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sábado, 30 de maio de 2020

Homilia: Solenidade de Pentecostes

Santo Agostinho
Tratado sobre a 1ª Carta de São João
 Pergunta ao teu coração se existe nele lugar para o amor fraterno

Este é o seu mandamento: que creiamos no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e que nos amemos uns aos outros. Logo percebes que este é o seu mandamento; percebes que quem age contra este mandamento comete pecado, pecado de que carece aquele que nasceu de Deus. Tal como Ele nos ordenou: que nos amemos mutuamente. Percebes que não nos ordena outra coisa, a não ser que nos amemos uns aos outros. Quem guarda seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele; nisto conhecemos que permanece em nós: pelo Espírito que nos deu.
Acaso não é evidente que a obra do Espírito Santo no homem é que nele está a dileção e o amor? Acaso não é evidente o que diz o Apóstolo Paulo: O amor de Deus foi derramado em nossos corações com o Espírito Santo que nos foi dado? Falava, pois, do amor e dizia que devemos interrogar nosso coração na presença de Deus. No caso de que não nos condene nossa consciência, isto é, se dá testemunho de que o amor fraterno é a fonte de tudo o que de bom existe em nossas obras.
Acrescentamos ainda que, falando do mandamento, João diz: E este é o seu mandamento: que creiamos no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e que nos amemos uns aos outros. Quem guarda seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele; nisto conhecemos que permanece em nós: pelo Espírito que nos deu. Realmente, se comprovas possuir a caridade, possuis o Espírito de Deus para compreender, o qual é muito necessário.
Nos primeiros tempos, o Espírito Santo descia sobre os crentes e falava em línguas que não tinham aprendido, cada um na língua que o Espírito lhe sugeria. Eram sinais apropriados aos tempos, porque era muito conveniente que o Espírito Santo fosse significado por este dom da universalidade das línguas, já que através de todas as línguas iria difundir-se o Evangelho de Deus por todo o orbe da terra. Uma vez que isto foi significado, o sinal passou.
Acaso hoje esperamos que aqueles sobre quem se impõem as mãos para que recebam o Espírito Santo se ponham a falar em línguas? Ou será que, quando impusemos as mãos a estas crianças, estava cada um de vós inclinado a ver se falariam em línguas? E ao comprovar que não falavam em línguas, houve algum de vós de coração tão perverso que dissesse: “Estes não têm recebido o Espírito Santo, porque, se houvessem recebido, falariam em línguas como aconteceu naquela ocasião”? E se agora não se comprova a presença do Espírito Santo mediante este tipo de milagres, o que fazer, como conhecer que alguém recebeu o Espírito Santo?
Que cada um interrogue o seu coração: se ama ao irmão, o Espírito Santo permanece nele. Que veja e se examine aos olhos de Deus, que veja se ama a paz e a unidade, se ama a Igreja difundida por toda a terra. Que não ame somente ao irmão que tem diante de si, porque são muitos os irmãos que não vemos e aos quais estamos vinculados na unidade do Espírito. Há algo de estranho que não estejam conosco? Formamos um só corpo, temos uma só cabeça no céu. Portanto, se queres saber se recebeste o Espirito Santo, pergunta ao teu coração, não aconteça que tenhas o sacramento e te falte a virtude do sacramento. Pergunta ao teu coração se nele há um lugar para o amor fraterno, e fica tranquilo. Não pode haver amor sem o Espírito de Deus, visto que Paulo exclama: O amor de Deus foi derramado em nossos corações com o Espírito Santo que nos foi dado.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 114-115. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também outra homilia de Santo Agostinho para esta Solenidade clicando aqui.

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