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terça-feira, 2 de junho de 2020

Jubileu dos Migrantes no ano 2000

No dia 02 de junho do ano 2000, no contexto do Grande Jubileu, o Papa João Paulo II celebrou a Santa Missa na Praça de São Pedro por ocasião do Jubileu dos Migrantes e Itinerantes.

Como podemos deduzir da homilia do Santo Padre, foi celebrada a Missa pelos refugiados e exilados.

Jubileu dos Migrantes e Itinerantes
Homilia do Papa João Paulo II
02 de junho de 2000

1. “Perseverai no amor fraterno. Não vos esqueçais da hospitalidade” (Hb 13,1-2).
O trecho da Carta aos Hebreus que acabamos de ouvir vincula a exortação de hospitalidade ao hóspede, ao peregrino, ao forasteiro, ao mandamento do amor, síntese da nova lei de Cristo. “Não vos esqueçais da hospitalidade!”. Esta mensagem ressoa de maneira particular hoje, caríssimos migrantes e itinerantes, enquanto celebramos este especial Jubileu.
Saúdo-vos com grande afeto e agradeço-vos ter respondido em tão grande número ao meu convite e àquele do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes. Saúdo de maneira particular Dom Stephen Fumio Hamao, Presidente do vosso Pontifício Conselho, e agradeço-lhe as palavras que no início da celebração me dirigiu em vosso nome. Juntamente com ele, saúdo o Secretário, o Subsecretário, os colaboradores e quantos contribuíram para a realização desta importante manifestação espiritual.
No meio de vós há migrantes de vários países e continentes; refugiados que escaparam de situações de violência, enquanto pedem que os seus direitos fundamentais sejam respeitados; estudantes estrangeiros, desejosos de qualificar a sua formação científica e tecnológica; marítimos e aviadores, que trabalham ao serviço de quem viaja de navio ou de avião; turistas, interessados em conhecer ambientes, costumes e tradições diferentes; nômades, que desde há séculos percorrem os caminhos do mundo; pessoal circense, que às praças leva atrações e sadia diversão. A todos e a cada um, transmito o meu abraço mais cordial.
A vossa presença aqui recorda que o próprio Filho de Deus, que veio habitar no meio de nós (cf. Jo 1,14), se fez migrante: Ele fez-se peregrino no mundo e na história.

2. “Vinde vós, os abençoados por meu Pai... porque... Eu era estrangeiro e me recebestes” (Mt 25,34-35).
Jesus afirma que só se entra no Reino de Deus praticando o mandamento do amor. Portanto, nele se entra não em virtude de privilégios raciais e culturais, nem sequer religiosos, mas sim realizando a vontade do Pai que está nos céus (cf. Mt 7,21).
O vosso Jubileu, caríssimos migrantes e itinerantes, exprime com singular eloquência o lugar fulcral que a caridade da hospitalidade deve ocupar no seio da Igreja. Assumindo a condição humana e histórica, Cristo uniu-se de certa forma a cada homem. Recebeu cada um de nós e, no mandamento do amor, pediu-nos que imitássemos o seu exemplo, ou seja, que nos acolhêssemos reciprocamente, como Ele nos recebeu (cf. Rm 15,7).
A partir do momento em que o Filho de Deus “ergueu a sua tenda no meio de nós”, cada homem se tornou de certa maneira o “lugar” do encontro com Ele. Receber Cristo no irmão e na irmã provados pela necessidade é a condição para O poder encontrar “face a face” e de modo perfeito no final do caminho terrestre.
Por conseguinte, é sempre atual a exortação do autor da Carta aos Hebreus: “Não vos esqueçais da hospitalidade, pois é graças a ela que algumas pessoas sem saber acolheram anjos” (Hb 13,2).

