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terça-feira, 24 de março de 2020

Missa do Papa com os jovens da Terra Santa - Jubileu 2000

No dia 24 de março do ano 2000, no contexto do Grande Jubileu, o Papa João Paulo II celebrou a Santa Missa com os jovens da Terra Santa na igreja do Monte das Bem-aventuranças como parte da sua peregrinação à Terra Santa.

Como podemos deduzir da homilia do Santo Padre, foi celebrada a Missa votiva do lugar:
 
Missa com os jovens no Monte das Bem-Aventuranças
Homilia do Papa João Paulo II
Monte das Bem-Aventuranças, Korazim (Israel)
24 de março de 2000

Irmãos... vede bem quem sois!” (1Cor 1,26).
1. Hoje estas palavras de São Paulo dirigem-se a todos nós que viemos aqui ao Monte das Bem-aventuranças. Encontramo-nos sentados sobre esta colina, como os primeiros discípulos, à escuta de Jesus. No silêncio, ouvimos a sua voz suave e urgente, tão suave como esta mesma terra e tão urgente quanto a chamada a escolher entre a vida e a morte.
Quantas gerações que nos precederam ficaram profundamente sensibilizadas ao ouvirem o Sermão da Montanha! Quantos jovens ao longo dos séculos se reuniram à volta de Jesus para aprenderem as palavras da vida eterna, precisamente como hoje vos encontrais congregados aqui! Quantos jovens corações foram inspirados pelo poder da sua personalidade e pela premente verdade da sua mensagem! É maravilhoso que vos encontreis aqui!


Agradeço-lhe, Dom Pierre Mouallem, a sua amável hospitalidade. Peço-lhe a gentileza de transmitir a minha sincera saudação à inteira comunidade greco-melquita à qual Vossa Excelência preside. Faço extensivos os meus votos fraternos aos numerosos Cardeais, ao Patriarca Sabbah, aos Bispos e sacerdotes aqui reunidos. Saúdo os membros das comunidades Latina, Maronita, Síria, Armênia e Caldeia, assim como todos os nossos irmãos e irmãs das outras Igrejas cristãs e comunidades eclesiais. Dirijo uma especial palavra de agradecimento aos nossos amigos muçulmanos que se encontram aqui, e aos membros da fé hebraica.
Este grandioso encontro é como que um ensaio para a Jornada Mundial da Juventude, que se há de realizar em Roma no próximo mês de agosto! Jovens de Israel, dos territórios da Palestina, da Jordânia e do Chipre, jovens do Oriente Médio, da África e da Ásia, da Europa, da América e da Oceania! Saúdo cada um de vós com afeto e amor!

2. Os primeiros que ouviram as Bem-aventuranças de Jesus traziam no coração a lembrança de outro monte, o Sinai. Há precisamente um mês, tive a graça de ir ali, onde Deus falou a Moisés e comunicou a Lei, “escrita pelo dedo de Deus” (Ex 31,18) em tábuas de pedra. Estas duas montanhas, o Monte Sinai e o Monte das Bem-aventuranças, oferecem-nos o itinerário da nossa vida cristã e um sumário das nossas responsabilidades perante Deus e o próximo. Juntas, a Lei e as Bem-aventuranças traçam o caminho do seguimento de Jesus e a vereda real para a maturidade e liberdade espirituais.
Os Dez Mandamentos do Sinai podem parecer negativos: “Não terás outros deuses diante de mim... não matarás. Não cometerás adultério. Não roubarás. Não apresentarás falso testemunho...” (Ex 20,3.13-16). Mas na realidade eles são extremamente positivos. Indo para além dos males mencionados, eles indicam o caminho para a lei do amor, que é o primeiro e maior de todos os mandamentos:  “Amarás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento... Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,37.39). Jesus mesmo disse que veio não para abolir a lei, mas para a completar (cf. Mt 5,17). A sua mensagem é nova mas não destrói o que a precede; antes, leva aquilo que existe à sua plena potencialidade. Jesus ensina que o caminho do amor leva a Lei ao seu cumprimento (cf. Gl 5,14). E Ele ensinou esta verdade extremamente importante nesta montanha, aqui na Galileia.

3. “Felizes de vós!”, diz Ele, “felizes todos os pobres em espírito, os mansos e os misericordiosos, os aflitos, os que têm fome e sede de justiça, os que são puros de coração, os que promovem a paz e os perseguidos! Felizes de vós!”. As palavras de Jesus podem parecem esquivas. É estranho que Jesus exalte aqueles que o mundo geralmente considera frágeis. Ele diz-lhes: “Felizes de vós que pareceis derrotados, porque sois os verdadeiros vencedores, os autênticos vencedores: o reino do céu é vosso!”. Pronunciadas por Ele, que é “manso e humilde de coração” (Mt 11,29), estas palavras apresentam um desafio que exige uma profunda e permanente metanoia do espírito, uma grande transformação do coração.
Vós, jovens, compreendereis por que motivo esta mudança de coração é necessária! Porque estais conscientes de que há outra voz dentro de vós e ao vosso redor, uma voz contraditória. Trata-se de uma voz que diz: “Felizes os soberbos e violentos, aqueles que progridem custe o que custar, os que não têm escrúpulos, os impiedosos e os desonestos, aqueles que promovem a guerra e não a paz, os que perseguem as pessoas que se lhes apresentam como obstáculo ao longo do caminho”. E parece que esta voz tem sentido num mundo onde os violentos com frequência triunfam e os desonestos dão a impressão de alcançar o sucesso. “Sim”, diz a voz do mal, “são eles que hão de vencer. Felizes deles!”.

