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sábado, 9 de maio de 2020

Homilia: V Domingo de Páscoa - Ano A

São Cipriano de Cartago
Carta 63
 Os sacramentos vitais

Sempre que nas Escrituras se menciona somente a água, se proclama o Batismo, como o vemos significado em Isaías: Não recordeis, diz, os tempos antigos. Vede que realizo algo novo; já está brotando, não percebeis? Abrirei um caminho pelo deserto, rios no ermo; para apagar a sede de meu povo, de meu escolhido, o povo que eu formei para que proclamasse as minhas maravilhas. Nesta passagem Deus preanuncia por meio do profeta que entre os pagãos, em lugares anteriormente áridos, nasceriam rios torrenciais e apagaria a sede de seu povo escolhido, isto é, dos filhos que nasceriam para Deus pela geração do Batismo.
Novamente se prediz e se preanuncia que se os judeus tivessem sede e buscassem a Cristo, se saciariam conosco, ou seja, conseguiriam a graça do Batismo. Se tivessem, diz, sede no deserto, os conduzirá às águas, fará brotar água da rocha, fenderá a rocha e manará água e meu povo beberá. O qual tem seu pleno cumprimento no Evangelho, quando Cristo, que é a rocha, fende-se a golpe de lança na Paixão. Ele mesmo, referindo-se ao que muito antes havia predito o profeta, proclama dizendo: O que tenha sede, que venha a mim; o que crê em mim, beba. Como disse a Escritura: De suas entranhas manarão rios de água viva. E para que ficasse mais claro ainda que aqui o Senhor não fala do cálice, mas do Batismo, acrescenta a Escritura: Dizia isto referindo-se ao Espírito que haveriam de receber os que cressem nele.
Pelo Batismo se recebe o Espírito Santo e, uma vez batizados e recebido o Espírito Santo, são admitidos a beber do cálice do Senhor. Que ninguém estranhe que, ao falar do Batismo, a Escritura divina diga que temos sede e que bebemos, visto que o próprio Senhor declara no Evangelho: Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois o que se recebe com avidez e ansiedade se toma com maior plenitude e abundância. Além do mais, na Igreja sempre se tem sede e sempre se bebe o cálice do Senhor.
Não são necessários muitos argumentos para demonstrar que, sob o apelativo de água, designa-se sempre o Batismo e que assim devemos entendê-lo, pois que o Senhor ao vir ao mundo nos revelou a verdade do Batismo e do cálice. O que mandou dar aos crentes, no Batismo, a água da fé, a água da vida eterna, nos ensinou com o exemplo de seu magistério que o cálice deve estar integrado de uma mistura de vinho e água. Pois, à véspera de sua Paixão, tomou o cálice, o abençoou e o deu aos seus discípulos, dizendo: Bebei todos vós, porque este é o sangue da aliança derramado por muitos para o perdão dos pecados. E vos digo que não beberei mais do fruto da vide até o dia em que beberei convosco o vinho novo no reino de meu Pai.
Deste texto se deduz que o cálice que o Senhor ofereceu era um cálice misturado, e o que ele chama sangue era vinho. É evidente, portanto, que não se oferece o sangue de Cristo se falta vinho no cálice; nem ocorre celebração santa e legítima do divino sacrifício se nossa oferenda e nosso sacrifício não estão em sintonia com a Paixão do Senhor. E como poderíamos beber com Cristo no reino do Pai do novo fruto da vide, se no sacrifício de Deus Pai e de Cristo não oferecemos vinho, nem mesclamos o cálice do Senhor, de acordo com a tradição que Ele nos legou?


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 103-105. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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