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sexta-feira, 3 de abril de 2020

VII Catequese do Papa sobre as Bem-aventuranças

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 01 de abril de 2020
Bem-aventuranças (7)

Caros irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, lemos juntos a sexta bem-aventurança, que promete a visão de Deus e tem a pureza de coração como condição.
Um Salmo diz: “Meu coração repete o seu convite: ‘Procure meu rosto!’. Seu rosto, Senhor, eu procuro. Não escondais de mim o teu rosto” (27,8-9).
Essa linguagem manifesta a sede de um relacionamento pessoal com Deus, não mecânico, nem um pouco nebuloso, não, mas algo pessoal, que também o livro de Jó expressa como sinal de um relacionamento sincero. Assim diz o livro de Jó: “Eu o conhecia apenas por ter ouvido falar, mas agora meus olhos te viram” (Jó 42,5). E muitas vezes eu penso que esse é o caminho da vida, em nossos relacionamentos com Deus, conhecemos a Deus de ouvir falar, mas com nossa experiência caminhamos adiante, avante, avante e no fim o conheceremos diretamente se formos fiéis... E essa é a maturidade do Espírito.
Como podemos chegar a essa intimidade, conhecer Deus com nossos olhos? Pode-se pensar nos discípulos de Emaús, por exemplo, que têm o Senhor Jesus ao lado deles, “mas seus olhos foram impedidos de reconhecê-lo” (Lc 24,16). O Senhor abrirá os olhos no final de uma jornada que culmina na fração do pão e começou com uma repreensão: “Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo o que anunciaram os profetas! (Lc 24,25). Essa é a repreensão do começo. Aqui está a origem da cegueira deles: seu coração tolo e lento. E quando o coração é tolo e lento, as coisas não são vistas. As coisas são vistas como nubladas. Aqui está a sabedoria dessa bem-aventurança: para poder contemplar é necessário entrar em nós e abrir espaço para Deus, porque, como diz Santo Agostinho, “Deus é mais íntimo para mim do que eu” (“interior intimo meo”: Confissões , III, 6.11). Para ver Deus, não há necessidade de trocar de óculos ou ponto de observação, nem de mudar autores teológicos que ensinam o caminho: você deve libertar seu coração de seus enganos! Esta estrada é a única.
Este é um amadurecimento decisivo: quando percebemos que nosso pior inimigo está frequentemente escondido em nossos corações. A batalha mais nobre é aquela contra os enganos interiores que geram nossos pecados. Porque os pecados mudam a visão interior, mudam a avaliação das coisas, mostram coisas que não são verdadeiras, ou pelo menos que não são tão verdadeiras.
Portanto, é importante entender o que é “pureza do coração”. Para fazer isso, deve-se lembrar que, para a Bíblia, o coração não consiste apenas em sentimentos, mas é o lugar mais íntimo do ser humano, o espaço interior onde a pessoa é ela mesma. Isso, de acordo com a mentalidade bíblica.
O mesmo Evangelho de Mateus diz: “Se a luz que está em você são trevas, quão grandes serão as trevas!” (6,23). Essa “luz” é o olhar do coração, a perspectiva, a síntese, o ponto em que a realidade pode ser lida (cf. Exortação Apostólica Evangelii gaudium, 143).
Mas o que significa coração “puro”? O puro de coração vive na presença do Senhor, guardando em seu coração o que é digno do relacionamento com ele; somente assim tem uma vida “unificada”, linear, não tortuosa, mas simples.
O coração purificado é, portanto, o resultado de um processo que implica libertação e renúncia. O puro de coração não nasceu como tal, experimentou uma simplificação interior, aprendendo a negar em si mesmo o mal, o que na Bíblia é chamado de circuncisão do coração (cf. Dt 10,16; 30.6; Ez 44,9; Jr 4,4).
Essa purificação interior implica o reconhecimento daquela parte do coração que está sob a influência do mal – “Sabe, padre, sinto-me assim, penso assim, vejo assim, e isso é ruim”: reconhecer a parte ruim, a parte que é nublada pelo mal – para aprender a arte de sempre deixar-se ensinar pelo Espírito Santo.O caminho do coração doente, do coração pecaminoso, do coração que não pode ver bem as coisas, porque está no pecado, para a plenitude da luz do coração é obra do Espírito Santo. É ele quem nos guia neste caminho. Eis, através deste caminho do coração, chegamos a “ver Deus”.
Nesta visão beatífica há uma futura dimensão, escatológica, como em todas as Bem-aventuranças: é a alegria do Reino dos Céus para onde estamos indo. Mas há também a outra dimensão: ver Deus significa entender os desígnios da Providência no que acontece conosco, reconhecer sua presença nos Sacramentos, sua presença nos irmãos, especialmente os pobres e os que sofrem, e reconhecê-lo onde Ele se manifesta (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2519).
Essa bem-aventurança é um pouco o fruto das anteriores: se ouvimos a sede do bem que vive em nós e temos consciência de viver em misericórdia, começa uma jornada de libertação que dura a vida inteira e leva ao céu. É um trabalho sério, um trabalho que o Espírito Santo faz se lhe dermos espaço para fazê-lo, se estivermos abertos à ação do Espírito Santo. Por esse motivo, podemos dizer que é uma obra de Deus em nós – nas provações e purificações da vida – e essa obra de Deus e do Espírito Santo leva a grande alegria, à verdadeira paz. Não tenhamos medo, abramos as portas do nosso coração ao Espírito Santo para que Ele nos purifique e nos leve adiante neste caminho em direção à plena alegria.


Fonte: Canção Nova

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