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quinta-feira, 9 de julho de 2020

V Catequese do Papa João Paulo II sobre a Eucaristia

João Paulo II
Audiência Geral
Quarta-feira, 25 de outubro de 2000
A Eucaristia abre ao futuro de Deus

Caríssimos irmãos e irmãs: 
1. “Pela Liturgia da terra participamos, saboreando-a já, na Liturgia celeste” (SC 8; cf. GS 38).
Estas palavras tão límpidas e essenciais do Concílio Vaticano II apresentam-nos uma dimensão fundamental da Eucaristia: o seu ser “futurae gloriae pignus”, penhor da glória futura, segundo uma bonita expressão da tradição cristã (cf. SC 47). “Este sacramento - observa S. Tomás de Aquino - não nos introduz imediatamente na glória, mas dá-nos a força de chegar à glória e, por isso, é chamado ‘viático’” (Summa Th. III, 79, 2, ad I). A comunhão com Cristo, que agora vivemos enquanto somos peregrinos a caminhar pelas estradas da história, antecipa o encontro supremo do dia em que “seremos semelhantes a Ele, porque O veremos tal como Ele é” (1Jo 3,2). Elias, que a caminho no deserto se sentou, privado de forças, debaixo de um junípero e foi revigorado por um pão misterioso até atingir o cume do encontro com Deus (cf1Rs 19,1-8), é um tradicional símbolo do itinerário dos fiéis, que no pão eucarístico encontram a força para caminhar rumo à meta luminosa da cidade santa.

2. É este também o sentido profundo do maná preparado por Deus aos pés do Sinai, “alimento dos anjos” capaz de proporcionar todas as delícias e de satisfazer todos os gostos, manifestação da ternura de Deus para com os seus filhos (cf. Sb 16,20-21). Será o próprio Cristo a fazer evidenciar este significado espiritual da vicissitude do êxodo. É Ele que nos faz pregustar na Eucaristia o dúplice sabor de alimento do peregrino e de comida da plenitude messiânica na eternidade (cf. Is 25,6). Para permutar uma expressão dedicada à Liturgia sabática hebraica, a Eucaristia é uma “amostra de eternidade no tempo” (A. J. Heschel). Assim como Cristo viveu na carne permanecendo na glória de Filho de Deus, assim também a Eucaristia é presença divina e transcendente, comunhão com o eterno, sinal da “compenetração da cidade terrena com a celeste” (GS 40). A Eucaristia, memorial da Páscoa de Cristo, é por sua natureza portadora do eterno e do infinito à história humana.

3. Este aspecto que abre a Eucaristia para o futuro de Deus, embora a deixe ancorada na realidade presente, é ilustrado pelas palavras que Jesus pronuncia sobre o cálice do vinho na Última Ceia (cfLc 22,20; 1Cor 11,25). Marcos e Mateus evocam naquelas mesmas palavras a aliança no sangue dos sacrifícios do Sinai (cf. Mc 14,24; Mt 26,28; Ex 24,8). Lucas e Paulo, ao contrário, revelam o cumprimento da “nova aliança” anunciada pelo profeta Jeremias: “Dias virão - oráculo do Senhor - em que firmarei nova Aliança com as casas de Israel e de Judá. Porém, será diferente da que concluí com os seus pais” (Jr 31,31-32). Com efeito, Jesus declara: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue”. “Novo”, na linguagem bíblica, indica normalmente progresso, perfeição definitiva.
Sempre Lucas e Paulo evidenciam que a Eucaristia é antecipação do horizonte de luz gloriosa própria do reino de Deus. Antes da Última Ceia, Jesus declara: “Tenho ardentemente desejado comer convosco esta páscoa, antes de padecer, pois digo-vos que já não a comerei até ela ter pleno cumprimento no reino de Deus. Tomando uma taça, deu graças e disse: ‘Tomai e reparti entre vós, pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira até chegar o reino de Deus’” (Lc 22,15-18). Também Paulo recorda de maneira explícita que a ceia eucarística está voltada para a última vinda do Senhor: “Sempre que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha” (1Cor 11,26).

4. O quarto evangelista, João, exalta esta tensão da Eucaristia para a plenitude do reino de Deus, dentro do célebre discurso sobre o “pão da vida” que Jesus pronunciou na sinagoga de Cafarnaum. O símbolo por Ele usado como ponto de referência bíblico é, como já foi acenado, o do maná oferecido por Deus a Israel peregrino no deserto. A propósito da Eucaristia, Jesus afirma solenemente: “Se alguém comer deste pão viverá eternamente (...). Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia (...). Este é o pão que desceu do Céu; não é como aquele que os vossos pais comeram, e morreram; o que come deste pão viverá eternamente” (Jo 6,51.54.58). A “vida eterna”, na linguagem do quarto evangelho, é a mesma vida divina que ultrapassa as fronteiras do tempo. A Eucaristia, sendo comunhão com Cristo, é portanto participação na vida de Deus, que é eterna e vence a morte. Por isso Jesus declara: “A vontade d'Aquele que Me enviou é esta: que Eu não perca nenhum daqueles que Ele Me deu, mas que Eu os ressuscite no último dia. Esta é a vontade de Meu Pai: que todo o homem que vê o Filho e n'Ele acredita tenha a vida eterna, e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia” (Jo 6,39-40).

5. Nesta luz - como dizia sugestivamente um teólogo russo, Sergej Bulgakov - "a Liturgia é o céu na terra". Por esta razão, na Carta Apostólica Dies Domini, repetindo as palavras de Paulo VI, exortei os cristãos a não negligenciarem “este encontro, este banquete que Cristo nos prepara no seu amor. Que a participação em tal celebração seja, ao mesmo tempo, digna e festiva. É Cristo, crucificado e glorificado, que passa entre os seus discípulos para conduzi-los todos juntos, consigo, na renovação da sua Ressurreição. É o ápice, aqui neste mundo, da Aliança de amor entre Deus o seu povo: sinal e fonte de alegria cristã, preparação para a Festa eterna” (n. 58; cfGaudete in Domino, Conclusão).


Fonte: Santa Sé

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