4. Jesus transmite uma mensagem muito diferente. Não distante deste lugar, chamou os seus primeiros discípulos, da mesma forma que agora vos chama a vós. A sua chamada sempre exigiu uma escolha entre as duas vozes que concorrem para conquistar o vosso coração até mesmo agora, aqui nesta montanha: a voz entre o bem e o mal, entre a vida e a morte. Os jovens do século XXI que voz preferem seguir? Depositar a vossa fé em Jesus significa escolher acreditar naquilo que Ele diz, por mais estranho que isto possa parecer, e escolher a rejeição das pretensões do mal, por mais sensíveis ou atraentes que elas possam ser.
Em última análise, Jesus não só proclama as Bem-aventuranças. Ele vive as Bem-aventuranças. Ele é as Bem-aventuranças. Olhando para Ele, descobrireis o que significa ser pobre em espírito, manso e misericordioso, aflito, ter fome e sede de justiça, ser puro de coração, promover a paz, ser perseguido. Eis por que Ele tem o direito de dizer: “Vinde, segui-me!”. Ele não diz simplesmente: “Fazei o que vos digo!”, mas sim: “Vinde, segui-me!”.
Vós escutais a sua voz nesta montanha e acreditais naquilo que Ele diz. Todavia, assim como os primeiros discípulos no Mar da Galileia, também vós deveis abandonar as vossas barcas e redes, e isto nunca é fácil, sobretudo quando deveis enfrentar um futuro incerto e sois tentados a perder a confiança na vossa herança cristã. No mundo de hoje, ser um bom cristão pode parecer algo que está acima das vossas forças. Mas Jesus não fica a olhar, deixando que enfrenteis sozinhos este desafio. Ele está sempre convosco para transformar a vossa debilidade em fortaleza. Confiai n'Ele, quando diz:  “Basta-te a minha graça, pois é na fragilidade que a força manifesta todo o seu poder” (2Cor 12,9)!

5. Os discípulos passaram muito tempo com o Senhor. Eles O conheceram e O amaram profundamente. Descobriram o significado daquilo que, certa vez, o Apóstolo Pedro disse a Jesus: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna (Jo 6,68). Descobriram que as palavras de vida eterna são as palavras do Sinai e as palavras das Bem-aventuranças. E esta foi a mensagem que eles espalharam em toda a parte.
No momento da sua Ascensão, Jesus confiou aos seus discípulos uma missão e esta certeza: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto, ide e fazei com que todos os povos se tornem meus discípulos... Eis que Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28,18-20). Durante dois mil anos, os seguidores de Cristo cumpriram esta missão. Agora, no alvorecer do Terceiro Milênio, compete a vós realizá-la. Cabe a vós ir pelo mundo fora para anunciar a mensagem dos Dez Mandamentos e das Bem-aventuranças. Quando Deus se pronuncia, fala de coisas que têm a máxima importância para cada pessoa, para as populações do século XXI, em não menor medida do que para aquelas do século I. Os Dez Mandamentos e as Bem-aventuranças falam da verdade e da bondade, da graça e da liberdade, de tudo o que é necessário para entrar no Reino de Cristo. Agora, cabe a vós ser corajosos apóstolos desse Reino!
Jovens da Terra Santa, jovens do mundo inteiro: respondei ao Senhor, respondei ao Senhor com um coração disponível e aberto! Disponível e aberto como o coração da maior filha da Galileia, Maria, a Mãe de Jesus. Como foi que Ela respondeu? Ela disse: “Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38).
Ó Senhor Jesus Cristo, neste lugar que vós conhecestes tão bem e muito amastes, escutai estes corações jovens e generosos! Continuai a ensinar a estes jovens a verdade dos Mandamentos e das Bem-aventuranças! Transformai-os em jubilosas testemunhas da vossa verdade e em convictos apóstolos do vosso Reino! Permanecei sempre com eles, de modo especial quando se torna difícil e exigente seguir a Vós e o Evangelho! Vós sereis a sua força e vitória!
Ó Senhor Jesus, fizestes destes jovens vossos amigos: conservai-os sempre próximos de Vós! Amém!


Fonte: Santa Sé.

Observação: A cruz “invertida” impressa na cadeira faz referência ao Apóstolo Pedro, do qual o Papa é Sucessor enquanto Bispo de Roma. Segundo a tradição, Pedro teria sido crucificado de cabeça para baixo no circo de Nero.

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