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quinta-feira, 6 de agosto de 2020

I Catequese do Papa João Paulo II sobre a Confirmação

João Paulo II
Audiência Geral
Quarta-feira, 30 de setembro de 1998
A Confirmação como culminação da graça batismal

1. Neste segundo ano de preparação para o Jubileu do ano 2000, a redescoberta da presença do Espírito Santo leva-nos a dedicar uma atenção particular ao Sacramento da Confirmação (cfTertio millennio adveniente, 45). Como ensina o Catecismo da Igreja Católica, ele «completa a graça do Batismo... dá o Espírito Santo para nos enraizarmos mais profundamente na filiação divina, incorporar-nos mais solidamente em Cristo, tornarmos mais firme o laço que nos prende à Igreja, associar-nos mais à sua missão e ajudar-nos a dar testemunho da fé cristã pela palavra, acompanhada de obras» (n. 1316).
Com efeito, o Sacramento da Confirmação associa de maneira íntima o cristão à unção mesma de Cristo, a quem «Deus ungiu com o Espírito Santo» (At 10,38). Essa unção é evocada no nome mesmo de «cristão», que tem a sua origem no de «Cristo», tradução grega do termo hebraico «messias», que significa precisamente «ungido». Cristo é o Messias, o Ungido de Deus.
Graças ao selo do Espírito, conferido pela Confirmação, o cristão alcança a sua plena identidade e torna-se consciente da sua missão na Igreja e no mundo. «Antes de vos ter sido conferida essa graça - escreve São Cirilo de Jerusalém - não éreis suficientemente dignos deste nome, mas estáveis como que em caminho para vos tornardes cristãos» (Catech. myst., III, 4: PG 33, 1092).

2. Para compreender toda a riqueza de graça contida no Sacramento da Confirmação que, com o Batismo e a Eucaristia constitui o conjunto orgânico dos «Sacramentos da Iniciação Cristã», é preciso captar o seu significado à luz da história da salvação.
No Antigo Testamento, os profetas anunciam que o Espírito de Deus pousará sobre o Messias prometido (cfIs 11,2) e ao mesmo tempo será comunicado ao inteiro povo messiânico (cfEz 36,25-27; Jl 3,1-2). Na «plenitude dos tempos», Jesus é concebido por obra do Espírito Santo no seio da Virgem Maria (cfLc 1,35). Com a descida do Espírito sobre Ele, no momento do batismo no rio Jordão, é manifestado como o Messias prometido, o Filho de Deus (cfMt 3,13-17; Jo 1,33-34). Toda a sua vida se desenvolve numa total comunhão com o Espírito Santo, que Ele dá «sem medida» (Jo 3,34), como coroamento escatológico da sua missão segundo a sua promessa (cfLc 12,12; Jo 3,5-8; 7,37-39; 16,7-15; At 1,8). Jesus comunica o Espírito, «soprando» sobre os Apóstolos no dia da Ressurreição (cfJo 20,22) e depois com a solene e estupenda efusão no dia do Pentecostes (cfAt 2,1-4).
É assim que os Apóstolos, repletos de Espírito Santo, começam a «anunciar as grandes obras de Deus» (cfAt 2,11). Também aqueles que creem na sua pregação e se fazem batizar recebem «o dom do Espírito Santo» (At 2,38).
A distinção entre a Confirmação e o Batismo é claramente sugerida nos Atos dos Apóstolos, por ocasião da evangelização de Samaria. Filipe, um dos sete diáconos, anuncia a fé e batiza; depois, vêm os Apóstolos Pedro e João e impõem as mãos sobre os recém-batizados, para que recebam o Espírito Santo (At 8,5-17). De modo semelhante em Éfeso, o Apóstolo Paulo impõe as mãos sobre um grupo de neófitos «e o Espírito Santo desceu sobre eles» (At 19,6).

3. O Sacramento da Confirmação «perpetua de certo modo, na Igreja, a graça do Pentecostes» (CIC, 1288). O Batismo, ao qual a tradição cristã chama «porta da vida espiritual» (ibid., 1213), faz-nos renascer «da água e do Espírito» (cfJo 3,5), tornando-nos sacramentalmente participantes da morte e ressurreição de Cristo (cfRm 6,1-11). A Confirmação, por sua vez, torna-nos plenamente partícipes da efusão do Espírito Santo por parte do Senhor Ressuscitado.
O inseparável vínculo entre a Páscoa de Jesus Cristo e a efusão pentecostal do Espírito Santo exprime-se na íntima relação que une os Sacramentos do Batismo e da Confirmação. Esse íntimo ligame emerge também do fato que nos primeiros séculos a Confirmação constituía em geral «uma única celebração com o Batismo, formando com ele, segundo a expressão de São Cipriano, um “sacramento duplo”» (CIC, 1290). No Oriente, esta prática foi conservada até hoje, enquanto que no Ocidente, por múltiplas causas, se afirmou a celebração sucessiva e também normalmente distanciada dos dois sacramentos.
Desde os tempos apostólicos, a plena comunicação do dom do Espírito Santo aos batizados é significada de maneira eficaz pela imposição das mãos. Para melhor exprimir o dom do Espírito, muito cedo se acrescentou a ela uma unção de óleo perfumado, chamado «crisma». Com efeito, mediante a Confirmação, os cristãos consagrados com a unção no Batismo participam na plenitude do Espírito, do qual Jesus está repleto, a fim de que toda a vida deles efunda o «perfume de Cristo» (2Cor 2,15).

4. As diferenças rituais que, no decurso dos séculos, a Confirmação conheceu no Oriente e no Ocidente, segundo as diversas sensibilidades espirituais das duas tradições e em resposta a várias exigências pastorais, exprimem a riqueza do sacramento e o seu pleno significado na vida cristã.
No Oriente, este sacramento é chamado «Crismação», unção com o «crisma», ou «myron». No Ocidente, o termo Confirmação exprime o fortalecimento do Batismo enquanto revigoramento da graça mediante o sigilo do Espírito Santo. No Oriente, estando os dois sacramentos unidos, a «Crismação» é conferida pelo próprio presbítero que batiza, não obstante ele faça a unção com o crisma consagrado pelo Bispo (cfCIC, 1312). No rito latino, o ministro ordinário da Confirmação é o Bispo que, por razões graves, pode dar a sua faculdade a sacerdotes para isto deputados (cfCIC, 1313).
Deste modo, «a prática das Igrejas do Oriente sublinha mais a unidade da Iniciação Cristã. A da Igreja latina exprime com mais nitidez a comunhão do novo cristão com o seu Bispo, garante e servo da unidade da sua Igreja, da sua catolicidade e da sua apostolicidade; daí o laço com as origens apostólicas da Igreja de Cristo» (CIC, 1292).

5. De tudo aquilo que expusemos ressalta não só o significado da Confirmação no conjunto orgânico dos Sacramentos da Iniciação Cristã, mas também a insubstituível eficácia que ele tem em ordem à plena maturação da vida cristã. Um empenho decisivo da pastoral, a ser intensificado no caminho de preparação para o Jubileu, consiste em formar com todo o cuidado os batizados que estão a ser preparados para receber a Confirmação, introduzindo-os nas fascinantes profundezas do mistério que ela significa e atua. Ao mesmo tempo, deve-se ajudar os crismados a redescobrirem com alegre admiração a eficácia salvífica deste dom do Espírito Santo.


Fonte: Santa Sé

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