Páginas

quinta-feira, 23 de julho de 2020

I Catequese do Papa João Paulo II sobre o Batismo

Além das seis catequeses sobre a Eucaristia proferidas durante o Grande Jubileu do ano 2000, que publicamos nas últimas semanas, o Papa João Paulo II proferiu outras quatro catequeses sobre os demais sacramentos da Iniciação Cristã - o Batismo e a Confirmação - durante os anos preparatórios ao Jubileu.

Publicaremos aqui estas catequeses ao longo das próximas quintas-feiras:

João Paulo II
Audiência Geral
Quarta-feira, 01 de abril de 1998
O Batismo, fundamento da existência cristã

1. Segundo o Evangelho de Marcos, os últimos ensinamentos de Jesus aos seus discípulos apresentam juntos fé e Batismo, como única via de salvação: «Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não acreditar será condenado» (16,16). Também Mateus, ao referir o mandato missionário que Jesus dá aos Apóstolos, sublinha o nexo entre pregação do Evangelho e Batismo: «Ide, pois, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo» (28,19).
Em conformidade com estas palavras de Cristo, Pedro no dia de Pentecostes, ao dirigir-se ao povo para exortá-lo à conversão, convida os seus ouvintes a receber o Batismo: «Convertei-vos e peça cada um o Batismo em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos seus pecados; recebereis, então, o dom do Espírito Santo» (At 2,38). A conversão, portanto, não consiste só numa atitude interior, mas implica também o ingresso na comunidade cristã através do Batismo, que opera a remissão dos pecados e insere no Corpo místico de Cristo.

2. Para captar o sentido profundo do Batismo é preciso meditar de novo o mistério do Batismo de Jesus, no início da Sua vida pública. Trata-se dum episódio à primeira vista surpreendente, porque o Batismo de João, que Jesus recebeu, era um Batismo de «penitência», que dispunha o homem a receber a remissão dos pecados. Jesus sabia bem que não tinha necessidade daquele Batismo, sendo perfeitamente inocente. Certo dia, Ele dirá em tom de desafio aos seus adversários: «Qual de vós me acusará de pecado?» (Jo 8,46).
Na realidade, ao submeter-se ao Batismo de João, Jesus recebe-o não para a própria purificação, mas em sinal de solidariedade redentora com os pecadores. No seu gesto batismal está ínsita uma intenção redentora, pois Ele é «o cordeiro [...] que tira o pecado do mundo» (Jo 1,29). Mais tarde chamará «Batismo» à sua paixão, experimentando-a como uma espécie de dimensão no sofrimento, aceite com a finalidade redentora para a salvação de todos: «Tenho de receber um Batismo, e que angústias as minhas até que se realize!» (Lc 12,50).

3. No Batismo no Jordão, Jesus não só anuncia o empenho do sofrimento redentor, mas obtém também uma especial efusão do Espírito, que desce em forma de pomba, isto é, como Espírito da reconciliação e da benevolência divina. Esta descida preludia o dom do Espírito Santo, que será comunicado no Batismo dos cristãos.
Além disso, uma voz celeste proclama: «Tu és o Meu filho muito amado, em ti pus toda a minha complacência» (Mc 1,11). É o Pai que reconhece o próprio Filho e exprime o vínculo de amor que o une a Ele. Na realidade, Cristo está unido ao Pai por uma relação singular, porque Ele é o Verbo eterno, «consubstancial ao Pai». Contudo, em virtude da filiação divina conferida pelo Batismo, pode-se dizer que para cada pessoa batizada e inserida em Cristo, ainda ressoa a voz do Pai: «Tu és o meu filho muito amado».
No Batismo de Cristo encontra-se assim a fonte do Batismo dos cristãos e da sua riqueza espiritual.

4. São Paulo ilustra o Batismo sobretudo como participação nos frutos da obra redentora de Cristo, ressaltando a necessidade de renunciar ao pecado e iniciar uma vida nova. Escreve aos romanos: «Ignorais, porventura, que todos nós, que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Pelo Batismo sepultamo-nos juntamente com Ele, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, mediante a glória do Pai, assim caminhemos nós também numa vida nova» (Rm 6, 3-4).
Precisamente porque imerge no mistério pascal de Cristo, o Batismo cristão tem um valor muito superior aos ritos batismais hebraicos e pagãos, que eram abluções destinadas a significar a purificação, mas incapazes de cancelar os pecados. O Batismo cristão, ao contrário, é um sinal eficaz, que opera realmente a purificação das consciências, comunicando o perdão dos pecados. Ele, além disso, confere um dom muito maior: a nova vida de Cristo ressuscitado, que transforma de maneira radical o pecador.

5. Paulo revela o efeito essencial do Batismo, quando escreve aos gálatas: «Todos os que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo» (Gl 3,27). Existe uma semelhança fundamental do cristão com Cristo, que implica o dom da filiação divina adoptiva. Precisamente porque «batizados em Cristo», os cristãos são a título especial «filhos de Deus». O Batismo produz um verdadeiro «renascimento».
A reflexão de Paulo une-se à doutrina transmitida pelo Evangelho de João, de modo especial ao diálogo de Jesus com Nicodemos: «Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne, é carne, e o que nasceu do Espírito, é espírito» (3,5-6).
«Nascer da água» é uma clara referência ao Batismo, que desse modo resulta um verdadeiro nascimento do Espírito. Nele, de fato, é dado ao homem o Espírito da vida que «consagrou» a humanidade de Cristo desde o momento da Encarnação e que Cristo mesmo efundiu, em virtude da sua obra redentora.
O Espírito Santo faz nascer e crescer no cristão uma vida «espiritual», divina, que anima e eleva todo o seu ser. Através do Espírito, a própria vida de Cristo produz os seus frutos na existência cristã.
Dom e mistério grande é o do Batismo! É para desejar que todos os filhos da Igreja, especialmente neste período de preparação para o evento jubilar, tomem cada vez mais profunda consciência disto.


Fonte: Santa Sé

Nenhum comentário:

Postar um comentário