada para a união íntima dos fieis com Cristo pela comunhão. Comungar é receber o próprio Cristo que Se ofereceu por nós” (Catecismo, n. 1382).

Assim, a Eucaristia é também Banquete: o Altar do sacrifício é também a Mesa sagrada da refeição e da comunhão com o Senhor e os irmãos! Nunca, absolutamente, pode ser esquecido que a finalidade última de Eucaristia não é a simples comunhão individual do fiel, mas a comunhão da Assembleia no Corpo do Senhor, de modo a ser tornada, num só Espírito, Corpo do Senhor, isto é, Igreja de Deus, Comunhão de todos com o Cristo Cabeça e de todos entre si, como membros de um só Corpo.

Dizia São João Paulo II “A Eucaristia é verdadeiro banquete, onde Cristo Se oferece como alimento. A primeira vez que Jesus anunciou este alimento, os ouvintes ficaram perplexos e desorientados, obrigando o Mestre a insistir na dimensão real das Suas palavras: ‘Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a Carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu Sangue, não tereis a Vida em vós’ (Jo 6,53). Não se trata de alimento em sentido metafórico, mas ‘a Minha Carne é, em verdade, uma comida, e o Meu Sangue é, em verdade, uma bebida’ (Jo 6,55)” (Ecclesia de Eucharistia, n. 16). Por isso mesmo, dá-se também à Eucaristia o nome de Ceia do Senhor (cf. 1Cor 11,20), já que este sacramento é a celebração daquela Ceia que Jesus, nosso Salvador, comeu com os Seus discípulos na véspera da Páscoa. Tal Ceia era já a celebração ritual, em gestos, palavras e símbolos, daquilo que o Cristo Jesus iria realizar no dia seguinte: Ele Se entregaria totalmente na Cruz, dando-nos Seu Corpo e Seu Sangue: “Comei: isto é o Meu Corpo que será entregue na Cruz! Bebei: isto é o Meu Sangue que será derramado por vossa causa!”.

Esta Ceia sagrada, chamada Última Ceia, já antecipava misteriosamente a Ceia das núpcias do Cordeiro, núpcias de Cristo ressuscitado com Sua Esposa, a Igreja, na Jerusalém celeste: “Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco antes de sofrer; pois Eu vos digo que já não mais a comerei até que ela se cumpra no Reino de Deus” (Lc 22,15-16). O Apocalipse, fazendo eco às palavras do Senhor, proclama: “Felizes aqueles que foram convidados para o Banquete das núpcias do Cordeiro” (19,9). Participar da Ceia do Senhor é não somente participar da Ceia que Jesus Cristo celebrou como memorial de Sua Paixão, Morte e Ressurreição, mas também já antecipar e saborear, na força do Espírito Santo, a Ceia do Banquete celeste, quando o próprio Esposo, Jesus, será o alimento eterno para Sua Esposa. Em outras palavras: é uma Ceia que começa na terra e durará no Céu, por toda a eternidade! Assim canta a Liturgia: “Ó sagrado Banquete, em que de Cristo nos alimentamos. Celebra-se o memorial de Sua Paixão, o espírito é repleto de graça e se nos dá o penhor da Glória”. Neste mesmo sentido, São João Paulo II afirmava: “A Eucaristia é verdadeiramente um pedaço de Céu que se abre sobre a terra; é um raio de Glória da Jerusalém celeste, que atravessa as nuvens da nossa história e vem iluminar o nosso caminho” (Ecclesia de Eucharistia, n. 19.)

No Antigo Testamento, além dos holocaustos (figuras do Sacrifício que Cristo ofereceu e se torna presente em cada Eucaristia), conheciam-se também os sacrifícios de comunhão: neles se oferecia uma parte da vítima no altar e a outra parte era consumida num banquete pelos fiéis na presença do Senhor, significando que o Senhor e o fiel comiam da mesma comida, de modo que o homem alimentava-se à mesa de Deus, a criatura participava da Vida do Criador, pois, para os orientais, comer à mesma mesa significa participar da mesma vida, da mesma sorte, significa ser amigos (cf. Lv 7,11-21; 22,29-30). Tudo isto era preparação para a comunhão que o Senhor queria estabelecer conosco, uma comunhão inimaginável, estupenda: Ele próprio daria o Seu Filho, morto e ressuscitado, pleno do Espírito Santo, como nosso alimento, como Vida de nossa vida!

Então, participar do Banquete eucarístico é participar da Vida que o próprio Deus entregou ao Seu Filho ao ressuscitá-Lo dos mortos: “Deus nos deu a Vida eterna e esta Vida está em Seu Filho! Quem tem o Filho, tem a Vida” (1Jo 5,11). É por isso que Jesus, nosso Senhor, disse claramente: “Em verdade em verdade vos digo: se não comerdes a Carne do Filho do homem e não beberdes o Seu Sangue, não tereis a Vida em vós” (Jo 6,53). Eis, que mistério tão grande e tão santo: participar do Pão e do Vinho eucarísticos é entrar em comunhão de Vida com Aquele que é Imolado e Ressuscitado, com o Cordeiro eternamente imolado por nós! Participar das Espécies eucarísticas, das Coisas santas, é receber a própria Vida, aquela que o Salvador Jesus recebeu na Sua Ressurreição, aquela Vida que estava junto do Pai e que nos apareceu (cf. 1Jo 1,2). Cada participação na Eucaristia é uma transfusão de Vida eterna que recebemos, até que a consumemos na Glória!