3. Hoje faço minhas as palavras do meu venerado predecessor, o Servo de Deus Paulo VI que, na homilia de encerramento do Concílio Ecumênico Vaticano II, afirmava: “Para a Igreja Católica não há ninguém que seja estranho, ninguém que seja excluído, ninguém que esteja longe” (Homilia, 08 de dezembro de 1965). Na Igreja - escreve desde o início o Apóstolo dos pagãos - não há estrangeiros, nem hóspedes, mas concidadãos dos santos e familiares de Deus (cf. Ef 2,19).
Infelizmente, ainda não faltam no mundo atitudes de egoísmo e até mesmo de rejeição, devidas a temores injustificados e ao fechamento nos próprios interesses. Trata-se de discriminações incompatíveis com a pertença a Cristo e à Igreja. Pelo contrário, a comunidade cristã é chamada a difundir no mundo o fermento da fraternidade, daquela convivência das diferenças que também hoje, neste nosso encontro, nos é dado experimentar.
Sem dúvida, numa sociedade como a nossa, complexa e caracterizada por multíplices tensões, a cultura da hospitalidade exige que se sigam leis e normas prudentes e clarividentes, que permitam valorizar o caráter positivo da mobilidade humana, prevendo as suas possíveis manifestações negativas. E isto para fazer com que cada pessoa seja efetivamente respeitada e recebida.
Ainda mais na época da globalização, a Igreja tem uma proposta específica a fazer: atuar para que este nosso mundo, do qual às vezes se deseja falar como de uma “aldeia global”, seja verdadeiramente unido, mais solidário e mais hospitaleiro. Eis a mensagem que esta celebração jubilar quer fazer chegar a todas as partes: o homem e o respeito dos seus direitos sejam colocados sempre no centro dos fenômenos da mobilidade.

4. Depositária de uma mensagem salvífica universal, a Igreja sente que uma das suas tarefas primárias é proclamar o Evangelho a cada homem e a todos os povos. Desde quando Cristo ressuscitado enviou os Apóstolos a anunciarem o Evangelho até aos confins da terra, os seus horizontes são os do mundo inteiro. O cenário multiétnico, pluricultural e multirreligioso do Mediterrâneo foi aquele em que os primeiros cristãos começaram a reconhecer-se e a viver como irmãos, enquanto filhos de Deus.
Hoje não é já somente o Mediterrâneo, mas o inteiro planeta que se abre às complexas dinâmicas de uma fraternidade universal. A vossa presença aqui em Roma, caríssimos irmãos e irmãs, salienta como é importante que este fenômeno de crescimento humano seja constantemente iluminado por Cristo e pelo seu Evangelho de esperança. É nesta perspectiva que devemos continuar a empenhar-nos, sustentados pela graça divina e pela intercessão dos grandes Santos padroeiros dos migrantes: de Santa Francisca Xavier Cabrini ao Beato João Batista Scalabrini. Estes Santos e Beatos recordam qual é a vocação do cristão no meio dos homens: caminhar com eles como irmão, compartilhar as suas alegrias e esperanças, as suas dificuldades e sofrimentos. Assim como os discípulos de Emaús, também os fiéis sustentados pela presença viva de Cristo ressuscitado se fazem, por sua vez, companheiros de caminho dos seus irmãos em dificuldade, oferecendo-lhes a Palavra que reacende a esperança nos seus corações. Partem com eles o pão da amizade, da fraternidade e da ajuda recíproca. É assim que se edifica a civilização do amor. É desta forma que se anuncia o almejado advento dos céus novos e da nova terra, rumo aos quais nos encontramos a caminho.
Invoquemos a intercessão destes Santos Padroeiros para todos aqueles que fazem parte da grande família dos migrantes e dos itinerantes. Invoquemos de modo especial a proteção de Maria, que nos precedeu na peregrinação da fé, para que oriente os passos de cada homem e de cada mulher que busca a liberdade, a justiça e a paz. Seja ela a acompanhar as pessoas, as famílias e as comunidades itinerantes. Oxalá ela suscite a cordialidade e o acolhimento nos ânimos dos residentes; seja Ela a favorecer a formação de relações de recíprocas compreensão e solidariedade entre quantos sabem que são chamados a participar no futuro na mesma alegria na casa do Pai celeste! Amém.


Fonte: Santa Sé

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