Comungar no Corpo e no Sangue do Senhor, Cabeça da Igreja, é também entrar em comunhão com os irmãos que formam a Igreja. Nós somos “con-corpóreos” e “con-sanguíneos” uns dos outros porque todos temos um só corpo (o Corpo de Cristo) e temos um só sangue (o Sangue de Cristo). Somos irmãos carnais, irmãos de Sangue, irmãos eucarísticos: “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o Sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o Corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão” (1Cor 10,16s). No Banquete eucarístico acontece a comunhão entre nós e Cristo e, por Ele, a comunhão entre nós, no único Espírito Santo de Cristo ressuscitado.

Santo Agostinho afirmava: “Se sois o Corpo e os membros de Cristo, é o vosso sacramento que é colocado sobre a Mesa do Senhor; recebeis o vosso sacramento. Respondeis ‘Amém’ àquilo que recebeis, e confirmais ao responder. Ouvis esta palavra: ‘O Corpo de Cristo’, e respondeis: ‘Amém’. Sede, pois, um membro de Cristo, para que o vosso Amém seja verdadeiro”. Assim, o Pão e o Vinho eucarísticos, que foram cristificados pela ação do Espírito do Ressuscitado, edificam a Igreja: neste santo Banquete nos tornamos sempre mais Corpo do Senhor, Igreja do Senhor: “Olhai com bondade a oferenda da Vossa Igreja, reconhecei o Sacrifício que nos reconcilia Convosco e concedei que, alimentando-nos com o Corpo e Sangue do Vosso Filho, sejamos repletos do Espírito Santo e nos tornemos em Cristo um só corpo e um só espírito” (Oração Eucarística III).

Ora, é o Espírito do Cristo morto e ressuscitado recebido em comunhão, que nos faz ser um só corpo e um só espírito, que é a Igreja. Assim se exprimia o diácono Santo Efrém: “(Cristo) chamou o pão Seu Corpo vivo, encheu-o de Si próprio e do Seu Espírito. E aquele que o come com fé, come Fogo e Espírito. Tomai e comei-O todos; e, com Ele, comei o Espírito Santo. De fato, é verdadeiramente o Meu Corpo, e quem O come viverá eternamente”. Por tudo isso, a participação no Banquete eucarístico nos compromete profundamente com a vida da Igreja, de modo que quem não quer viver como Igreja-comunidade em comunhão não pode participar da Eucaristia, que é “sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade”, mais forte que todo pecado, todo isolamento e toda divisão.

Além do mais, a participação e comunhão nas mesmas Espécies eucarísticas, Corpo e Sangue do Senhor, compromete-nos, na caridade de Cristo, com os irmãos carentes e sofredores, sobretudo com os pobres. São João Crisóstomo ensinava assim: “Degustaste o Sangue do Senhor e não reconheces sequer o teu irmão. Desonras esta própria Mesa, não julgando digno de compartilhar do teu alimento aquele que foi julgado digno de participar desta Mesa. Deus te libertou de todos os teus pecados e te convidou para esta Mesa. E tu, nem mesmo assim, te tornaste mais misericordioso”.

Por tudo isso, é absolutamente incompreensível que alguém participe da Missa sem comungar, a não ser em casos realmente extraordinários e justificáveis! O Sacrifício eucarístico tende para esta comunhão entre nós e o Cristo, que se consuma quando comungamos! Repetimos: somente por razões gravíssimas devemos nos abster da comunhão! E nestes casos, o Senhor sabe suprir essa carência com a Sua graça e a Sua misericórdia! Caso contrário, temos a obrigação de amor e de sede de Vida de procurar o sacramento da Penitência e nos reconciliar com Cristo e a Igreja, de modo a participar plenamente do Banquete eucarístico! Certamente, há casos em que o mais aconselhável é não receber a comunhão... Mas aí não é por desleixo ou descaso, mas por coerência e coragem de quem é maduro para assumir que está em alguma situação particularmente problemática em relação ao Evangelho. É o caso, por exemplo, dos que estão unidos em segunda união já sendo casados sacramentalmente e o primeiro cônjuge ainda esteja vivo. Nesses casos, o Senhor também vem a esses irmãos e para eles, pois conhece a sua história e vê o seu coração. É preciso recordar que, se a Igreja está ligada aos sacramentos, o Senhor não está: Ele é o Senhor dos sacramentos e pode vir com a Sua graça de modo desconhecido e inesperado para nós. É bom recordar também que aqui não se trata de julgar os outros ou dizer que alguém não é digno de comungar! Quem de nós é digno? Quem ousaria pensar-se digno do Senhor? A Igreja, ao invés, nos ensina a dizer, antes de cada comunhão: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada!” A regra, no entanto, é clara: o quanto possível, comungar sempre, em cada Eucaristia da qual participarmos!

Terminemos este texto com as palavras da Liturgia de São João Crisóstomo: “Ó Filho de Deus, faz-me hoje participante do Teu místico Banquete. Não entregarei o Teu Mistério aos Teus inimigos nem Te darei o beijo de Judas. Mas, como o ladrão, eu Te digo: Recorda-Te de mim, Senhor, quando estiveres no Teu Reino!”.



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